Rio - Os garis do Rio de Janeiro decidiram, em assembleia realizada na tarde desta quinta-feira, entrar em greve a partir da próxima meia-noite. A decisão pode tirar das ruas os 15 mil agentes que cuidam da coleta de lixo residencial, comercial e industrial na cidade. O sindicato da categoria definiu como "uma irresponsabilidade e uma provocação da Comlurb a proposta de reajuste salarial anual de 3% (três por cento)".
“Como de hábito, o sindicato da categoria manterá os canais de comunicação com a Prefeitura do Rio de Janeiro e com a Comlurb, na esperança de que uma proposta salarial, sem provocação, possa ser avaliada pela categoria”, afirma Antonio Carlos da Silva, vice-presidente do sindicato.
Segundo Antonio Carlos, a responsabilidade pela greve e o incômodo que a paralisação causará na população do Rio de Janeiro deve ser atribuída à Comlurb e à Prefeitura, que, segundo ele, apresentaram a proposta de reajuste salarial de 3%, portanto, muito interior à inflação do período, na data base que é em março.
“Uma irresponsabilidade e uma provocação que a categoria e o sindicato respondem com a greve que é um direito constitucional”, disse Antonio Carlos.
O pleito da categoria é por aumento igual ao atual índice de inflação anual (7,7%), além de 40% de acréscimo no adicional de insalubridade. Um vale-alimentação de R$ 27 por dia também é requerido. A pedida, considerada alta pelo próprio Sindicato, deve ser reduzida. “Se pararmos, será de forma organizada, cumprindo as exigências da Lei de Greve, e não como em 2014, quando a cidade ficou imunda”, disse Antônio Carlos.
Por meio de nota, a Comlurb lamentou a decisão tomada na assembleia e considerou a greve ilegal, por não ter sido decidida durante a fase de negociação e sem o aviso prévio de, pelo menos, 72 horas previsto na legislação. A companhia informou que entrará com uma ação na Justiça pedindo a ilegalidade da greve e disse esperar que os funcionários trabalhem normalmente.
Ruas ficaram imundas durante greve no Carnaval de 2014
Em 1º de março de 2014, em pleno sábado de Carnaval, os garis do Rio cruzaram os braços e iniciaram uma greve que se estendeu por mais sete dias, mesmo com os desfiles de blocos carnavalescos. A greve não foi liderada pelo sindicato que negocia desta vez. O movimento começou com uma dissidência de 300 trabalhadores que não concordaram com as negociações feitas pelo entidade em fevereiro e, rapidamente, ganhou a adesão em massa da classe.
O pedido era por um salário-base de R$ 1.200, além do adicional de insalubridade e outros benefícios. As ruas, principais palcos da folia, acumularam montanhas de lixo. O aumento foi de 9% no salário, que junto com o adicional de insalubridade chegaria a R$ 1.224,70. O valor do auxílio alimentação diário subiu de R$ 12 para R$ 20.
Confira a nota oficial da Comlurb sobre a greve:
A Comlurb informa que está em período de negociação do Acordo Coletivo dos Garis com o Sindicato dos Empregados e Empresas do Asseio e Conservação do Rio de Janeiro até o dia 31 de março. A companhia reforça que está sempre aberta ao diálogo e lamenta ter sido surpreendida por um anúncio de greve ainda durante a fase de negociação e sem o aviso prévio previsto em lei.
Para decretar uma greve legal, a legislação determina uma notificação com 72 horas de antecedência, além de contingente mínimo que garanta a prestação dos serviços essenciais. Apesar disso, após a assembleia, o sindicato, sem respeitar a lei, decretou uma greve a partir da zero hora desta sexta-feira, dia 13. A Comlurb vai ingressar com ação na Justiça contra a ilegalidade da greve e espera que os funcionários cumpram o seu horário de trabalho normalmente.
A companhia ressalta que, no ano passado, a categoria ganhou 44% de aumento em remuneração e benefícios, enquanto a inflação no período foi de 6,15% (IPCA março 2013/ 2014). Desde 2009, a renda do trabalhador da Comlurb subiu 133%, incluindo melhorias salariais e de benefícios. Os aumentos em seus salários foram maiores que os reajustes do salário mínimo federal. Em 2009 o salário do gari era 5% maior do que o salário mínimo e em 2014 ficou 52% maior.
Os garis da Comlurb, somando os principais benefícios, recebem pacote de remuneração equivalente a R$ 2.140,00, maior do que a renda média do trabalhador brasileiro de R$2.122,00,segundo os dados da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. O salário inicial é de R$ 1.100,00; mais 40% de insalubridade (R$ 440,00) dependendo da função exercida; tíquete no valor de R$ 600,00; vale transporte; plano de saúde e odontológico; seguro de vida; auxílio creche, de R$ 259,90; auxílio ao filho com deficiência, de R$ 476,48, além de cesta natalina.
Ao comparar a remuneração total dos garis de outras regiões metropolitanas com a do gari daComlurb, conclui-se que é a maior entre as principais capitais do Brasil, segundo informações disponíveis na internet, jornais e nos acordos coletivos publicados oficialmente.
DADOS: Comlurb R$ 2.140,00; São Paulo R$ 2.041,67; Belo Horizonte R$ 1.935,20, Vitória R$1.902,58; Porto Alegre R$ 1.724,98, Salvador R$ 1.425,20; Região Metropolitana do RJ R$ 1.235,20.