Por paloma.savedra
Rio - A frieza e o desprezo pela vida alheia demonstrados por Sailson José das Graças, de 26 anos, apontado como ‘serial killer’ após confessar a autoria de 43 assassinatos por ‘puro prazer’ na Baixada, mobilizaram dezenas de moradores da região que foram à porta da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) protestar contra o criminoso, na tarde desta sexta-feira. Amontoados em frente à unidade, muitos o hostilizavam e tentaram agredi-lo no momento em que era transferido para a Polinter, na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte do Rio.
“Não quero que vá para a prisão! Quero que morra e vá para o inferno!”, gritava uma mulher. Outros, mais exaltados, chegaram a desferir chutes contra a viatura. Foi necessário reforço policial para conter a revolta popular. De acordo com a Polícia Civil, Sailson, conhecido como ‘Monstro de Corumbá’, já é o principal suspeito de sete homicídios e uma tentativa de assassinato.
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De acordo com o delegado Marcelo Machado, responsável pelo caso, os crimes serão investigados em inquéritos independentes. O bandido continuará a ser ouvido durante o final de semana, quando deve ser realocado em uma penitenciária. O psicopata também passou por exames no IML de Nova Iguaçu. Contudo, policiais ainda se mostram reticentes em relação a algumas das confissões.
Sailson foi transferido da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense nesta tarde para a PolinterSeverino Silva / Agência O Dia

“Ele afirmou sentir prazer enquanto golpeava as mulheres a ponto de se masturbar diante dos cadáveres. A possibilidade de estar mentindo quando diz que nunca estuprou as vítimas, com medo de represálias dos outros presos na cadeia, não está descartada. Afinal, já esteve detido e sabe bem como o estupro é visto no sistema prisional”, afirmou o policial em relação às três passagens anteriores de Sailson por penitenciárias por roubo, furto e porte de arma.

Até a noite desta sexta, a delegacia continuava a receber denúncias por outras execuções e violências sexuais. O número final de homicídios também é alvo de dúvidas. Pela manhã, foi a vez de Cleusa Balbina de Paula, presa com Sailson, ser transferida para um presídio feminino. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, Cleusa irá para a Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.

O casal e José Messias — também preso — mantinham um triângulo amoroso e moravam juntos na mesma casa, no bairro de Corumbá, em Nova Iguaçu. Segundo Sailson, as vítimas eram, preferencialmente, mulheres brancas, cruelmente golpeadas com facas.

Cleusa foi transferida da DH para uma unidade prisional na tarde desta sexta-feira%3B ela é suspeita de ter participado de alguns crimes com o companheiro SailsonSeverino Silva / Agência O Dia
‘Estava mais bonita no dia que matei’
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O comportamento de Sailson nos depoimentos continua impressionando até os policiais. “Durante o reconhecimento das vítimas, em meio a 20 outras fotos, ele foi preciso em apontar a mulher morta e comentar: ‘Mas, no dia em que matei, ela estava muito mais bonita’”, contou o delegado. Ainda de acordo com o policial, Sailson só demonstra remorso ao falar da execução de uma criança de 2 anos, por ter chorado enquanto a mãe tentava se defender das facadas.
Pouco mais de 24 horas após ser preso, Sailson se mostrava mais comunicativo. “Durante o depoimento, ele pede cigarros como ‘barganha’ por informações. Passou uma noite tranquila e continua a detalhar as mortes, garantir que sentiu prazer e admitir que voltará a matar caso seja solto”, relatou.
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Intervalo entre os crimes 'protegeu' matador, diz delegado

Força-tarefa de policiais
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O fato de Sailson nunca ter sido investigado, apesar do grande número de crimes que diz ter cometido nesses nove anos, foi justificado pelo delegado Pedro Medina, titular da DHBF. “Ele nunca foi descoberto por conta do lapso temporal entre as mortes e pelos registros dos casos terem sido distribuídos por algumas distritais, como Duque de Caxias, Belford Roxo e Nova Iguaçu”.
Casa de Sailson%2C que fica em rua deserta do bairro de Corumbau%2C estava com os portões abertos%3B vizinhos de assassino temem sua liberdadeDiego Valdevino / Agência O Dia

O medo de familiares de prestar depoimentos por conta de ameaças vindas de grupos paramilitares e de traficantes também dificultou o trabalho dos policiais. “Eram muitas as hipóteses ventiladas no bairro do Corumbá, em Nova Iguaçu, onde ele costumava agir”, explicou. Antes de revelada a identidade, o assassino em série era chamado de ‘Monstro do Corumbá’ pela vizinhança, apavorada.

Para identificar quais registros de ocorrências, de fato, podem ser atribuídos ao criminoso, uma força-tarefa de dez agentes da DHBF irá investigar nas delegacias da região. “Este tipo de trabalho é árduo e, atualmente, pode ser concentrado na Divisão de Homicídios da Baixada. Antes, porém, os documentos ficavam diluídos, espalhados, e fatos como este podiam ocorrer”, completou. No total, 40 homens estão dedicados ao caso, do total de 150 homens com os quais conta a delegacia.

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Moradores temem volta
Mesmo com a prisão de Sailson José das Graças, vizinhos do criminoso, que morava numa pequena casa alugada na Rua Tomáz Schwediner 188, em Corumbá, Nova Iguaçu, estão apavorados e apreensivos. Eles temem que Sailson, ao deixar a prisão, volte ao bairro para cometer mais crimes, principalmente contra mulheres. “Ele foi preso várias vezes e sempre acaba solto. Quem garante que daqui a uns cinco ou seis anos ele não estará na rua novamente cometendo outros crimes?”, indagou uma jovem, que mora a aproximadamente 50 metros da casa de Sailson.
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Deserta, a rua vive também um ambiente de revolta. Ontem pela manhã, mesmo com a casa desocupada (o ex-marido de Cleusa Balbina retirou objetos do imóvel), alguns moradores ainda falavam em destruir a residência, enquanto outros desistiam da ideia, já que o local é alugado. “A dona da casa não tem nada com isso”, gritou um morador.
Alguns vizinhos, que evitavam falar sobre o assunto, apenas se limitavam a dizer que Sailson e Cleusa, que também moravam com José Messias, ex-namorado da acusada, gostavam de beber na porta de casa.
Já para a dona de casa D., de 47 anos, 32 deles vividos na rua, o maníaco era visto como uma ‘péssima companhia’ e que gostava de ‘analisar’ as mulheres do bairro.
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“Quando veio morar aqui e soubemos que já tinha sido preso, ficamos assustados. Ele sempre tinha alguma coisa por trás, mas achávamos que ele era um ladrão, não um assassino em série. Nós cumprimentávamos ele, que nunca respondia. Sempre observava muito as mulheres”.