Rio - Uma aluna do curso de Design de Moda da PUC-Rio diz ter sido vítima de comentários racistas dentro da sala de aula e por parte dos próprios professores da universidade. Gabriela Monteiro relata, em um depoimento no seu perfil no Facebook publicado no último dia 24, que foi alvo de duas docentes por conta de seu cabelo crespo e solto.
Em duas oportunidades, segundo Gabriela, a professora e coordenadora do curso Ana Luiza Morales levantou durante atividades em sala de aula o quanto era inconveniente ir ao cinema e ter na poltrona a frente pessoas com cabelos "iguais ao dela." A aluna registrou queixa na 12ª DP (Copacabana).
"Ela comentou perante toda turma, como uma mulher que estava usando o cabelo afro parecido com o meu, segundo a própria professora, era inconveniente por ir ao cinema com seu cabelo em sua forma natural, pois ao sentar na poltrona em sua frente, o cabelo da mulher era um empecilho para visualizar a tela do cinema. Em um primeiro momento não percebi a gravidade da declaração até minhas colegas de turma comentarem comigo o quão absurdo aquilo. Fiquei sem reação, e o desconforto de estar em sala de aula passou a ser uma realidade", desabafou.
Ainda de acordo com o seu depoimento, a mesma professora voltou a repetir o mesmo comentário semanas depois e a apontá-la como exemplo por conta do cabelo. "Neste momento, não acreditei que ela estava repetindo a mesma história de forma tão natural, retruquei dizendo que o fato de ter cada vez mais mulheres de cabelo afro era uma coisa maravilhosa, já que em nossa sociedade existe uma ditadura da "chapinha", e o que aconteceu com ela era sinal de que as mulheres de cabelo crespo estão se libertando dessa ditadura."
Em um terceiro episódio, uma outra docente, identificada pela aluna como Tatiana Rybalowski, perguntou a ela se o seu signo era leão, associando o seu cabelo a juba do animal. "Eu havia chegado em sala de aula com meus cabelos soltos, e a professora estava dando orientação para uma aluna, parou o que estava fazendo e me fez a seguinte pergunta: "Qual seu signo, Leão?", e deu um risinho cínico. Fiquei tão chocada que não tive reação a essa pergunta preconceituosa."
Universidade vai abrir sindicância
A PUC-Rio disse ter sido notificada pela aluna nesta quarta-feira, através da ouvidoria da Vice-Reitoria Comunitária. Segundo a universidade, será instaurada uma sindicância interna para apurar os fatos, ouvindo todas as partes.
Depois da apuração dos fatos, a PUC-Rio disse que "medidas cabíveis são tomadas". Também foi informado que as professoras citadas por Gabriela estão de férias. De acordo com informações da 12ª DP (Copacabana), o fato foi registrado como injúria. A vítima foi ouvida na unidade e as investigações estão em andamento. O caso foi encaminhado para a 15ª DP (Gávea), responsável pela área onde ocorreu o caso.