Por karilayn.areias

Rio - O cenário é virtual, mas os detalhes são tão similares ao que ocorre na rotina de comunidades do Rio de Janeiro que é possível imaginar que se trata de um jogo real. Mas para quem vive no mundo dos games, essas constatações sobre o ‘Thug Life’ — ou ‘Vida Bandida’, em português — não são exatamente uma novidade.

O jogo ‘Thug Life’ (Vida Bandida) contém situações de extrema violênciaReprodução

O que acontece é que agora a simulação de confrontos entre policiais e bandidos, ou entre facções criminosas, ganhou contornos ainda mais preocupantes: são ataques a Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pelo tráfico, explosões de viaturas da Polícia Militar e execução de policiais.

Tudo comemorado e exibido em telas que são copiadas e compartilhadas em páginas de perfis sociais. As bocas de fumo têm, inclusive, valor definido para a venda de cocaína e maconha.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o delegado titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, está analisando o jogo para verificar eventual responsabilidade criminal. Enquanto isso, o game continua fazendo sucesso entre jovens dispostos a ‘vingar’ a ação de policiais, medir forças — mesmo que apenas virtual — com agentes de segurança pública e ter seus minutos de fama cibernética defendendo seus grupos criminosos.

Para entrar no jogo, o participante tem que escolher a sua facção e uma favela e colocar um nome, que vira seu apelido. Para instalar, é preciso fazer download de uma outra plataforma de jogo bastante conhecida entre os internautas. Entre o real e o virtual, há participantes que parecem levar mesmo a sério o que está na tela.

Morto no mês passado em tiroteio com o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o chefe do tráfico do Juramento, Flávio Silva Mendonça, o Paulo Bigode, já recebeu homenagens póstumas no game. Virou personagem bem sucedido nos confrontos. “Pô, mano, nem fala mo (maior) sdd (saudade) msm (mesmo)”, diz o texto, abaixo de um Paulo Bigode ainda atuante e ‘vivo’.

Numa imagem em que aparece uma viatura da PM toda metralhada, uma jovem escreveu: “Assim que fica quando eles entra na CDA (Cidade Alta).” As simulações repetem o que acontece de verdade na Cidade do Rio. Se antes os participantes postavam o helicóptero da Polícia Militar derrubado, em 2009, por criminosos do Morro dos Macacos, e comemoravam, agora a briga atual de facções do tráfico protagonizada pelos morros do Juramento e da Pedreira ganhou espaço. E é atualizado quase diariamente com o que ocorre nas duas favelas da Zona Norte.

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