Por tiago.frederico
Rio - O secretário estadual de Transportes Carlos Roberto Osório classificou o episódio envolvendo dois trens da SuperVia, em Mesquita, na noite desta segunda-feira, como "um acidente que não pode acontecer em hipótese alguma". Em entrevista ao "Bom Dia Rio", na manhã desta terça-feira, Osório disse, em nome do governador Luiz Fernando Pezão, que uma "investigação rigorosa" será realizada para apurar as causas da tragédia onde pelo menos 229 pessoas ficaram feridas. Os maquinistas envolvidos no acidente prestarão depoimento na tarde desta terça.
O secretário também prometeu "tomar as providências cabíveis para punir os responsáveis e garantir que acidentes como esse não voltem a acontecer no Rio". Nesta manhã, a SuperVia disse, em nota, que ela e a Agetransp (agência reguladora dos transportes públicos estaduais) farão uma sindicância para apurar a causa da colisão e que os resultados serão divulgados em 30 dias.
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"Nós acionamos o plano de contingência imediatamente. Eu imediatamente fui para o Centro de Controle da SuperVia acionar todo o sistema. A investigação começou naquele momento. Os técnicos da Agetransp [agência reguladora dos transportes públicos estaduais] estavam no local recolhendo materiais e nós podemos garantir o seguinte: o governador Pezão garantiu à população do Rio de Janeiro que nós vamos fazer uma investigação rigorosa, temos os dados para levantar as causas do acidente e nós vamos dar uma punição gravíssima aos operários", afirmou o secretário.

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Osório disse que ainda não é possível dizer as causas do acidente. Segundo ele, "o cálculo depende de uma avaliação, são uma série de fatores que serão levados em consideração, como o testemunho do maquinista, o levantamento de todas as informações coletadas pelos equipamentos eletrônicos ou se houve uma falha coletiva, uma falha individual, ou uma soma de fatores".

"Nós temos todos os dados, os equipamentos eletrônicos dos trens registram o que aconteceu ao longo da viagem. Nós vamos verificar o funcionamento da sinalização e o procedimento da torre da central de comando da SuperVia, se houve alguma falha durante esse processo. O acidente é de extrema gravidade, tivemos muitos feridos e não podemos permitir que acidentes como esse voltem a acontecer. Por isso a nossa determinação, primeiro, com tranquilidade e independência, definir o que aconteceu e a partir daí poder tomar as providências cabíveis para punir os responsáveis e garantir que acidentes como esse não voltem a acontecer no Rio", disse o secretário, que afirmou que "houve uma falha gravíssima que não poderia ter acontecido".
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"Não podemos minimizar o tamanho deste acidente. Houve uma falha, uma falha inadmissível, um trem parado, abalroado por outro no mesmo sentido, numa reta. Eu estive no local, a sinalização é próxima e nós temos que entender o que aconteceu. A compreensão do que aconteceu de maneira isenta e a punição rigorosa é o caminho para evitar que novos acidentes aconteçam", falou o secretário estadual de Transportes, em entrevista.
"O maquinista será ouvido, ele não se feriu, está em condição de prestar depoimento e também vamos ouvir os passageiros nessa investigação, porque os passageiros podem dar o relato do que aconteceu ao longo do trajeto. E o mais importante. Para resolvermos um problema, temos que olhar de frente pra ele. Não podemos minimizar este incidente, um incidente extremamente grave e nós vamos até as últimas consequências", garantiu.
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"Importante também dizer. Um grande investimento está sendo feito nesse momento na SuperVia. Novos trens estão chegando, 52 trens vão chegar até o final do ano e todos os trens antigos serão retirados de circulação. O trem que estava parado é um trem muito antigo. O trem que causou o acidente, que vinha em sua direção e bateu atrás, havia sido reformado há menos de três anos, ou seja, era um trem antigo e que foi requalificado. É muito importante chegar à conclusão do que houve para punir os responsáveis e o mais importante evitar que isso aconteça novamente", concluiu Carlos Roberto Osório.
