Por bianca.lobianco
Rio - É um prédio imponente situado na Rua Estácio de Sá 20. A entrada e saída de viaturas é constante. Na porta, há uma guarita com dois homens. Trata-se do Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), que fica em frente ao Complexo de São Carlos, uma área considerada de risco.
O local é usado exclusivamente por militares e seus parentes, evidentemente, fragilizados por alguma doença ou trauma. É para lá que vão as dezenas de policiais baleados em serviço por mês. Porém, se engana quem pensa que é um local seguro. Qualquer um entra, qualquer um sai, sem ser abordado, sem ser identificado, exigência mínima em qualquer unidade de saúde. À noite, os corredores ganham ares de cidade fantasma, o que faz dos pacientes alvos fáceis. O DIA constatou a fragilidade em dois dias de visita à unidade.
É fácil chegar a qualquer setor do HCPM%2C sem ser abordado por ninguémDiego Valdevino / Agência O Dia

Nas duas incursões, três homens da equipe de reportagem entraram de carro com vidros com película escura. Chega a ser estranho que não seja necessário nem sequer abrir o vidro do veículo para entrar. A cancela fica constantemente aberta. Já dentro do hospital, a equipe teve acesso a várias alas de dois andares, sem que ninguém questionasse a presença. Durante uma hora, o repórter fez selfies nos corredores, onde há câmeras com o propósito de segurança.

A única ‘proteção’ encontrada foi uma corrente de plástico em frente a um corredor que leva à parte principal do hospital, inclusive às enfermarias, onde estão internados policiais. A corrente era facilmente retirada por qualquer um, já que a recepção ao lado estava vazia nas duas visitas do DIA. A equipe passou pela Emergência, Sala de Medicamentos, Raio X, Laboratório, Enfermarias, setor de Mamografia, Endoscopia, Quimioterapia e Tomografia, onde só não entrou para não comprometer o ambiente médico. Mas o acesso estava completamente livre.

O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Vanderlei Ribeiro, critica a situação: “O sistema está falido! Tem que reformular tudo. O hospital tem subsídio do SUS, mas não presta conta. E o policial tem desconto no salário para ter direito. Além da segurança, faltam médicos e enfermeiros”, acrescentou.

Diante da fragilidade flagrada, O DIA alertou à PM, sexta-feira, que reforçasse o policiamento nas unidades de saúde da corporação hoje, dia da publicação desta reportagem.

Niterói: Cone no lugar de portão e só um policial 

Se no Rio o acesso ao Hospital da Polícia Militar é extremamente fácil, a situação não muda na unidade de Niterói. Às 5h, a entrada principal, que não tem nem portão, era limitada por um cone derretido. Impressiona o descaso com a segurança, até na chegada de carros.

Lá, a cancela também estava levantada, permitindo o acesso de qualquer veículo. Um único policial na guarita estava entretido com jogo no celular. Era possível ouvir o som do aparelho. Ele não percebeu movimentação diferente nem mesmo quando foi fotografado durante o jogo.

Policial na entrada da unidade de Niterói jogava no celular e sequer percebeu que era fotografadoOswaldo Reis / Ag. News

Em Niterói, o HPM fica na Rua Martins Torres, bem próximo ao Morro do Martins, outra área considerada de risco, onde há constantes tiroteios.

Dentro da unidade, ainda de madrugada, cerca de 50 policiais ou parentes aguardavam numa fila as senhas para atendimento. Os números foram distribuídos por volta das 6h. Os médicos começariam a atender às 10h.

“Quem vem do interior tem que acordar antes da meia-noite para conseguir atendimento. Isso não tem nenhum cabimento. É muita exposição ao perigo. É constrangedor ficar esperando atendimento nestas condições”, informou Vanderlei Ribeiro, do sindicato, enfatizando que os problemas são antigos.

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“Precisamos de alguém que entenda de gestão para resolver este problema. Nossa esperança de solução está nos novos rumos da corporação. Tudo indica que a situação vai melhorar”, explicou.
Melhorias previstas para janeiro
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A equipe do DIA acompanhou, no dia 8 de novembro, o comandante-geral da PM, coronel Ibis Silva, durante visita ao HCPM, quando foram constatados problemas. Mais de um mês depois, a reportagem voltou à unidade para checar se a situação tinha sido resolvida. E ficou surpresa com a ausência de controle na entrada e circulação no hospital.
Ao ser questionada e alertada pelo DIA, devido à vulnerabilidade dos pacientes e de funcionários, a assessoria limitou-se a dizer em nota: “As medidas relacionadas à saúde da PM fazem parte de uma série de mudanças a serem implementadas pelo coronel Alberto Pinheiro Neto a partir de janeiro e serão divulgadas no momento oportuno.”
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Mais proteção em São Paulo
A situação é diferente no Hospital Central da PM em São Paulo, segundo o ex-secretário Nacional de Segurança José Vicente. Ele conta que a unidade paulista, que fica na Avenida Nova Cantareira, no bairro de Tucuruvi, na Zona Norte, fica longe de comunidades onde há tráfico, o que diminui o risco de invasão.
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“Ele é moderno, e a abordagem já começa na entrada. Há uma portaria que fica a 200 metros do prédio da unidade e um segurança acompanha o visitante até o setor específico”, destacou o especialista, que fez um alerta: “A PM do Rio é alvo de facções. Tem que haver reforço imediato nos hospitais”, sugere.
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