Por adriano.araujo

Rio - A área mais pobre da Zona Norte e Jacarepaguá são os cenários onde as mortes pelas mãos policiais foram impulsionadas em fevereiro deste ano, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) sexta-feira mostram o aumento de 128,5% (de 21 autos de resistência para 48) na capital.

A frieza dos números só ganha dimensão quando são lembradas histórias como as do ajudante de pedreiro Alan Souza de Lima, de 15 anos, e do vendedor de mate Chauan Jambre Cezário, 19.

Números de autos de resistência disparam no RioArte O Dia

Na madrugada de 21 de fevereiro, policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) atiraram nos jovens, e a filmagem do celular de Alan — que morreu — mostrou que eles eram inocentes e apenas conversavam na comunidade da Palmeirinha, em Guadalupe. Mas o registro feito pelos policiais em delegacia foi de auto de resistência. Armas foram apresentadas como se fossem dos rapazes. Chauan sobreviveu para denunciar o crime, e os PMs passaram a responder inquérito.

“Quantos casos como esses não são elucidados e ficam registrados como autos de resistência? E quantas mortes são de responsabilidade de agentes públicos, muitas vezes de folga, e que não são investigadas como cometidos pela polícia?”, questionou o advogado João Tancredo, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.

Chauan foi baleado em Guadalupe quando conversava com amigosSeverino Silva / Agência O Dia

No mapa da violência policial, chama a atenção o fato de que na área do 16º BPM (Olaria), onde estão os complexos da Penha e do Alemão, as mortes em confronto saltaram de zero para cinco. Na região do 9º BPM, onde a Serrinha e o Juramento estão em conflito, os dados subiram de cinco para 11. O 41º BPM (Irajá), que patrulha os complexos da Pedreira e Chapadão, fez os autos de resistência dobrarem: de cinco para 10.

“Houve queda nos homicídios, mas o aumento nos autos de resistência é muito preocupante, pois historicamente a violência policial lidera e impulsiona a alta de homicídios. Polícia não é feita para matar”, afirmou a cientista social Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

Mais casos também em Jacarepaguá

Mesmo sem apresentar alta de registros de confrontos com traficantes, com o no Complexo do Alemão, Jacarepaguá também teve aumento nos autos de resistência em fevereiro, comparados com o mesmo mês de 2014. Segundo os dados do ISP, foram seis casos contra apenas um no ano passado.

Um policial civil, que trabalha na região e pediu anonimato, acredita que as mortes são resultado do aumento de roubos. “Registramos na delegacia pelo menos três casos em que ladrões foram flagrados pela PM e atiraram nos homens do 18º (BPM, Jacarepaguá). Nas três tentativas de assalto, os bandidos foram mortos”, relatou o inspetor.

Para a cientista social Sílvia Ramos, a estratégia de confronto, muitas vezes, está errada. “No Alemão, por exemplo, não é cabível que o policial da UPP, que tem que fazer o trabalho de segurança comunitária, entre em confronto, se exponha e morra ou mate. Quem tem que entrar lá, nesses casos, são as forças especiais e prender o bandido. Quando a polícia mata, houve um problema, de planejamento ou operacional.”

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