Esquecidos em Maricá, índios guaranis vão para a telona
Prefeitura prometeu ajudar indígenas
Por thiago.antunes
Rio - Uma novela em produção e uma missão: encontrar figurantes com características indígenas. Foi o que levou a produtora Renata Real até Itaipuaçu, distrito de Maricá, onde conheceu a aldeia Ara Owy Re. Lá, vive uma família de 25 guaranis. Mas o que deveria ser uma simples seleção para a TV virou causa pessoal: “Fiquei muito impressionada com as condições em que vivem. Não têm nada!” E assim surgiu a ideia do documentário ‘Guarani M’Byá — Índio Gente’, que está em finalização. “Toda a renda será doada aos índios”, diz, reforçando que eles ainda podem entrar na novela.
O filme mostra um dia de festa na aldeia. “Me encantei. São pessoas muito simples que querem pouco para viver. O cacique me pediu uma casa de reza porque queria agradecer pela ajuda”, lembrou. A trilha sonora é dos próprios índios. Crianças cantam e tocam instrumentos.
Porém, nem tudo é motivo de festa. Os guaranis chegaram a Itaipuaçu há um ano e dois meses, vindos de Aracruz, no Espírito Santo. Mas, de acordo com o cacique Felix Karaí Brisuela, de 68 anos, saíram de Porto Alegre em 2000 e desde então estão viajando pelo Brasil. “Fomos visitar os parentes. Depois seguimos”, conta ele num português enrolado.
A dificuldade no idioma é explicada: entre eles, só se comunicam pela língua indígena e as crianças só aprendem português quando completam 10 anos. Depois de tanta andança, o cacique diz que quer ficar em Maricá. Porém, todo o grupo vive hoje apenas do Bolsa Família de duas filhas dele. “Recebi só R$ 105 esse mês, menos do que o mês passado, mas não sei o motivo disso”, disse Maria Helena Gonçalves Brisuela, 43 anos.
Felix conta que não pode plantar porque não há condições. “Só fiz uma roça de milho. Temos que comprar comida no supermercado”, revela desanimado. A aldeia fica longe do centro e eles não têm transporte. Mesmo assim, vão à praia vender artesanato. As mulheres fazem cestinhas e bijuterias com palhas e sementes, os homens talham animais em madeira.
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Luz elétrica não existe — usam lamparina — e a água é captada de uma nascente por uma mangueira. “Já ficamos 15 dias sem água porque a fonte secou”, alerta Maria Helena, lembrando que as crianças não estudam. O cacique quer que elas sejam ensinadas na aldeia. “Tenho medo das coisas que acontecem lá fora. É muita coisa ruim acontecendo lá”, se assusta.
São três moradias, todas em condições precárias. A casa de Felix é feita de pau a pique e foi construída depois que a antiga (que era de palha) pegou fogo, em novembro. “Queimou tudo. A gente não estava aqui. Não sei o que aconteceu”, lamenta o cacique.
Prefeitura de Maricá promete ajudar
A Prefeitura de Maricá informou que auxilia os índios guaranis dentro das limitações legais, uma vez que todo o atendimento às populações indígenas deve ser conduzido pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A ajuda se dá por meio de mantimentos e roupas. “Além de serem beneficiados pelo programa Bolsa Família, todos os índios da aldeia, incluindo o cacique e as crianças, receberam um cartão da Bolsa Mumbuca, moeda social que permite compras mensais de R$ 85 no comércio da cidade”, disse em nota.
Ainda de acordo com a prefeitura, professores e uma merendeira serão contratados para que as crianças possam estudar. a previsão é de que as aulas comecem ainda este mês num espaço que ainda será construído. Outra promessa foi a doação de uma caixa d’água.
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A Funai produziu um relatório antropológico sobre a aldeia, mas alega que falta funcionários para dar assistência ao grupo de forma sistemática. Já o Ministério do Desenvolvimento Social explicou que o critério para recebimento do Bolsa Família é unicamente a renda, válido para todos os brasileiros. “Não há diferença nos critérios entre a população indígena e a população em geral”, afirma a nota.