Por thiago.antunes
Rio - O governador Luiz Fernando Pezão não descartou, ontem, baixar além dos 140 mil litros por segundo a vazão do Rio Paraíba do Sul, caso São Paulo precise de mais água. O mínimo estabelecido no Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio é de 190 mil l/s. Como alternativa para o abastecimento, prometeu receber no dia 10 técnicos de diversos países para conhecer alternativas. A dessalinização de água do mar é uma.
“A gente tem feito diversos modelos, vendo se pode trabalhar com menos. Não estamos fechados a ajudar. Teremos sempre boa vontade”, disse. Pezão afirmou que no fim do mês se reunirá com o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, que está intermediando um acordo sobre quanto se tirará da represa do Jaguari, na Bacia do Paraíba do Sul. O secratário da Casa Civil, Pedro Paulo, adiantou que esta semana o governo negociará ações sobre a crise.
Clique na imagem para ampliar o infográficoReprodução

A crise hídrica não é de agora. Ainda em 2013, o índice de chuvas se manteve ao longo do ano sempre abaixo da média, e as represas que abastecem as duas maiores regiões metropolitanas do país começaram a secar. Atribuiu-se, à época, à zona de alta pressão no Oceano Atlântico que se desloca do Nordeste para o Sudeste e bloqueia a chegada de frentes frias do Sul. É comum no inverno. Porém, naquele ano, seguiu verão adentro. Em novembro, bateu-se o recorde histórico de estiagem.

Publicidade
Em condições normais, aquela secura estendida não se repetiria tão cedo. Não foi assim. Retornou no verão seguinte. Qualquer um que tenha sofrido as sensações térmicas de até 55 graus dos últimos dias no Rio sabe que a tal zona voltou a atacar.
Sem iniciativas
Publicidade
No entanto, naquele ano, embora técnicos dos próprios governos estaduais de São Paulo e do Rio alertassem para a possibilidade de a estiagem voltar antes do esperado, poucas medidas efetivas para minorar os riscos de seca foram tomadas.
Com vazão de 140 mil litros por segundo, o Paraíba do Sul viu seus reservatórios secar. Dos quatro que abastecem a Região Metropolitana do Rio, dois estão no volume morto. O Jaguari, que São Paulo deseja, tem só 1,72% de sua capacidade, e o Funil está abaixo de 4%.
Publicidade
A pouca água obrigou, sob o risco de afetar o abastecimento humano — prioridade, como determina a lei —, o desligamento de duas hidrelétricas. Um delas, com capacidade de 87 megawatts; outra, de 56,1. Não há risco de apagão, mas recorrer às termelétricas é caro, e o custo será repassado ao consumidor. “Os recursos são geridos. Se não há planejamento, a consequência é a escassez”, explicou o pesquisador Paulo Roberto Carneiro, coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos.
Total de 140 mil litros por segundo já é um limite
Publicidade
Embora diga que a retirada da combalida represa de Jaguari, na Bacia do Paraíba, seja pequeda (de 5,5 mil l/s a 8,5 mil l/s), um cenário analisado pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio mostra que, tirados 7,5 mil l/s, impactará negaticamente em 3,39%.
“É o Paraíba do Sul que atende a 80% da Região Metropolitana e o único capaz de atender às nossas demandas. É por isso que qualquer ação sobre o rio tem que despertar nosso interesse”, explica Carneiro.
Outra intervenção, além da transposição em São Paulo, pode ser anunciada no próximo dia 5, pela Agência Nacional de Águas (ANA). De Brasília, quer reduzir para 110 mil litros por segundo sua vazão. “Impensável”, declarou o governador Luiz Fernando Pezão, quando soube.
Publicidade
O Plano de Recursos Hídricos entende ser o mínimo de segurança o nível de 190 mil l/s. Com ele, ainda se consegue produzir energia sem prejuízo e atender à agricultura e ao abastecimento humano. Atualmente, para se preservarem reservatórios em São Paulo, a ANA reduziu a vazão do rio para 140 mil l/s.
“O Paraíba está no limite da redução de vazão. Tudo o que depende do Paraíba, ou seja, todo o Rio, será impactado. Está na hora de se discutir seriamente o que se quer e para qual finalidade o destinará”, propôs o coordenador, chamando atenção para como a falta de ação ou ação de outro estado impacta no dia a dia de quem mora no Rio.
Publicidade