Por thiago.antunes
Rio - Antes problemas apenas de bairros da periferia de Nova Iguaçu, a falta d’água atingiu de vez a região do Centro, onde nos últimos cinco anos foram erguidos mais de 20 empreendimentos de grande porte, como condomínios residenciais e comerciais, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas. A escassez da água tem afetado, além das torneiras, secas, o valor da taxa de condomínio. O motivo: compra diária de caminhões-pipas.
Caminhões-pipas abastecem diariamente condomínios do CentroEstefan Radovicz / Agência O Dia

“Pago R$ 706 na taxa, que acaba aumentando em R$ 80 porque temos que dividir o valor da compra de caminhões. Um absurdo, pois sofremos no bolso por causa da incompetência da Cedae”, disse revoltada a estudante de odontologia Rosângela Batista, de 58 anos. Ela é uma das donas dos 452 apartamentos de um condomínio da Rua Juiz Alberto Nader, no Centro de Nova Iguaçu, que chega a comprar até 12 caminhões-pipas por dia.

Na mesma rua, a doméstica Lourdenet do Nascimento Soares, de 53, teve que mudar sua rotina para se adequar ao problema. “Estou comprando água de caminhão-pipa para não passar sufoco, pois não aguento mais ter que lavar roupa apenas uma vez na semana e tomar banhos de no máximo dois minutos”, contou.
Na Rua Doutor Mário Guimarães, no edifício Solar de Iguaçu, que possui 50 apartamentos em seus 12 andares, o preço do condomínio que era de R$ 470, segundo moradores, aumentou.

“São R$ 35 a mais na taxa. O pior é que muitos donos de caminhões têm se aproveitado do nosso sofrimento para lucrar com o abastecimento d’água. Cobravam R$ 350 e agora R$ 450”, lembrou o advogado Raimundo Pereira, 64.
Publicidade
Procurada, a Cedae afirmou que vai vistoriar a rede da região nos próximos dias em busca de algum vazamento encoberto ou obstrução que possa estar prejudicando o abastecimento. A companhia informa, porém, que alguns endereços podem estar com abastecimento intermitente devido ao aumento significativo do consumo por causa do calor (em média 30% no verão) e está realizando manobras na rede para reforçar o abastecimento. A companhia acrescentou que está investindo na melhoria do serviço em Nova Iguaçu.
Comerciantes lucram mais
Publicidade
Donos de caminhões-pipas tem lucrado com a seca na Baixada. De acordo com o motorista Washington Oliveira, dos 40 a 50 abastecimentos feito na região, 80% dele são no Centro de Nova Iguaçu. “A procura é tão grande que as vezes não dá tempo de abastecer a todos num só dia”, garantiu. 
O aposentado Robson Barreto compra oito galões d’água por semanaEstefan Radovicz / Agência O Dia


A procura por galões d’água de 20 litros também virou febre na região, principalmente próximo de condomínios de luxo. Num só depósito da Avenida Abílio Augusto Távora (antiga Estrada de Madureira), chegam a ser vendidos por dia cerca de 200 galões. “Compramos hoje (ontem) mais 250 para estocar e vender para todos”, disse a vendedora Andreia Gonçalves, 33. O aposentado Robson Barreto, 58, chega a comprar oito galões por semana. “É um gasto inevitável”, reclamou.

Publicidade