Por thiago.antunes
Rio - Cinco dias depois que o maior reservatório de água que abastece o Rio passou a usar o volume morto, uma segunda represa do sistema do Paraíba do Sul, a Santa Branca, também deixará de produzir energia após atingir o nível zero e passará a fazer uso da reserva técnica apenas para consumo humano. O dado foi divulgado nesta segunda-feira pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O volume dos outros dois reservatórios também é crítico: Jaguari tem 1,72% e Funil, 3,75%, o nível mais baixo desde o início da operação em 1969.
Especialistas em recursos hídricos dizem que a situação não altera de modo significativo o quadro que já é preocupante, mas cobram medidas enérgicas do governo para controlar o consumo, temendo um cenário de calamidade pública em alguns meses. O temor é que a quantidade de água nos reservatórios não dure até o período de seca, no meio do ano. Entre as medidas sugeridas estão metas de economia nas contas, reflorestamento das matas da região da bacia do Paraíba do Sul e até uma antecipação do racionamento — descartado pela Cedae e pela Secretaria Estadual do Ambiente no momento.
O reservatório de Funil%2C no Sul Fluminense%2C está com apenas 3%2C75% do seu volume útil%2C o nível mais baixo desde o início da operação%2C em 1969Ernesto Carriço / Agência O Dia

O professor Marcos Freitas, coordenador do Instituto de Mudanças Globais da Coppe/UFRJ, fez uma simulação, na semana passada, usando o volume morto do Rio Paraibuna (2,096 trilhões de litros) com a vazão para a distribuição no Rio Guandu e estimou que o total deve durar seis meses. Por isso, a recomendação dele é pelo racionamento agora. “A Cedae tem que tomar decisões, até começar o racionamento. As pessoas têm que perceber que é sério. Se você está no estado que é campeão de consumo e tem uma medição baixa (de uso), se não entrar com racionamento, vamos caminhar para um problema maior.”

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A diretora-adjunta do Centro de Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marilene Ramos, discorda do racionamento, mas sugere metas. “Para que os que economizam tenham descontos e os que gastam mais sejam sobretaxados. O racionamento impõe o mesmo sacrifício a todos”, opina Marilene.
Níveis dos reservatóriosArte%3A O Dia

Para Adacto Ottoni, coordenadora do curso de Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj, obras simples de engenharia, como barreiras de retenção, aumentariam a capacidade de captação da chuva no leito dos rios. Mas o mais urgente mesmo é, segundo ele, investir no reflorestamento das margens dos rios.

“A gestão da bacia é caótica. A recuperação ecológica desses mananciais é uma obra prioritária. Cerca de 70% da área estão desmatadas, e isso reduz a capacidade de reter água da chuva.” O governador Luiz Fernando Pezão disse que vai encontrar amanhã a presidenta Dilma Rousseff e entregar um plano para reflorestamento no estado. Entre as ações, está também projeto para resolver o problema da salinização da água em São João da Barra.
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Abastecimento preocupa hotéis no Carnaval
Com previsão de que um milhão de turistas cheguem ao Rio para o Carnaval, a indústria hoteleira começa a se preparar para eventuais problemas no abastecimento. O Hotel Marina Palace, no Leblon, já montou um plano de contingência para o período em que tem a lotação máxima. O estabelecimento informou que negocia com empresas de carro-pipa o fornecimento garantido de água para o feriado de Momo.
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Além disso, para diminuir o gasto imediatamente, o hotel começou a instalar dispositivos de redução de vazão nas torneiras e nos chuveiros. Outra medida adotada é a campanha de sensibilização de hóspedes e funcionários para o uso consciente da água. Preocupada com a situação, a Associação Brasileira de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ) está consultando a rede associada sobre a existência de planos de contingência, a exemplo do Marina Palace.
Transposição
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Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin afirmou nesta segunda que deve ser lançado na próxima sexta-feira o edital da licitação para o projeto de transposição da água do reservatório de Jaguari, na bacia do Rio Paraíba do Sul, para a represa Atibainha, do Sistema Cantareira, que abastece a capital paulista. O projeto foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na semana passada para socorrer o Cantareira, que sofre com a crise hídrica desde o ano passado.
A transposição havia sido anunciada por Alckmin em março de 2014, e a previsão era de que as obras, orçadas em R$ 500 milhões, fossem concluídas em 18 meses. O projeto prevê levar 5 mil litros de água por segundo de um reservatório a outro e foi alvo de polêmica durante as eleições, quando o governo do Rio se declarou contra a obra. A disputa atrasou a autorização da Agência Nacional de Águas. Em novembro, após o pleito, o governador Pezão assinou acordo com Alckmin.
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