Por tiago.frederico
Rio - Durante pelo menos sete horas o Morro do Juramento, na Zona Norte, virou cenário de guerra e terror. Bandidos de facções rivais — Amigos dos Amigos (ADA) e Comando Vermelho (CV) — duelaram pelo comando do tráfico de drogas na região e levaram pânico aos moradores da comunidade e de bairros vizinhos, como Vicente de Carvalho e Tomás Coelho, entre a noite de sexta-feira e a madrugada deste sábado.
O ataque teria sido liderado por Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico na Pedreira, em Costa Barros, dominado pela ADA. Segundo moradores, pelo menos seis pessoas morreram no confronto — o número não foi confirmado pela polícia — e não há informações oficiais sobre feridos no confronto. Porém, o corpo de um homem foi encontrado pelo próprio irmão em um carrinho de supermercado.
Equipe do DIA flagrou homens armados circulando pelo morro ontem à tarde%3A clima era de tensão e medo entre os moradores%2C que denunciaram invasões a casas e comérciosSeverino Silva / Agência O Dia

O peixeiro Alcinei Leal de Freitas, de 39 anos, teria sido deixado pelos criminosos na madrugada de ontem, na esquina da Rua Tirapina com a Brício de Moraes. O irmãoe, Antônio Carlos Leal, 31, afirmou que Freitas era ‘apenas um viciado’ e que não pertencia a nenhuma facão. “Ele era trabalhador, mas largou tudo que tinha por conta das drogas. Nós aconselhávamos a largar esse mundo, chegamos a interná-lo numa clínica, mas não teve jeito. Estamos arrasados”, disse ele, no início da tarde, enquanto aguardava a perícia.

O DIA flagrou cinco veículos blindados da Polícia Militar subindo o morro e também homens armados rondando o local. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fizeram operação no local, mas, segundo a PM, ninguém foi preso e nenhum material foi apreendido. Já o 41º BPM (Irajá), responsável pelo patrulhamento na região, informou que o policiamento foi reforçado. Um helicóptero também sobrevoou a região.

Antônio reconheceu o corpo do irmão%3A ‘Ele era apenas um viciado’Severino Silva / Agência O Dia

Moradores disseram que o confronto teve início por volta das 19h de sexta-feira, quando cerca de 200 integrantes da ADA invadiram o morro e tomaram o comando da localidade conhecida como Rodo. Segundo relatos, a troca de tiros durou até duas horas da manhã. Várias explosões de granadas e rajadas de tiros foram ouvidas e balas traçantes cruzaram o céu da região. Ainda de acordo com moradores, os criminosos saquearam casas e estabelecimentos comerciais e roubaram celulares.

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Uma moradora que não quis se identificar disse que os bandidos impuseram “toque de recolher”. Ainda segundo ela, uma granada atingiu o muro de sua casa e tiros acertaram a janela de sua casa, mas ninguém se feriu. Outra moradora afirmou que os bandidos se esconderam na mata e também em casas.
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Estação de metrô é fechada
Com medo de novos ataques, uma técnica de enfermagem que não quis se identificar decidiu arrumar as malas e deixar o Juramento por tempo indeterminado. “Parecia que estava acabando o mundo. Era tiro e granada para tudo quanto é lugar. Fiquei embaixo da cama para me proteger. Isso aqui ainda vai ficar pior. Não quero passar por isso novamente. Vou ficar uns dias na casa de um amigo no Espírito Santo e não sei nem se volto”, afirmou.
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Morador da Rua Itapoá, um vendedor que não se identificou disse que há três dias não consegue dormir em casa por conta da situação. “Eles fizeram uma barricada na minha rua. Se passar por lá estarei no meio do fogo cruzado. Estou dormindo na casa de amigos”, conta.
Blindado do BOPE no Morro do Juramento%2C na Zona Norte do Rio. Veículo conhecido como 'caveirão' subiu favela em confronto contra traficantesSeverino Silva / Agência O Dia

Com a intensidade do tiroteio, a estação do Metrô de Tomás Coelho foi fechada na noite de sexta-feira, funcionando apenas para desembarque. Por volta das 20h ela foi reaberta e sábado funcionou normalmente. O clube do Sesi, em Vicente de Carvalho, também fechou as portas, reabertas horas depois.

Cristiane Santana Mendes teria sido ferida de raspão perto da casa onde mora, no Conjunto do Ipase, em Vicente de Carvalho. A bala que atingiu a vítima teria partido do Morro do Juramento, a cerca de um quilômetro de distância. Ela foi socorrida no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, medicada e liberada. 
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Na manhã de sexta-feira, uma mulher já tinha sido baleada durante um tiroteio entre bandidos do Juramento e policiais do Bope. Segundo a PM, os militares faziam uma operação de combate ao tráfico no local e foram recebidos a tiros e revidaram. No confronto, Mariari Nascimento de Oliveira foi atingida por bala perdida e os policiais socorreram a vítima, que foi levada para o Getúlio Vargas.