Por adriano.araujo

Rio - A vontade de festejar e de comer o bolo gigante que tomou a Rua da Carioca deu o tom das comemorações pelos 450 anos do Rio de Janeiro, neste domingo. Por todos os lados da cidade, havia comemorações dos mais variados tipos para inflar o orgulho de quem vive por aqui.

Logo cedo, a cidade foi ‘refundada’. Estácio de Sá chegou à praia na Fortaleza de São João, na Urca, e entregou a chave simbólica do Rio ao prefeito Eduardo Paes. Bruno Estill Senra, de 24, ator que incorporou o desbravador, participa de um grupo de teatro que tem, nos últimos meses, encenado parte da História do Rio.

“Não é todo dia que a gente tem o privilégio de fundar uma cidade”, brincou o ‘Estácio de Sá’ dos 450 anos, durante o evento cívico-militar.

GALERIA: Veja fotos das comemorações pela cidade

Com direito a canhões disparando balas de festim e muita emoção, atores encenaram diante da Fortaleza de Santa Cruz, na Urca, a chegada de Estácio de Sá: história recontadaFernando Souza / Agência O Dia

Por volta das 7h30, quando canhões disparavam balas de festim para anunciar a chegada dele, enquanto uma caravela cruzava o mar, o general Dilson Benevides se emocionava com a homenagem feita a Estácio de Sá, seu parente bem distante.

“É uma honra participar do evento porque, além de ser a comemoração de mais um ano da cidade do Rio, é também uma homenagem a Estácio de Sá, que desbravou estes mares e estas matas", disse o general.

À tarde, Paes inaugurou a terceira sede da Prefeitura: o Palácio Rio 450 anos, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte. O espaço foi aberto com samba, cerveja e a presença da Velha Guarda da Portela. O imóvel de 1920 fica no número 920 da Rua Carolina Machado.

Ilustres sambistas, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Tia Surica aprovaram o Palácio. “A inauguração vai melhorar a infraestrutura ao redor da sede, e o bairro ficará mais valorizado”, opinou Tia Surica. Ainda na Zona Norte, o cardeal-arcebispo Dom Orani Tempesta celebrou missa na Igreja dos Capuchinhos. Na ocasião, Paes leu trechos da Bíblia. A chave recebida na Urca foi então depositada pelo prefeito aos pés da imagem de São Sebastião. Segundo Dom Orani, o poder público tem o caminho de guiar a cidade e a Igreja Católica esteve junto desde o início da fundação da cidade. “Se preservarmos o passado, a Igreja vai continuar desta forma, com o objetivo de ajudar a sociedade. Ainda mais em calvários, como são as crises no mundo e no país que hoje ocorrem. Queremos pedir paz para a cidade, progresso, a diversidade cultural e das religiões.”

A imagem de São Sebastião foi escoltada até a Rua da Carioca, no Centro, por batedores em motocicletas.

Bolo foi saboreado por milhares de pessoas que cantaram o ‘Parabéns’ no CentroFernando Souza / Agência O Dia

Galera devora bolo gigante e se diverte com glacê na Rua da Carioca

O bolo de aniversário foi montado hoje na Rua da Carioca, no Centro. A guloseima tinha 450 metros de extensão e foi devorada por quem prestigiou o ‘Parabéns pra você’. A criançada também aproveitou o momento para se lambuzar e fazer uma guerrinha divertida com as fatias cheias de glacê. O prefeito Eduardo Paes e o governador, Luiz Fernando Pezão, ao que parece, gostaram do bolo.

A grade que ‘protegia’ a iguaria não foi suficiente para conter a vontade de festa da galera mais ansiosa, que, ao perceber a demora de ser servida em ordem, decidiu ultrapassar a área reservada.

“Percebi que pessoas invadiram, então eu disse para as crianças: ‘Vai, aproveita!’”, disse a ambulante Sara Drummond, de 24 anos.

No entanto, a comemoração no Centro começou tumultuada com um protesto de candidatos já aprovados em concurso para a Guarda Municipal, em 2013. A ação foi controlada após representante da prefeitura propor uma reunião para esta terça-feira.

Na noite de sábado, grande show reuniu cerca de 40 mil pessoas na Quinta da Boa Vista, segundo a organização. Vinte e um artistas subiram ao palco. Vanessa da Mata abriu o espetáculo cantando ‘Samba do Avião’, de Tom Jobim. Um dos pontos altos da festa ficou a cargo de Caetano Veloso e Baby do Brasil.
Juntos, eles cantaram ‘Menino do Rio’. O baiano ouviu gritos de ‘lindo’ e ‘maravilhoso’.

“O Rio é a cidade onde morei mais tempo. Quando criança, o Rio era o que eu mais almejava. Viver no Rio é uma glória”, derreteu-se Caetano.

Também brilharam e emocionaram Paulinho da Viola, que cantou ‘Foi um Rio Que Passou em Minha Vida’, e Zeca Pagodinho, com ‘A voz do morro’. Gilberto Gil também foi recebido calorosamente e cantou ‘Aquele Abraço’. Quase à meia-noite, Neguinho da Beija-Flor cantou ‘O Campeão’ (Domingo eu vou ao Maracanã).

Após a contagem regressiva, queima de fogos, ao som de ‘Cidade Maravilhosa’ celebrou a aniversariante do dia.

?Em cada canto, uma tribo bacana

Basta uma voltinha pelo Rio para perceber que cada cantinho da cidade tem a sua tribo. Na Zona Sul, é muito fácil encontrar estrangeiros que escolheram viver tendo a praia como vizinha. Uma delas é a americana Mandy Gulbrandsen, de 39 anos, que mora há quatro anos no Leblon com o marido (executivo de uma multinacional) e a filha.

“Me sinto mais em casa aqui do que nos EUA. Minha filha, de cinco anos, diz que é brasileira (risos). Adoro a praia, o povo carioca e o carnaval. Já desfilei três vezes.”

Marabá morou no Pavilhão e hoje é diretor do Centro CulturalMauro Pimentel / Agência O Dia

A Lapa é outro pedacinho que recebe estrangeiros que pensam em fixar residência na cidade. O perfil, no entanto, é outro. Em sua maioria, são jovens que trazem na bagagem o desejo de crescer profissionalmente aqui. É o caso do inglês Will Stremes, de 22 anos. “Sou do setor de hotelaria e vou trabalhar em um hostel na Glória. A princípio, vou ficar por três meses, mas, se conseguir o visto de permanência, pode ser que eu não volte”, diz o novo morador do reduto boêmio.

Estrangeirismo à parte, a cidade continua recebendo nordestinos que vêm tentar uma vida melhor. O Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas reúne vários deles. O cearense Raimundo Nonato de Abreu, de 23, está há três deles no Rio e já se adaptou perfeitamente. Ele trabalha em uma barraca na Feira de São Cristóvão. “Vim para cá em busca de emprego, mas gostei daqui de verdade”, diz.

A história de Raimundo se parece com a do maranhense Carlos Marabá, diretor cultural do Centro de Tradições, e que escolheu o Rio para morar há 48 anos. “Quando vim para cá, não tinha nem onde morar, dormia no chão do Pavilhão de São Cristóvão. Sou apaixonado pelo Rio.”

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