Rio - Cinco meses após ser reeleita em uma das mais apertadas eleições da história do Brasil, a presidenta Dilma Rousseff (PT) virou alvo de manifestações que levaram mais de 1,5 milhão de pessoas às ruas ontem em 26 estados e no Distrito Federal.
No Rio, a PM estimou que 15 mil protestaram em Copacabana de manhã. Grupos pediram a volta dos militares ao poder. Uma suástica, símbolo nazista, apareceu em um dos cartazes.
Após os atos, o governo federal anunciou pacote de medidas anticorrupção para semana que vem. Protestos em forma de panelaço foram ouvidos em bairros nobres de capitais durante entrevista dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral), que defenderam a reforma política.
Galeria: Protesto anti-Dilma reúne milhares em Copacabana
Derrotado em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não participou dos atos, mas, de sua janela na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, acenou para manifestantes. Em vídeo nas redes sociais, celebrou: “O caminho só está começando a ser trilhado. Não vamos nos dispersar”. Ele disse não ter ido às ruas para evitar um “terceiro turno”.
São Paulo reuniu o maior número de pessoas: segundo a PM, cerca de um milhão ocuparam a Avenida Paulista — ou 210 mil pessoas, segundo o Datafolha. O ex-jogador Ronaldo Nazário participou do ato com uma camisa com os dizeres: “A culpa não é minha, votei no Aécio”.
No Rio, poucos incidentes foram registrados. Um homem com camisa vermelha foi agredido e precisou ser escoltado por PMs para não ser espancado.
Ferrenho opositor do governo, e responsável pelo pedido de impeachment contra Dilma protocolado na semana passada, o controverso deputado federal Jair Bolsonaro (PP) participou do protesto. Durante a semana, ele convocou seguidores do Facebook para acompanhá-lo do Leblon a Copacabana.
Ao lado de cerca de 200 pessoas, ele chegou aplaudido à concentração, no Posto 5, e tirou ‘selfies’ com centenas de manifestantes. Mas, na hora de discursar, foi impedido e, sob vaias, acabou desistindo de tentar subir em um dos trios elétricos e fazer discurso. “Aqui não tem pão com mortadela para ninguém”, disse.
Convocadas pelas redes sociais para protestar contra o governo, as manifestações mostraram diferenças. Em um dos trios elétricos, o movimento Vem pra Rua não defendeu abertamente o impeachment da presidenta, mas não poupou xingamentos a Dilma e ao ex-presidente Lula.
No outro, o Movimento Brasil Livre pregava a abertura do processo de saída da presidenta. E havia ainda os representantes do ResistênciaRJ, abertamente favoráveis à intervenção militar. “O Lula e o PT são a maior ameaça. Lutamos contra o comunismo, e aceitamos os militares de volta”, bradavam lideranças do grupo. As próximas manifestações contra o governo estão marcadas para o dia 15 de abril.
Passeata defende a volta das Forças Armadas
Após o protesto em Copacabana, cerca de duas mil pessoas convocadas pelo grupo Resistência RJ se reuniram à tarde na Igreja da Candelária, no Centro, e pregaram a volta das Forças Armadas ao poder, além de defender a queda imediata da presidenta. O grupo marchou até a sede do Comando Militar do Leste, na Central do Brasil.
Em um trio elétrico, os organizadores pediram uma “nova revolução”, em referência ao golpe de 1964, que depôs o presidente João Goulart e instaurou regime militar, que ficou 21 anos no poder. Eles disseram ser “coxinhas sem problemas”. Na Central, homenagearam o cinegrafista Santiago Andrade, morto quando cobria um protesto em 2014.
Mais cedo, houve tumulto quando um manifestante de direita se irritou ao ver que, no palco, um ativista que incorpora o personagem Capitão Brasil discursava mascarado. “Mostra sua cara!”, gritava o empresário Marcos Cristiano Pereira.
Na orla, os cartazes que defendiam a volta dos militares se diluíram na multidão opositora ao governo. Alguns queriam até ajuda dos Estados Unidos para “salvar o Brasil do comunismo”.
Cartazes em inglês reforçaram o pedido aos militares. “O governo militar está estipulado na Constituição”, afirmou Watson Cravinhos, 33.
Ele foi da Barra da Tijuca para o Centro com um cartaz escrito “Quem não luta pelo futuro que quer, tem que aceitar o que vier. Intervenção militar já”, pregava ele.
Participaram da cobertura: Christina Nascimento, Gabriel Sabóia, Leandro Resende, Lucas Gayoso e Maria Luísa Barros