Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - A diretoria da Petrobras admitiu nesta quarta-feira a possibilidade de não pagamento de dividendos de 2014 aos acionistas da companhia. Segundo o diretor-financeiro da empresa, Almir Barbassa, a companhia tem a prerrogativa de não fazer a distribuição em situações de “estresse financeiro”. “Há duas alternativas. Podemos declarar o lucro e pedir um prazo para pagar depois, ou não declarar o lucro e fazer uma reserva especial, para pagar quando a companhia tiver provisões adequadas”, afirmou Barbassa, em conferência com acionistas.

O diretor ressaltou que a questão “não está colocada” neste momento. Antes de ser tomada, a medida precisaria ser submetida ao Conselho de Administração da estatal. Ontem, as ações da Petrobras fecharam em queda na Bovespa. As ordinárias caíram 1,85%, a R$ 8,47. As preferenciais tiveram desvalorização mais acentuada, de 3,10%, a R$ 8,10.

A presidenta da Petrobras%2C Maria das Graças Foster%2C e o diretor-financeiro Almir Barbassa%3A pagamento de dividendos relativos a 2014 está ameaçado por crise na empresaAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Em 2015, a companhia pretende investir de R$ 31 a R$ 33 bilhões, montante 25% menor do que estava previsto no plano de negócios entre 2014 e 2018. A presidenta Maria das Graças Foster informou que serão priorizados investimentos no setor de exploração e produção, em detrimento de outras áreas, como a de abastecimento e energia e gás.

“Vamos evitar contratar mais dívidas. Se a área de exploração já era prioritária, agora ela toma ainda mais dimensão. Mas projetos de pouca rentabilidade vão para o final da fila”, afirmou.

O corte afetará o andamento do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e da refinaria de Abreu Lima, em Pernambuco. A diretoria não detalhou o que vai acontecer com os contratos do Comperj. Em Abreu e Lima, as obras da segunda unidade de refino vão parar, sem uma previsão para retomada. As duas refinarias são alvo dos supostos desvios de dinheiro apurados na Operação Lava-Jato.

A previsão de produção para este ano é de 2,125 milhões de barris de petróleo por dia, aumento de 4,5% em relação a 2014. A diretoria considera a meta conservadora.“Esse objetivo é bastante sólido. Trabalhamos com o maior grau de realismo. É fundamental o cumprimento desta meta para garantir o fluxo financeiro”, afirmou Graça Foster.

Durante a coletiva de apresentação do balanço financeiro, a executiva disse que vai se reunir com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, na semana que vem. Ontem, ele ameaçou retirar incentivos fiscais da empresa, porque a companhia está depositando em juizo parte de suas contribuições, referentes à produção no campo de Lula. “Não podemos viver sem esses recursos”, disse Pezão. O modo de recolhimento da participação especial neste campo é objeto de disputa em uma arbitragem contra a Agência Nacional do Petróleo.

BALANÇO FINANCEIRO

R$ 88,6 BI

Ativos da Petrobras que estariam superestimados, segundo metodologia de consultorias independentes. A empresa avalia, no entanto, que o cálculo não é adequado para ser usado no balanço financeiro da estatal.

R$ 31 BI

Previsão de investimentos da em 2015. A empresa pretende reduzir sua carteira ao “mínimo necessário”, dando prioridade a projetos na área de exploração e de produção. O novo plano de negócios, de 2015 a 2019, deve sair até o meio do ano.

2,125 MI

A Petrobras prevê a produção de 2,125 milhões de barris de petróleo em 2015, um aumento de 4,5% em relação ao ano passado. Segundo a companhia, a curva de crescimento da produção terá que ser revista para baixo.

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Banco Central estima aumento de 8% na gasolina

O Banco Central (BC) estima uma alta de preço da gasolina na ordem de 8% em 2015. O valor consta na ata da última reunião do Copom, divulgada ontem. O reajuste é reflexo de uma decisão do governo federal de aumentar o PIS/Cofins para os combustíveis e voltar com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

Para a energia elétrica, a autoridade monetária trabalha com um baque ainda maior, projetando aumento de 27,6% nas tarifas neste ano. Outros preços que devem subir são o do gás de cozinha, na ordem de 3%, e de telefones, em 0,6%. Para o conjunto de preços administrados (como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros), o BC prevê reajuste de 9,3% neste ano.

Funcionários da empresa Alumini que trabalham no Comperj protestam na sede da Petrobras%2C no Centro%3A salários estão atrasados há 26 diasBruno de Lima / Agência O Dia

O aumento da gasolina poderia ser compensado pela decisão da Petrobras de diminuir o valor do combustível nas refinarias, que está acima da média praticada no mercado internacional. No entanto, a presidenta da estatal, Graça Foster, afirmou que a política de preços será mantida para abastecer o caixa da empresa.

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“Sabemos que vamos perder uma parte do market share, mas isso é importante para a companhia”, afirmou a executiva. A empresa projeta ainda que vai terminar o ano com um fluxo de caixa entre R$ 8 bilhões e R$ 12 bilhões, desconsiderando captações. O volume de recursos previstos é menos da metade do saldo inicial em 2015, de R$ 25 bilhões.
Investigação já custou R$ 150 milhões
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A Petrobras já gastou R$ 150 milhões nas investigações e em medidas para combater a corrupção na empresa, como a criação de uma diretoria de Governança. Graça Foster afirmou que o processo pode levar até três anos. A companhia ainda busca um método para ajustar seu balanço financeiro, contabilizando as perdas decorrentes da corrupção. Ontem, a presidenta afirmou que o valor de R$88 bilhões, apurado por consultorias independentes, não é adequado para fazer o ajuste. O sobrepreço leva em conta uma série de variáveis e não é possível isolar somente a parte relativa à corrupção.
Em segundo, o valor diz respeito a ativos avaliados separadamente. Como a estatal atua de forma integrada, ela tem um ganho que não aparece no cálculo. “Estamos trabalhando desesperadamente, desde o dia em que passamos do prazo de ter o balanço auditado”, afirmou a presidenta.
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Segundo a executiva, 24 ativos foram avaliados por consultorias contratadas e 28 pela própria Petrobras.De acordo com o cálculo, a maior parte dos ativos superavaliados dentro dos R$ 88 bilhões estão na área de abastecimento. Os projetos desta área respondem por 94% do valor apurado.
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