Por tabata.uchoa

Rio - Por trás das maiores obras para as Olímpiadas do Rio há grandes mulheres. Perfumadas, de unhas feitas, maquiadas e com cabelos hidratados, elas deram um novo colorido ao reduto cinzento e masculino dos canteiros da construção civil. Atualmente 865 operárias ajudam a tocar, com muita competência, as frentes de trabalho da Linha 4 do Metrô, do BRT Transolímpica, do Parque Olímpico e do Novo Joá.

Para muitas delas, sobra pouco tempo para os afazeres domésticos. Na expansão do Metrô, oito mulheres só querem saber de pilotar máquinas betoneiras. Elas fazem parte das equipes formadas por 575 funcionárias, entre pedreiras, operadoras de ponte rolante, eletricistas, carpinteiras e sinaleiras.

Márcia (acima%2C à direita) e Suzana são armadoras de ferragens na duplicação do Elevado do Joá. Vaidosas%2C elas não descuidam da aparência%2C dando um colorido às obrasBruno de Lima / Agência O Dia

De acordo com levantamento da Secretaria municipal de Obras, os canteiros da Transolímpica e da duplicação do Elevado do Joá empregam 2.342 operários e 153 funcionárias. Suzana dos Santos, 37 anos, armadora de ferragens, é uma delas. Há quatro anos, ao passar em frente à obra do PAC do Complexo do Alemão, criou coragem e pediu um emprego. Ficou com a vaga. Abandonou a função de doméstica para carregar aço, marcar ferragem e dobrar ferro. “O serviço em casa de família era mais pesado. Aqui é menos porque faço com amor”, revela a moradora de Nova Iguaçu. Em sua quinta obra Suzana se sente valorizada ao participar do projeto Olímpico. “Vou dizer a todos que participei da construção do elevado”, diz ela, que não vê distinção entre sexos. “Eles nos respeitam muito”, conta. Há três meses no Novo Joá, Márcia Valéria, 37, exerce a mesma função de Suzana. “É tranquilo. Os homens sempre ajudam”, diz.

Vaidosa, ela não descuida da aparência, mesmo que na maior parte do tempo as unhas grandes e pintadas fiquem embaixo de grossas luvas. Mãe de três filhos, Márcia buscou a área atraída pelos bons salários e a possibilidade de crescer na profissão. Se para ela a atividade é como outra qualquer, os amigos ainda se assustam. “Eles ficam de queixo caído. Tenho que mostrar o crachá”, diz ela, sorridente.

Orgulho de fazer parte da história do Rio

As duas filhas adolescentes de Verônica Santos, 32 anos, já avisaram à mãe: querem ser soldadoras como ela. “Não é mole. Mas é gratificante saber que estou fazendo parte da história do Rio”, orgulha-se a moradora de Duque de Caxias, que entrou no canteiro de obras da Linha 4 do Metrô pela cozinha, cuidando da limpeza e ajudando a servir as refeições. Parte do salário, guardou para o curso de solda. Com o diploma, conquistou uma das vagas.

O engenheiro David Penna, responsável pela frente do Leblon, diz que as mulheres soldam melhor em chapas de aço e tubulações do que os homens. “É uma atividade muito delicada e de precisão. A área tem que estar limpa, livre de poeira e as peças, guardadas no lugar certo. E isso elas fazem muito bem”, elogia. Mãe de três filhas e avó, Fátima Silva, 51 anos, é uma das operadora de pá carregadeira na obra do metrô. Também é admirada pela família. “Só minha caçula não gosta do uniforme”, diverte-se ela, sem abrir mão do batom e dos brincos.

No canteiro da Linha 4 do Metrô%2C no Leblon%2C Verônica solda as tubulações. 'Me orgulho de fazer parte da História do Rio'%2C revelaBruno de Lima / Agência O Dia

Elas são mais cautelosas

Sempre de batom, unhas feitas e cabelo arrumado, Luciene da Conceição Cruz, de 26 anos, dirige o volante de um caminhão betoneira que transporta concreto para as frentes de serviço da Linha 4 do Metrô, na Zona Sul da cidade, a maior obra de infraestrutura urbana da América Latina. Apesar da pouca idade, a habilitação na categoria D vem do tempo em que dirigia coletivos. “Uma amiga era caminhoneira da obra e me disse que precisavam de motorista. O mestre preferia trabalhar com mulheres por causa do zelo, do cuidado com o equipamento e a cautela ao dirigir”, diz ela.

Luciene já ouviu algumas piadas, mas conta com o apoio do namorado, que tirou carteira depois dela, e tem o respeito dos colegas. “Pode parecer diferente, mas na obra é natural. Além do mais, não tenho pretensão de dirigir melhor do que os homens. Apenas faço meu trabalho e acho que dirijo bem. Eles brincam, mas me respeitam”, afirma ela, sobre o ambiente de trabalho.

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