Por adriano.araujo

Rio - Aos 35 anos e no quarto mandato — tinha 22 anos quando foi eleito pela primeira vez —, Leonardo Picciani é um dos nomes que despontaram na liderança do PMDB em 2015. Sua eleição para líder de bancada na Câmara dos Deputados é considerada uma das derrotas da presidenta Dilma Rousseff em seu segundo mandato. Não é para menos. Nas eleições presidenciais de 2014, Leo — como é conhecido — fez campanha para o tucano Aécio Neves. Em entrevista ao DIA, ele admite que a disputa pela prefeitura do Rio o motiva politicamente e despreza a proximidade de Lula com seu adversário interno, o deputado Pedro Paulo: “A escolha ocorre na convenção, apenas.”

ODIA: Sobre o que as lideranças do PMDB conversarão hoje com a presidenta Dilma Rousseff?

Basicamente, trataremos da participação do PMDB na coalização. Vamos dizer o que tem sido dito pela bancada, da insatisfação do partido ser chamado apenas para resolver problemas no Congresso. Tem que ser chamado para pensar as políticas estratégicas para o país.

O PMDB tem a vice de Dilma e seis ministérios. Não dá para pensar políticas estratégicas?

O partido é governo só aparentemente. Na verdade, está fora do núcleo de decisão. O PT age de forma hegemônica. E isso demonstra que não é verdade a história de que o PMDB quer cargo. O que se deseja é participar do núcleo decisório.

Segundo Leonardo Picciani%2C PMDB está fora do núcleo de decisão. "O PT age de forma hegemônica"Estefan Radovicz / Agência O Dia

A presidenta não gosta do PMDB?

É mito. Talvez ela tenha dificuldade no trato político.

Ela está no segundo mandato.

Ela sempre foi afeita à área técnica. Não tem a vivência política que o presidente Lula tinha. Mas ela tem adquirido traquejo político.

Sobre o núcleo decisório, assim é desde a primeira eleição de Dilma. Já não sabia, antes da reeleição, como é o governo?

No governo Dilma, do PT ou do PSDB, o PMDB sempre se preocupou com a governabilidade. Mas é preciso separar a agenda da governabilidade da agenda ideológica dos partidos. O PMDB tem compromisso com o país, não com a ideologia petista.

O senhor votou no tucano Aécio Neves. O que acha do governo Dilma?

A presidenta faz um governo com muita dificuldade. É preciso mudar as práticas.Há ainda uma crise política e econômica. Mas acredito que é possível superar as dificuldades até aqui.

Quais práticas?

O aparelhamento do Estado pelo PT.

A prática não é só petista. É?

Agravou-se com o PT. A sociedade não aceita mais. O PMDB — certos setores — também tem rever isso.

Vale a crítica para o governo do Rio, que é peemedebista?

O PMDB do Rio adota, desde o governo Sérgio Cabral, critério de eficiência para as nomeações.

Isto também não ocorre no governo Dilma?

Não. No governo federal, o aparelhamento é endêmico. E é completamente diferente do que acontece no Rio.

Diferente em quê?

Como eu disse, o governo do estado respeita critérios de eficiência. Pode haver indicação política — é natural que quem vença governe com aliados. Mas tem que respeitar critérios mínimos de eficiência e de idoneidade. E aqui se adota.

O governo da presidenta Dilma não adota?

Acho que o governo federal, em muitos casos, negligencia. A Petrobras é um exemplo de como negligenciou. Indicou pessoas de carreira na estatal, mas que não tinham idoneidade.

Isto justificaria um pedido de impeachment?

Não há o que justifique. Neste momento, é golpismo.

O seu partido teme ter algum de seus quadros importantes denunciados na Lava Jato?

Não. Se houver denunciados, terão o direito de se defender e lhes caberá demonstrar sua inocência. Que respondam.

Paes vem candidato a presidente em 2018?

Euardo Paes seria o principal nome no partido.

Seria vice de Lula?

O PMDB não vai partir numa discussão de vice. Partiremos da cabeça de chapa.

Seria governador e sucederia Lula, apoiando o PT, como sugerem alguns petistas?

Esta conversa está antecipada. Falta muito ainda.

Seu virtual adversário na disputa pela vaga do partido na sucessão de Paes, o deputado Pedro Paulo, esteve ao seu lado pela liderança do PMDB na Câmara. Pensará nisto ano que vem?

Alimentar a expectativa faz parte do dever político. Sem motivação não se cumpre bem qualquer dever. E disputar a prefeitura me motiva. Fui o quinto deputado mais votado, com mais de 180 mil votos. Mas, neste momento, meu mandato é prioridade.

Líder do PMDB na Câmara dos Deputados%2C Leonardo Picciani diz que disputa pela prefeitura do Rio o motivaEstefan Radovicz / Agência O Dia

Como está a articulação?

O partido tem o presidente da Câmara, da Alerj, prefeito reeleito, governador, muitos deputados. Há um conjunto muito amplo de forças e ainda haverá discussão. Não é este o momento.

Por quê?

Porque o prefeito está na metade do segundo mandato e pode prejudicá-lo.

O senhor diz não querer antecipar, mas Paes e seu escolhido pavimentam alianças com Lula.

A construção de aliança com partidos é processo importante, mas quem escolhe candidato são as convenções. E isso só vai ocorrer em junho do ano de eleição. Esse processo tem calendário.

Não tem peso o apoio de Lula e do PT?

Digo que não adianta tentar antecipar o calendário.

Como vê a presidência de Eduardo Cunha na Câmara, onde ressuscitou pautas conservadoras já arquivadas?

Ele tem demonstrado ser um excelente presidente. O Eduardo não propôs pautas. Desarquivou — um procedimento regimental — projetos arquivados no fim da legislatura anterior.

Acredita que sejam aprovados os estatutos que diminuem a possibilidade legal do aborto e impossibilitem a adoção por casais do mesmo sexo?

Não acredito. Estão sendo discutidos, mas não há clima para proibir adoção por casais do mesmo sexo nem para proibir casos já permitidos por lei para o aborto.

Você pode gostar