Rio - Um imenso protesto reuniu centenas de mototaxistas no Cemitério de Irajá, nesta segunda-feira à tarde, durante o enterro de Diego da Costa Algarves, de 22 anos. Também motoboy, o jovem foi morto na manhã de domingo na Vila Cruzeiro, Complexo da Penha, após abordagem policial.
O secretário de Segurança José Mariano Beltrame classificou a ação dos PMs como desastrosa. Diego foi morto com um tiro de fuzil, dado em suas costas por militar da UPP local, em uma blitz que era realizada na comunidade. “Qualquer academia ensina que o policial só pode usar a arma de fogo se a vida dele estiver em risco”, afirmou o secretário.
Antes do enterro, a tia de Diego, Adriana Félix, era uma das mais indignadas. Também madrinha do mototaxista, ela condenou não apenas a ação desastrada dos policiais, mas a tentativa de criminalizar o jovem.
“Disseram que ele não parou durante a blitz. Ora, a moto caiu em cima dele, numa posição onde ele só poderia estar parado. Se ele estivesse dirigindo, iria a moto para um lado e ele para o outro. Foi assassinato”, disse.
Os colegas de Diego também estavam indignados com a atitude dos policiais. “Primeiro, disseram que encontraram o corpo no chão. Depois, que tinha arma com o Diego. Aí, viram que a farsa ia cair e mudaram a versão. Não há pacificação que dê certo assim”, criticou o mototaxista Reginaldo Barbosa, 27 anos.
No início da noite, o clima voltou a ficar tenso na Vila Cruzeiro. Houve discussão entre moradores e policiais. Um grupo de pessoas fez barricadas nos acessos à comunidade e muitos tiros foram ouvidos, mas sem registro de novas vítimas.
Policiais militares também foram ao sepultamento e acompanharam à distância a cerimônia. Alguns chegaram a ser hostilizados, mas não houve confonto. O enterro do mototaxista foi realizado sobr gritos de "Fora UPP!".
Beltrame diz que ação da PM na morte de jovem na Penha foi 'desastrosa'
O secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, classificou nesta manhã como uma "ação desastrosa" a abordagem dos policiais militares da UPP Vila Cruzeiro. Durante a inauguração da creche Cruzada pela Infância do Leme, na Zona Sul, Beltrame criticou a forma como Diego foi morto no último domingo.
"Qualquer academia de polícia diz que o policial só deve atirar quando estiver com a vida em risco ou a vida de terceiros. Foi uma ação desastrosa. Mas tudo isso será visto pelo inquérito policial. Se tiver que punir, vamos punir", afirmou.
Clima na comunidade é de tensão após morte de Diego
O clima é de tensão na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Ao todo, seis escolas e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) estiveram sem atendimento nesta manhã. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, 2.310 alunos não tiveram aulas. Já as unidades da rede estadual, de acordo com a Secretaria de Estado de Educação, funcionaram normalmente.
De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), o policiamento foi reforçado na comunidade. O atirador e outros policiais faziam uma blitz, por volta das 7h, na Praça São Lucas, quando a vítima não teria obedecido ordem para parar a moto.
A CPP disse que um Inquérito Policial Militar foi aberto para apurar o caso. Já a Divisão de Homicídios (DH) da Capital informou que os PMs envolvidos na ação começaram a ser ouvidos, assim como outras pessoas que teriam presenciado o episódio. As armas foram encaminhadas para perícia para confronto balístico.