Por nicolas.satriano

Rio - Mais de duas mil doses de vacinas estão prestes a serem descartadas por causa da falta de luz que afeta Niterói, assim como São Gonçalo e Maricá — cidades atendidas pela concessionária de energia Ampla. Sem gerador, 11 unidades do Programa Médico de Família de Niterói precisaram ter o material recolhido. Entre as unidades atingidas, cinco já têm como certa a perda de lotes de vacinação.

Todo o material sob suspeita ficará em local refrigerado até que a avaliação seja concluída junto à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. A Fundação Municipal de Saúde de Niterói informou que as unidades afetadas estão sendo abastecidas com novas cotas de vacina, para que o atendimento não seja prejudicado.

Só em Niterói%2C 11 unidades do Programa Médico de Família tiveram vacinas recolhidas. Sem luz%2C elas não estavam refrigeradas e muitas estragaramFabio Gonçalves / Agência O Dia

O DIA constatou o problema nos postos das comunidades Maruí, Nova Brasília, Ilha da Conceição, Marítimo e Leopoldina, todos em Niterói. Neles, os funcionários dizem que as vacinas precisavam ser transportadas até a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covig).

“A gente precisa fazer uma grande logística para que o número de vacinas estragadas não seja maior, já que os postos não têm gerador”, disse uma funcionária de um dos postos do Programa Médico da Família. “O apagão durou todo o Carnaval, mas no começo da semana passada já havia faltado luz”, disse a funcionária.

O presidente da Associação de Moradores da Leopoldina, Antônio Caetano de Souza, acompanhou o drama dos moradores que procuraram o posto e não foram atendidos. “As pessoas chegam aqui e não podem tomar a vacina”, relatou. Ele disse que a luz na comunidade acaba por volta das 19h e volta às 11h do dia seguinte.

A Ampla admite que Niterói, São Gonçalo e Maricá foram as cidades mais castigadas e ainda apresentam problemas. De acordo com a concessionária, árvores caíram sobre a rede elétrica, e trechos da rede precisaram ser reconstruídos, exigindo mais tempo para a normalização dos serviços. Ao todo, 500 técnicos estão nas ruas atuando nas cidades atingidas pelas chuvas.

Nesta sexta-feira, um grande número de pessoas lotou as lojas de atendimento da Ampla para reclamar da falta de luz que continua atingindo bairros dos três municípios.

Clientes fazem fila para serem atendidos na loja da Ampla em São Gonçalo. Todas as reclamações foram por falta de energia elétricaFabio Gonçalves / Agência O Dia

Moradores lotam agências da Ampla para pedir ressarcimentos de prejuízos

Enquanto a Ampla tenta restabelecer a energia, a população conta os prejuízos. Durante todo o dia de sexta-feira, a loja de atendimento da Ampla em São Gonçalo esteve bastante movimentada, com clientes que reclamavam da falta de luz e de aparelhos estragados.

Moradora do Barreto, em Niterói, a cabeleireira Ana Paula Cerqueira de Melo, 23, precisou consertar um micro-ondas e comprar um purificador de água e mais seis lâmpadas: “Tive que gastar R$ 1,5 mil para consertar e comprar esses aparelhos. Agora vou cobrar da Ampla.”

Ana Paula consertou um micro-ondas e comprou um purificador de água%2C que queimaram.Fabio Gonçalves / Agência O Dia

A doméstica Maria José Gonçalves, 62, conseguiu ser contemplada no programa Minha Casa, Minha Vida em São Gonçalo, mas não conseguiu energia na sua residência: “Tenho que entrar na casa ainda este mês, mas como vou morar em um lugar que não tem luz?”

Moradora de Maricá, a administradora Luciléa Rosário diz que perdeu R$ 1,3 mil em alimentos que estavam na geladeira. “Tínhamos carnes, peixe, frango, sucos, mas tudo estragou”, disse Luciléa, que tem uma mãe asmática. “Tive que levá-la ao hospital”, conta.

Produto pode não fazer efeito

A essoa que toma uma vacina com a qualidade comprometida não ficará doente. No entanto, não vai ser imunizada. “Ou seja, o indivíduo será submetido a um medicamento inócuo, sem benefício algum. Não fará mal à saúde, mas também não haverá o efeito desejado”, explica Artur Fernandes, dono da Assen, uma empresa de vacinação.

O transporte de vacinas de um local para outro, como ocorreu nos postos de saúde de Niterói e São Gonçalo afetados pela falta de luz, pode tirar a eficácia delas.

“Com certeza, em dado momento desse vaivém, a temperatura não estará adequada, inutilizando o produto, que deve ser descartado”, adverte Artur Fernandes. O alerta, segundo ele, vale também para clínicas particulares que não contam com geradores.

A Rede de Frio, do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, dita normas de recebimento, armazenamento, conservação, manipulação, distribuição e transporte de vacinas.

As vacinas devem ser conservadas em temperaturas específicas, conforme suas fórmulas. Em geral são refrigeradas entre 2 e 8 graus. Na falta de luz, a orientação do Ministério da Saúde é que o problema seja resolvido imediatamente.

Multa pode chegar até a R$ 7 milhões

O Procon Estadual recebeu ontem diretores da Ampla, que se comprometeram a restabelecer até 18h de hoje a energia em Itaipuaçu e Costa Verde, em Niterói; Portão Rosa, Jardim Catarina, Boaçu e Maria Paula, em São Gonçalo; e Inoam e Badu, em Maricá.

A empresa, que atribui a falta de energia às fortes chuvas que caíram na região, se comprometeu a criar estratégias para evitar novos transtornos. “Provavelmente a Ampla será multada (entre R$ 500 e R$ 7 milhões), por ser reincidente”, disse o diretor jurídico do Procon, Carlos Amorim.


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