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Maquinistas irão depor nesta tarde na delegacia
Os dois maquinistas envolvidos no acidente prestarão depoimento na tarde desta terça-feira, na 53ªDP (Mesquita), delegacia que está investigando o caso. Segundo a Polícia Civil, um supervisor da SuperVia e uma vítima já foram ouvidos pelos policiais. Um inquérito foi instaurado para apurar o acidente que foi registrado como crime de lesão corporal e os agentes requisitaram imagens de câmeras de monitoramento instaladas nos trens e na estação para análise.
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Presidente da SuperVia responsabiliza o tempo e o Governo do Estado
Em entrevista à rádio CBN, na manhã desta terça-feira, o presidente da Supervia, Carlos José Cunha, disse que a colisão entre os dois trens é injustificável, no entanto, ele encontrou algumas explicações para a tragédia. Um dos fatores que teria contribuído para o acidente seriam as condições meteorológicas na Baixada Fluminense.
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"Em função de problemas que nós tivemos, pelas condições meteorológicas, de raios, principalmente na região de Austin, Engenheiro Pedreira, Japeri, isso já nos obrigava a trafegar com velocidade reduzida", alegou Cunha.
Outro assunto amplamente discutido na entrevista de Cunha à emissora foi o Automatic Train Protection (ATP), um sistema de sinalização que a concessionária deveria ter instalado em todos os seus trens há um ano, mas que até hoje só está presente nas composições que circulam no ramal Deodoro. A compra da tecnologia foi anunciada pela SuperVia em 2013. Para tal, foi feito um investimento de R$ 150 milhões por parte da concessionária, que prometeu, na época, oferecer redução do intervalo entre os trens em até 50% nos horários de maior movimento da manhã e da noite e maior segurança à circulação.
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“O ATP regula a velocidade do trem e reforça a segurança da circulação, calculando a distância necessária para que as paradas sejam feitas de forma adequada e respeitando os sinais da via férrea. A sinalização atual é segura, mas pretendemos revitalizar o sistema ferroviário do Rio de Janeiro com esse avanço na sinalização, somado à entrada em operação dos 20 trens encomendados pela SuperVia junto à Alstom e as demais 60 composições licitadas pelo Governo, previstas para 2014”, explicou João Gouveia, diretor de Operações da SuperVia, em janeiro de 2013.
O presidente da SuperVia culpou o Governo do Estado pela ausência do ATP em todas as composições, alegando que houve atraso na entrega dos novos trens. De acordo com o presidente da concessionária, a tecnologia que garantiria maior segurança nos trilhos só pode ser instalada nas novas composições e o governo estadual demorou para entregá-las. Além disso, ele disse que há a necessidade de treinar os maquinistas, o que levaria tempo. Contudo, Cunha prometeu que todos os trens da SuperVia terão a tecnologia instalada até o meio de 2015.
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Ainda na entrevista, Carlos José Cunha falou da indenização das vítimas do acidente. Segundo ele, este "é um processo que corre normalmente". "Nós damos toda a assistência, reforçamos nossa área de assistência social. Estamos com nossas assistentes sociais em todos os hospitais tentando falar com todos. Estamos mobilizados para dar toda assistência às famílias", afirmou.
Sindicância
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A SuperVia afirma que, na manhã dessa terça-feira, será formada uma Comissão de Sindicância, com a participação da Agência Reguladora, para apurar as causas do acidente, que serão divulgadas em 30 dias. A equipe do Serviço Social da concessionária continua acompanhando o estado dos feridos junto aos Hospitais.
A Agetransp (agência reguladora dos transportes públicos estaduais) divulgou nota afirmando que abrirá um boletim de ocorrência para apurar as causas do acidente na Baixada Fluminense. "Técnicos da agência reguladora foram para o local para dar início à apuração das circunstâncias do acidente. Eles também avaliam a qualidade do atendimento prestado às vítimas e aos usuários do sistema pela concessionária Supervia", afirmou a agência, que disse que os procedimentos adotados pela concessionária para o restabelecimento da operação no ramal também serão avaliados.