Rio - Eles já foram discotecários, animaram festas em troca de bebida e tinham na sequência musical apenas ‘baladinhas’ da moda. Hoje são profissionais. Sustentam uma família inteira e o trabalho vai muito além de apertar o botão do play. É por esse reconhecimento que, amanhã, os DJs comemoram o dia internacional da categoria. Mas, aqui no Brasil, ainda falta uma grande conquista: a regulamentação da profissão. Desde o fim do ano passado, o projeto, já aprovado pela Câmara dos Deputados, aguarda votação do Senado.
Há sete anos, Rafael Pacheco abandonou a carreira de fisioterapeuta para se dedicar às picapes. O início foi de incertezas, mas a grande surpresa do DJ foi constatar que seu salário havia aumentado consideravelmente. “Ganhava mais fazendo festa do que dando plantão no hospital”, comentou Rafael. Hoje, ele é o queridinho das noivas e tem agenda fechada para festas de casamentos até 2017. Mas para se destacar no mercado musical não foi tão fácil. Rafael precisou se especializar e adotar um perfil que trouxesse diferencial na categoria.
“Não bebo nas festas, me visto bem e sou pontual. Também procuro marcar reuniões com meus clientes meses antes para conversar sobre música”, contou. O sucesso na carreira é tanto que ele abriu uma empresa com um grupo de DJs para eventos.
“Tem muita gente que acha fácil ser DJ, que é só fazer uma sequência de músicas e pronto. Mas não. Minha profissão me exige muito. Eu tenho um cronograma de trabalho todos os dias. Faço reuniões, pesquiso e edito músicas. Um bom profissional tem que ser assim”, completou Rafael.
A regulamentação da profissão é a grande chave para trazer mais seriedade à categoria. O projeto, que aguarda votação no Senado, prevê formação de curso técnico de 800 horas ou experiência mínima de cinco anos na área. “Tem muita boate que coloca qualquer um para tocar. Isso é péssimo para os que trabalham corretamente”, apontou Marcus Cyranka, o DJ Shibe, da boate Zao, em Ipanema, e da rádio Transamérica.
Nos seus 18 anos de profissão, ele já viu muito ‘novato’ se intitular DJ. “A facilidade da tecnologia ajuda essa galera a achar que é profissional. A regulamentação vai exigir empenho e melhorar a qualidade do trabalho”, completou Shibe.
Do anonimato para o posto de celebridade
Se antes eles ficavam escondidos na cabine e as pessoas nem sabiam seus nomes, hoje os DJs são verdadeiros artistas. Maurício Carneiro, o DJ Saddam, é considerado celebridade nas noites cariocas. O sucesso, ele dedica aos precursores da área, como o DJ Marlboro, que trouxe notoriedade à categoria na década de 90. “O Marlboro foi um dos primeiros a ser reconhecido como DJ. Depois dele tivemos muitos nomes que foram alçados à condição de artista”, apontou Saddam, que comanda as carrapetas do Barra Music. Para ele, o sucesso profissional vai muito além da técnica e repertório. “É preciso olhar para a pista e ter vontade de satisfazer aquelas pessoas que vão lá te ouvir”, declarou.
Para sacudir a pista de dança, Rafael Pacheco dá dicas: é preciso agradar aos mais velhos primeiro e falar ao microfone somente o necessário. “Nada de ficar gritando ‘vamos lá galera’. No início da festa, é bom soltar músicas que agradem os mais velhos, pois eles se cansam mais rápido”, concluiu.