Rio - O agente do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), sequestrado por criminosos quando voltava para a casa, em Bangu, foi torturado por 16 horas, até conseguir fugir. Durante esse tempo, ele ficou amarrado numa árvore, no alto do Morro do 48, no mesmo bairro, com os braços presos com fios e a cabeça enrolada em fita adesiva. Além de levar coronhadas, chutes e socos, a vítima ainda teve que se deitar para que os bandidos passassem três vezes por cima dele de moto. Pouco antes de conseguir se desamarrar, numa distração do grupo, ele já tinha recebido a ‘sentença’: seria queimado, no chamado microondas, no início da noite.
O drama de X., que é lotado no Educandário Santo Expedito (ESE), em Bangu, começou por volta da meia-noite de terça-feira. Ele tinha deixado o plantão na unidade, onde naquele dia havia ocorrido uma rebelião, quando foi abordado por dois jovens, com pistolas, que estavam em motocicletas. O agente foi cercado em frente a um posto de gasolina, a poucos metros de casa, e foi obrigado a seguir numa das garupas. Um dos menores disse para X. que o reconheceu como sendo funcionário do Degase e que, por isso, o levaria para dentro da comunidade. O adolescente era ex-interno e tinha cumprido medida socioeducativa no ESE.
Durante o período em que ficou amarrado, X. ouviu conversas dos criminosos, por telefone, com o chefe do tráfico do morro, que pertence a facção Comando Vermelho. Os bandidos queriam autorização para matá-lo. A permissão foi dada, e o grupo decidiu que ele seria morto, às 18 horas, queimado. O agente, que trabalha há apenas um ano no sistema Degase, também ficou sabendo pelos bandidos que eles acompanhavam a rotina de alguns funcionários.
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X. conseguiu escapar por volta das 16 horas, quando policiais do 14º BPM (Bangu) se preparavam para entrar na comunidade para resgatar o agente. Preocupados com a presença dos militares, os criminosos o deixaram sozinho, o que facilitou sua fuga. Ele está internado para fazer exames, mas está decidido a não voltar mais casa. Para o presidente do Sind Degase, João Luiz Pereira Rodrigues, o caso, além de extremamente grave, mostra a fragilidade na segurança dos agentes. Ele defende o porte de arma fora das unidades.
“Vivemos a rotina do medo. Esse agente nasceu de novo. A realidade não permite que nossos funcionários fiquem circulando sem ter como se defender. Se ele tivesse armado, pelo menos teria como reagir. Temos diversos colegas que estão sendo assassinados todos os anos no país. Em 2013, no Rio, perdemos três colegas. É preciso tomar uma atitude. Dentro da unidade, precisamos do EPI (Equipamento de Proteção Individual), para que não ocorra como na rebelião do Santo Expedito. Naquele dia, os agentes tiveram que correr para a rua porque os menores estavam com armas improvisadas”, alertou ele.