Por thiago.antunes
Rio - Uma novela em produção e uma missão: encontrar figurantes com características indígenas. Foi o que levou a produtora Renata Real até Itaipuaçu, distrito de Maricá, onde conheceu a aldeia Ara Owy Re. Lá, vive uma família de 25 guaranis. Mas o que deveria ser uma simples seleção para a TV virou causa pessoal: “Fiquei muito impressionada com as condições em que vivem. Não têm nada!” E assim surgiu a ideia do documentário ‘Guarani M’Byá — Índio Gente’, que está em finalização. “Toda a renda será doada aos índios”, diz, reforçando que eles ainda podem entrar na novela.
O filme mostra um dia de festa na aldeia. “Me encantei. São pessoas muito simples que querem pouco para viver. O cacique me pediu uma casa de reza porque queria agradecer pela ajuda”, lembrou. A trilha sonora é dos próprios índios. Crianças cantam e tocam instrumentos.
Vinte e cinco pessoas da mesma família moram em terreno doado em Itaipuaçu. No local não tem transporte público%2C luz elétrica e escola%2C além de faltar água e comidaEstefan Radovicz / Agência O Dia

Porém, nem tudo é motivo de festa. Os guaranis chegaram a Itaipuaçu há um ano e dois meses, vindos de Aracruz, no Espírito Santo. Mas, de acordo com o cacique Felix Karaí Brisuela, de 68 anos, saíram de Porto Alegre em 2000 e desde então estão viajando pelo Brasil. “Fomos visitar os parentes. Depois seguimos”, conta ele num português enrolado.

A dificuldade no idioma é explicada: entre eles, só se comunicam pela língua indígena e as crianças só aprendem português quando completam 10 anos. Depois de tanta andança, o cacique diz que quer ficar em Maricá. Porém, todo o grupo vive hoje apenas do Bolsa Família de duas filhas dele. “Recebi só R$ 105 esse mês, menos do que o mês passado, mas não sei o motivo disso”, disse Maria Helena Gonçalves Brisuela, 43 anos.

Maria Helena Gonçalves mostra a documentação do Bolsa Família de suas duas filhas Estefan Radovicz / Agência O Dia

Felix conta que não pode plantar porque não há condições. “Só fiz uma roça de milho. Temos que comprar comida no supermercado”, revela desanimado. A aldeia fica longe do centro e eles não têm transporte. Mesmo assim, vão à praia vender artesanato. As mulheres fazem cestinhas e bijuterias com palhas e sementes, os homens talham animais em madeira.

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Luz elétrica não existe — usam lamparina — e a água é captada de uma nascente por uma mangueira. “Já ficamos 15 dias sem água porque a fonte secou”, alerta Maria Helena, lembrando que as crianças não estudam. O cacique quer que elas sejam ensinadas na aldeia. “Tenho medo das coisas que acontecem lá fora. É muita coisa ruim acontecendo lá”, se assusta.
Além desta renda%2C a família vive com o rendimento da venda do artesanato que produzEstefan Radovicz / Agência O Dia

São três moradias, todas em condições precárias. A casa de Felix é feita de pau a pique e foi construída depois que a antiga (que era de palha) pegou fogo, em novembro. “Queimou tudo. A gente não estava aqui. Não sei o que aconteceu”, lamenta o cacique.

Prefeitura de Maricá promete ajudar

A Prefeitura de Maricá informou que auxilia os índios guaranis dentro das limitações legais, uma vez que todo o atendimento às populações indígenas deve ser conduzido pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A ajuda se dá por meio de mantimentos e roupas. “Além de serem beneficiados pelo programa Bolsa Família, todos os índios da aldeia, incluindo o cacique e as crianças, receberam um cartão da Bolsa Mumbuca, moeda social que permite compras mensais de R$ 85 no comércio da cidade”, disse em nota.

Ainda de acordo com a prefeitura, professores e uma merendeira serão contratados para que as crianças possam estudar. a previsão é de que as aulas comecem ainda este mês num espaço que ainda será construído. Outra promessa foi a doação de uma caixa d’água.
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A Funai produziu um relatório antropológico sobre a aldeia, mas alega que falta funcionários para dar assistência ao grupo de forma sistemática. Já o Ministério do Desenvolvimento Social explicou que o critério para recebimento do Bolsa Família é unicamente a renda, válido para todos os brasileiros. “Não há diferença nos critérios entre a população indígena e a população em geral”, afirma a nota.
Clique na imagem para ampliar o infográficoArte%3A O Dia


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