Rio - Uma festança que seria promovida durante o Carnaval por traficantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) no Morro da Serrinha, em Madureira, na Zona Norte, e que custaria pelo menos R$ 700 mil, foi impedida de ser realizada pela Polícia Militar. Intitulado ‘São José Serra Folia 2015’, o evento — que começaria na sexta-feira com o grupo de pagode Nosso Sentimento e terminaria na terça com a apresentação do cantor Naldo Benny — foi cancelado pelo 9º BPM (Rocha Miranda). De acordo com a PM, as vias seriam transformadas em feirões do comércio de drogas.
O Setor de Inteligência da PM alertou o comandante do batalhão, tenente-coronel Luiz Garcia Baptista, de que bandidos da região estavam divulgando amplamente as atrações e até a venda de abadás em cartazes, filipetas e redes sociais.
“Os policiais foram avisados e impediram a realização (do evento) a tempo”, afirmou Baptista. Em nota, a PM informou que ‘homens do 9º BPM reforçaram as duas bases de ocupação na comunidade e puderam se antecipar às ações dos criminosos’. No sábado, houve confronto na favela. Um suposto de tráfico morreu e um fuzil foi apreendido.
Além das duas principais atrações, também estavam agendados shows de Duduzinho, Tikão, Jaula das Gostosudas e Balacobaco, entre outros. A assessoria de Naldo Benny, assim como a dos demais artistas, ressaltou que desconhecia o motivo do cancelamento da apresentação e a origem do patrocínio. Só o cachê de Naldo custa cerca de R$ 100 mil.
Traficantes da Serrinha exibiam nas propagandas desenhos em referência aos apelidos dos principais chefes do TCP da localidade, ao lado de fotos dos artistas. Entre os representados, segundo a polícia, está o traficante Walace de Brito Trindade, o Lacosta ou Lacoste, chefe do tráfico na Serrinha, lembrado pela figura de um jacaré. Ao lado dele aparece Shrek, personagem de um famoso desenho animado, alusivo ao traficante que tem o mesmo apelido e que controla a venda de drogas no Morro São José da Pedra, que pertence à área da Serrinha. Outras figuras que aparecem nas divulgações seriam pseudônimos de gerentes das bocas de fumo dos morros dominados pelo TCP.
Desde quinta-feira, PMs passaram a recolher cartazes e retirar outdoors com o anúncio da festa das ruas da Serrinha e arredores.
Paixão pelo Flamengo estampada nos abadás
Embora as principais atrações tenham sido canceladas, a folia teria acontecido em diversos pontos da Serrinha, mas sem ostentação, para não chamar a atenção da polícia. Pelo Facebook, alguns avisos tranquilizavam quem desejava participar: “Pode chegar que está tranquilo. Papo da diretoria”, dizia um dos recados.
Walace de Brito Trindade, acusado de homicídio e tráfico de drogas, e apontado pela polícia como um dos idealizadores da folia na Serrinha, é hoje um dos bandidos mais procurados do Rio. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferece R$ 1 mil para quem der pistas de seu paradeiro.
Em julho de 2012, Lacoste teria comandando uma guerra por pontos de drogas na Serrinha, que culminou com 12 mortos. Temido pelos rivais, Walace também é tratado pelos aliados como Salomão, WG ou Flamengo, devido à sua paixão pelo clube rubro-negro. Nos abadás da folia que foi cancelada, por exemplo, o escudo do time também foi estampado.
