Por tiago.frederico
Rio - Para o secretário Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, com exceção do caso de Adrienne Solan do Nascimento, de 21 anos, baleada neste fim de semana durante operação policial na Rocinha, todos os outros casos de vítimas de bala perdida nos últimos dias são resultado de uma "nação de criminosos que se criou no Rio de Janeiro nos últimos 30, 40 anos". Em entrevista à Globo News, na manhã desta segunda-feira, Beltrame afirmou que o tráfico é produto de "pessoas que têm uma ideologia de facção, pessoas que têm desapego, uma irresponsabilidade com a vida humana, são pessoas que têm uma idolatria por armas".
Secretário de Segurança%2C José Mariano BeltrameBruno de Lima / Agência O Dia (arquivo)

"Dentro de seus redutos, que ainda não estão ocupados, eles [os traficantes] fazem efetivamente uso dessas armas, como quem faz uso de qualquer outro objeto, causando a morte de pessoas inocentes que estão fora do império, do reduto que eles comandam", afirmou o secretário. Segundo ele, as mortes em confronto policial são muito diferentes dos casos de bala perdida.

"A polícia, sem dúvida nenhuma, tem seus problemas, mas é muito importante, o questionamento seu e da sociedade pois essas balas perdidas foram provocadas por traficantes. Não foram em confrontos, com exceção desse caso da Rocinha nessa madrugada", salientou o secretário. Segundo ele, as Unidades de Polícia Pacificadora terminam com o que ele chama de "império dos traficantes".

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"Estamos entrando nesses impérios e terminando com isso. É o que as UPPs têm feito. Agora nós sabemos da situação do Chapadão, do Juramento, de Costa Barros, de Santa Cruz, da Baixada Fluminense, mas não podemos tomar atitudes exacerbadas, fazer uma ocupação e não poder sustentá-la. O que podemos fazer são operações, com efeito temporário. Isto sim está sendo feito e será feito no Juramento", falou Beltrame.
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Secretário coloca culpa nas fronteiras
Para o secretário, é responsabilidade do Governo Federal cuidar das fronteiras do país, afim de impedir que drogas e armas cheguem à capital fluminense. "Aquelas 11 armas apreendidas no Juramento são as inimigas do Rio de Janeiro, pois entram por nossas fronteiras totalmente desprotegidas armas e munições e cabe a nós aqui [no Rio] tentar minimizar esses problemas", falou.
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Ainda em relação às fronteiras, Beltrame disse que levou, junto com outros secretários de segurança de estados da região sudeste, um documento à Câmara dos Deputados e ao Senado que pedindo maior controle das fronteiras, mas, segundo ele, "até agora nada" foi feito. "Entregamos na mão do deputado Henrique Alves e do senador Renan Calheiros uma série de medidas, que inclusive abordava essa questão. Nós precisamos exatamente buscar controlar nossas fronteiras, porque quando acontecem os fatos, o questionamento sempre cai sobre a polícia porque existe exatamente hoje um reducionismo, das pessoas acharem que segurança pública é questão de polícia", disse.
"Quem pode ter dados esses tiros são menores, são pessoas que estão em estado vulnerável, são pessoas que usam uma arma sem o menor tipo de responsabilidade. Óbvio que isto está nas mãos de pessoas que não tem compromisso nenhum", completou.
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Beltrame acredita que o fluminense não se sente inseguro
José Mariano Beltrame acredita que a população do Estado do Rio não se sente insegura. "Se você olhar os números de homicídios, que são crimes contra a vida, eles diminuíram mais de 11%. Agora, nós não podemos atribuir ações totalmente inconsequentes, de pessoas que viveram sempre sob o estigma do tráfico, culpar exclusivamente a polícia. Nós precisamos de uma série de ações dentro dessas áreas, de perspectivas para essa juventude", falou.
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"O estado precisa concorrer com o tráfico em outras coisas do que deixar eles pegarem em arma. A polícia faz o seu trabalho. Agora nós não vamos entrar aleatoriamente no Juramento ou no Chapadão sem saber efetivamente o que fazer. Nós temos responsabilidades. Bandido não tem responsabilidade. Então, claro que a população tem que cobrar de quem tem responsabilidade", acrescentou Beltrame.
Para o secretário, a questão da segurança pública envolve não apenas a polícia, mas também uma série de atores, como "política de menores, uma mudança nas leis, uma atuação do Ministério Público, do poder judiciário, do sistema penitenciário e sim da polícia". "Se fosse a polícia que tivesse provocado essa bala perdida, talvez a população teria vindo para a rua queimar ônibus, mas ela não o faz porque o império que lá dentro está não permite que ela faça isso, não permite que ela venha reagir contra isso. E nós temos que entrar efetivamente e ocupar essas áreas, mas não vou ser leviano de dizer que nós vamos fazer isso de uma hora pra outra porque isso existe infelizmente, o Rio de Janeiro foi permissivo com isso há 30, 40 anos", contou Beltrame.