Por thiago.antunes
Rio - O anúncio feito pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia de que processará a empresa Construir, responsável pela limpeza da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) causou espanto em seu diretor-geral, Júlio Diniz. “É um absurdo, soa como piada! Como podem me processar se não recebo o pagamento de alguns funcionários desde agosto? Quero receber e ver meus funcionários de volta ao batente. Além disto, não sou eu quem os ordenou para que ficassem em casa. Eles não tiveram mais dinheiro para custear a ida para o trabalho”, argumentou.
Estudante e pesquisadores foram pegos de surpresa ao encontrarem os portões do campus fechadosAlexandre Vieira / Agência O Dia

De acordo com ele, além dos pagamentos dos meses de novembro e dezembro e do décimo terceiro salário, pesam as contribuições com INSS. “Cansei de tirar do meu bolso e emitir nota de pagamento, mesmo sem receber nada, mas cheguei ao limite”, explicou Diniz.

A decisão revoltou alunos que chegaram a realizar ato, na quarta-feira, em apoio aos trabalhadores, espelhando lixo pelo chão da universidade. “É criminoso mover um processo, mesmo devendo”, esbravejou a aluna de direito, Luciana Felippo. A secretaria argumentou que a empresa “interrompeu intempestivamente os serviços sem qualquer espécie de comunicação formal à Uerj, criando riscos à instituição”.

Certeza de prejuízo para todas as partes
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A certeza é de prejuízo para todas as partes afetadas pela crise financeira que assola a universidade. Enquanto a instituição decidiu, na tarde desta quinta, processar a empresa responsável pela limpeza do campus Maracanã, mesmo mantendo alguns dos funcionários terceirizados sem receber desde outubro, outras unidades da universidade sentem os reflexos da paralisação.

Processos e editais de concursos que se encontravam em trâmite sofrerão atrasos em seus despachos. É o caso do Colégio de Aplicação, que sofre com o déficit de professores desde o início do ano. Inconformados, alunos que foram impedidos de entrar ontem no campus declaravam apoio “irrestrito e ainda maior aos funcionários terceirizados”.

Hall de entrada da Uerj%3A lixo pelo chão em protesto contra atraso de saláriosFoto do leitor

Foi o caso do estudante de Medicina Vinicius Costa, que se frustrou ao saber que as portas só serão reabertas em 5 de janeiro. “Vim fazer uma prova. Como fica meu ano letivo agora?”, questionava. Exaltados, alguns colegas dele realizaram breve protesto na porta devido à proibição. Apenas funcionários com crachá eram liberados.

Por indefinição semelhante passava o diretor do CAP-Uerj, Lincoln Tavares. “Mantivemos o funcionamento, mas os documentos que se encontram na Uerj estão parados. Tememos um efeito cascata que acarrete na demora da efetivação dos novos concursados”, explicou. Por lei, o colégio precisa ter um número mínimo de profissionais contratados.
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A Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia informou que já providenciou o início da limpeza da universidade. Em nota, o reitor Ricardo Vieiralves de Castro manifestou sua confiança no governo do estado e reiterou que a decisão pelo recesso foi tomada para impedir riscos desnecessários à integridade da instituição. O valor do déficit seria, conforme o comunicado oficial, de R$ 23 milhões, causado pela diminuição do volume de recursos repassados à instituição.
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