“Sem água para manter o gado , tivemos que vender toda a criação e vir para o Rio atrás de dias melhores. Hoje, o drama da falta de chuvas começa a nos assombrar aqui também”, lamenta Helismar, morador da Tijuca, na Zona Norte, que começou a construir a vida na Capital carioca como entregador de mercadorias de um supermercado e hoje é dono de duas distribuidoras de bebidas e duas padarias.
Helismar conta que nas 700 lojas do Centro de Tradições Nordestinas, como é conhecida a Feira de São Cristóvão, trabalham 10 mil imigrantes. “Noventa por cento deles vieram para o Rio fugindo da seca. Agora, muitos deles, principalmente os que moram em comunidades mais altas, já vivem o drama da escassez de água em suas casas”, diz.
Sentido com parentes e amigos que ainda vivem em Pentescoste, município com pouco mais de 35 mil habitantes e um dos que estão em situação de calamidade pública por falta de chuvas desde o ano passado, Helismar reuniu empresários amigos do Rio e do Ceará e levou, em dezembro, além de 42 toneladas de alimentos e 21 mil peças de roupas, água em galões para os conterrâneos. “Foi uma festa que há muito tempo não se via. Espero, sinceramente, que a situação não chegue a ficar tão crítica por essas bandas (Sudeste). Se meus parentes virem minha foto no fundo do lago da Quinta da Boa Vista, vão achar que é montagem”, brinca.
A paisagem causticante presenciada ontem por Helismar, lembra a vivida pelo sertanejo Filomeno Marcos Evangelista, o Dadá, fotografado por Serverino Silva, de ao DIA, em julho de 2013, em Assaré (CE). Lá, Dadá é obrigado a cumprir o mesmo ritual todos os anos, de levar o gado para outras cidades para salva-los da sede mortal. “Se estivesse vivendo ainda no Ceará, certamente também estaria enfrentando essa situação. Mas os nordestinos são guerreiros”.