Por adriano.araujo

Rio - É um espaço com menos de 3 m² que a estudante de Jornalismo Maria Carolina Dias, 21 anos, tem como moradia. Por R$ 800, a paulistana aluga uma dependência de empregada em Botafogo. No local cabem apenas um colchão e alguns pertences. As roupas ficam em um pequeno banheiro improvisado como guarda- roupa. Essa é a realidade para muitos estudantes que vêm de fora do Rio e precisam morar perto da universidade ou trabalho, geralmente em áreas valorizadas.

Morava na Ilha do Governador e não queria mais ter que gastar quatro horas do meu dia só me deslocando”, contou Maria Carolina, que estuda no campus da Praia Vermelha, Urca. “Queria estar bem localizada para realizar tarefas diárias”.

Aluna de Jornalismo da UFRJ%2C a paulistana Maria Carolina Dias ocupa um quarto de empregada%2C em Botafogo%2C onde mal cabe um colchão e seus livros%3A aluguel de R%24 800Maira Coelho / Divulgação

Ela explica que, além de estudar, trabalha em tempo integral em uma empresa no mesmo bairro e ainda assim, sem a ajuda dos pais, não conseguiria arcar com os custos de viver na Zona Sul. “É só para quem realmente tem dinheiro”, conta.

A estudante de Economia Katherine Kardos está na mesma situação. Ela paga, com aluguel e taxas, R$ 850 por dependência de empregada na Rua Lauro Müller, em frente ao campus. “O preço é alto em geral, mas razoável pela localização. Poupo estresse na locomoção entre casa, estágio e faculdade”.

Ela conta que seu quarto é bem pequeno e sequer cabem suas roupas, que ficam numa arara na área de serviço do apartamento. “Hoje, mesmo formada, seria inviável alugar um apartamento”, contou Katherine, que se gradua no fim do ano. Para comparar, apartamentos de 65m² de dois quartos em bairros da Zona Norte, como Penha e Méier, são encontrado por R$ 900 a R$ 1.300.

O estudante paulista Yuri David Esteves%2C que mora em quarto compartilhado%2C em Botafogo%3A vaga por R%24 450Maira Coelho / Divulgação

Mesmo altos, os preços não surpreendem mais. “É justo. Todas as contas estão inclusas, elas têm direito a tudo na casa, podem cozinhar, ver TV, usar a internet”, explicou a dona de casa Conceição dos Anjos, 73. Em seu apartamento, moram quatro estudantes, todas mulheres. Ela cobra R$ 1.400 por um quarto compartilhado para duas pessoas e diz que as meninas costumam ficar pelo menos um ano. “A mais antiga está aqui há três”, contou.

Porém, nem todos têm a mesma “sorte”. O estudante de publicidade Yuri David Esteves, 20, mora atualmente em uma vaga num beliche por R$ 450. “A casa é dividida com mais oito pessoas e, na medida em que a procura aumenta, o senhorio troca os móveis por camas e coloca mais gente”, contou.
Natural de Santos, litoral de São Paulo, Esteves já morou em vários tipos de moradias informais, desde quarto compartilhado com uma pessoa até albergues. “E não há muita brecha para reclamar. Se me expulsam, onde vou dormir e no dia seguinte estudar e trabalhar?”

Com aumento de demanda de vaga na Tijuca, aposentado abre república

O principal meio de encontro entre estudantes e de quem oferece vaga para morar é a internet. Grupos no Facebook e em sites especializados, como o EasyQuarto, são os mais acessados por quem busca moradia. Neles, os preços também impressionam. Quartos individuais chegam a custar R$ 2 mil, na Gávea; R$2,2 mil, em Ipanema; e R$1,6 mil, em Copacabana. Em Botafogo, há até quarto de empregada por R$ 1 mil.

Quarto individual chega a R%24 2%2C 2 mil por mês em site de aluguéisReprodução

“Esses preços já são normais, principalmente em Copacabana e arredores”, explicou Mário Peres, 68 anos. Há sete anos, ele aluga vagas para estudantes e trabalhadores na Praça Saens Peña, Tijuca. As vagas em residências coletivas são as que mais se multiplicam nos arredores da universidade e nos sites.

No endereço de Peres, há três quartos, com beliches, totalizando 12 vagas para homens. “Cobramos R$ 330, mas na Zona Sul os preços giram em torno de R$600 por uma vaga”, comparou. O aposentado contou que começou o negócio quando notou a demanda. “Tem muita gente que não teria como morar de outra forma”, disse.

Mário também contou que sua esposa e três primos têm, cada um, residências parecidas no bairro. O estudante Yuri Esteves faz algumas ressalvas. “Tenho acesso a tudo na casa, mas como é muita gente, a situação fica complicada”, contou. Ele também reclama da estrutura. “O valor é baseado na localização, não na estrutura oferecida, que por vezes é ruim. Já morei em locais em que faltava água, sempre”.

Contrato evita futuros problemas

Cada vez mais popular, esse tipo informal de moradia é cercado por riscos tanto para o locador quanto para o locatário. Nas universidades, relatos de abusos de senhorios se multiplicam na mesma velocidade que história sobre moradores inconvenientes.

“Nesses casos, é tudo muito informal”, explicou o advogado Luiz Antônio Gomes. “Esse mercado surgiu justamente pela dificuldade de essas pessoas darem as garantias de um contrato formal. Isso sem falar nos altos valores”.

Gomes esclareceu que o aluguel de quarto ou vagas em residência particular é regida pela Lei do Inquilinato, porém, como em geral não há nenhum contrato estabelecido nessa relação, as duas partes ficam desprotegidas.

Para evitar transtornos, algumas práticas podem ser adotadas: para quem vai entrar no imóvel, consultar pessoas que já moraram no local; e o senhorio, exigir comprovantes de trabalho e estudo para o locatário.

“O ideal seria fazer um contrato simples entre o senhorio e o estudante ou trabalhador. O bom desse documento é que se estabelece as regras de convivência e tempo de duração mínima para o aluguel do local”, ponderou.

?Reportagem de Flora Castro

Você pode gostar