Rio - A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai fiscalizar a Ampla. O objetivo é verificar se os procedimentos da empresa foram corretos para restabelecer a energia, a partir da chuva do dia 15 de fevereiro, que atingiu Maricá, São Gonçalo e Niterói. Só sábado à noite, quase uma semana depois, é que os reparos foram concluídos.
Para piorar a situação de moradores, outra interrupção no fornecimento de energia na manhã de ontem desligou a Estação de Tratamento de Água Imunana-Laranjal, responsável pelo abastecimento de água em São Gonçalo, Niterói, Itaboraí e Paquetá. Segundo a Cedae, o sistema será normalizado gradualmente em 48 horas. Muitos que ficaram sem luz, agora vão ficar sem água.
Diante do sufoco dos consumidores e da morte de nove pessoas num ônibus que pegou fogo após bater em poste e ser atingido pelo transformador que ele sustentava, o Secretário Estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, encaminhou para a Aneel investigar, fotos de postes sem conservação na área, como antecipou, no sábado, o Informe do DIA. “Não estou acusando ninguém. O que nós queremos é evitar um segundo acidente de proporção ainda maior. Os nossos técnicos foram até o local e perceberam que os postes estavam em péssimo estado”, disse.
Em resposta, a Ampla informou que técnicos realizam a inspeção periódica dos postes de toda área de concessão para identificar a possível necessidade de substituição e manutenção. A empresa garantiu que aumentou em 22% os investimentos para melhorar os seus serviços e instalou novos equipamentos de proteção da rede elétrica, que minimizam possíveis interrupções.
Mas, na área da tragédia, não é o que parece. Na Rua Doutor Getúlio Vargas, onde o ônibus pegou fogo, há cabos soltos, gambiarras, postes tortos e fios pendurados em vários trechos. O que mais preocupa é que até o poste que substituiu o do acidente está torto. Morador da área, que se identificou apenas como Jorge Luiz, de 50 anos, disse que fica assustado com a rede inadequada no bairro Santa Catarina. Ele mostra um equipamento improvisado pendurado em poste da via.
Um dia antes da batida, na Rua Dr. Getúlio Vargas, outro transformador pegou fogo. “A Rua Doutor Jurumenha ficou sem luz em três momentos: primeiro pelo temporal, depois o transformador pegou fogo e ainda em decorrência do acidente”, contou o frentista Paulo Roberto, 37.
Mau estado causa curto-circuito
Para especialistas no assunto, a situação é grave. Delberis Lima, professor do Centro Técnico Científico da PUC, afirma que a falta de conservação dos postes pode acarretar em curto-circuito e risco à população. “O poste é uma estrutura de apoio aos cabos elétricos. Não há uma regra específica que diga de quanto em quanto tempo essa estrutura deve ser monitorada. Geralmente um poste tem um tempo de vida útil de décadas. O problema é que os nossos já estão há muito tempo na rua. Por isso, é importante checar”, explica o profissional.
Ele ainda aconselha. “A população serve como os olhos das empresas. Se a pessoa está passando na rua e vê um poste mal conservado, fios expostos e até gatos, é importante ligar para a distribuidora, no caso, a Ampla, e avisar. Caso uma medida não seja tomada, a Aneel deve ser acionada”, explica.
Já Alexandre Street, professor do Departamento de Energia Elétrica da PUC-Rio, lembra da importância de aderir ao uso de redes subterrâneas. “Em qualquer país consciente, você não tem mais rede elétrica na superfície. Isso é coisa de país subdesenvolvido. Precisamos aderir ao uso da rede subterrânea. É muito mais seguro. Claro que teria que haver um investimento, talvez uma programa que permitisse que a empresa repassasse os custos, por exemplo. Seria muito melhor, inclusive, para a população”, explica ele.
Entre as fotos enviadas pelo secretário Osório à Ampla, está poste na Rua Dr. Getúlio Vargas, próximo ao número 1.618, no bairro Santa Catarina, onde ocorreu o acidente.
Descontos nas contas futuras
No caso de falta de luz, a Aneel pede que o abastecimento de energia seja feito em até 12 horas. Para fazer a inspeção, técnicos são enviados para o local para vistoriar postes, fios e todo o sistema de distribuição.
A punição para a demora no restabelecimento de energia prevê multa de 1% da receita operacional líquida, que, segundo relatório de sustentabilidade Endesa Brasil 2012 ,foi estimado em R$ 3,7 bilhões, e até a perda da concessão. Vale ressaltar que a Aneel, em 2013, impôs que a Ampla pagasse quase R$ 35,4 milhões aos consumidores por demora para restabelecer a energia. Em 2014, o valor chegou R$ 28 milhões. Essa compensação é feita por meio de descontos nas contas futuras.
Ontem, entre 11h42 e 11h52, houve uma paralisação no fornecimento de energia, o que gerou uma interrupção da produção.
Sobre o assunto, a Ampla informou que a interrupção aconteceu porque houve um desarme na rede de distribuição de energia elétrica que atende ao sistema Imunana-Laranjal. A empresa ainda está apurando as causas do corrido. Já a respeito da demora de quase uma semana para restabelecer 100% de energia à população de Maricá, São Gonçalo e Niterói, a concessionária disse que entendia a insatisfação dos clientes e reforçou que, em alguns locais, foi necessário reconstituir trechos inteiros da rede elétrica que foram danificados pela quedas de árvores e vegetação, em decorrência dos fortes ventos, chuvas e descargas atmosféricas que aconteceram durante a semana, o que exigiu mais tempo para o reparo.
Vacinas foram para o lixo
Mais de duas mil doses de vacinas devem ser descartadas por causa da falta de luz em São Gonçalo, Niterói e Maricá, conforme publicou O DIA no sábado. Sem gerador, 11 unidades do Programa Médico de Família de Niterói precisaram ter o material recolhido. Cinco unidades atingidas já têm como certa a perda de lotes. O material sob suspeita ficará refrigerado até que a avaliação seja concluída com a Secretaria estadual de Saúde. A Fundação Municipal de Saúde de Niterói informou que as unidades afetadas estão recebendo novas cotas.
Colaborou Flora Castro