Por daniela.lima

Rio - A menos de 500 dias para os Jogos Olímpicos, a despoluição dos rios cariocas e fluminenses continua sendo um dos maiores desafios para o estado. Com o projeto mais caro, orçado em R$ 28,8 bilhões, e sete anos para se preparar para as competições esportivas, a cidade não conseguiu melhorar a qualidade de suas águas. 

Paraíba do Sul, situação%3A irregularValmir Oliveira / Folha da Manhã / 28/10/2014


No mais amplo mapeamento já feito até hoje em rios, córregos e lagoas de seis estados brasileiros, a Fundação SOS Mata Atlântica chama a atenção para a piora na qualidade da água no Brasil, sobretudo nos estados do Rio e São Paulo, afetados pela crise hídrica.

Na cidade do Rio de Janeiro, o estudo detectou uma piora em dez dos 15 pontos analisados, entre março de 2014 e fevereiro de 2015, quando as amostras foram coletadas. Dez locais estavam ruins e só cinco ficaram dentro dos padrões regulares. São eles: Canal do Jockey, Rio Cabeças, Rios dos Macacos (Jardim Botânico), Rio Carioca (Flamengo) e Canal Visconde de Albuquerque (Leblon).

A situação é crítica nos canais do Mangue, do Jardim de Alah e de São Conrado e nos rios Maracanã, Joana e Trapicheiros. No ano passado, nove pontos estavam regulares e seis, ruins. Nenhum rio ou lagoa analisado na capital atingiu os níveis bom ou ótimo.

Em todo o estado foram analisados 175 pontos em 12 rios, além da Lagoa de Araruama, que atravessa seis localidades. Assim como na cidade do Rio, nenhum foi considerado ótimo. Em outros 120 locais, a qualidade da água dos rios e lagoas apresentada era regular; e em outros 16, ruim.

Em apenas 39 pontos, a análise foi boa. Alvo de uma disputa acirrada, as águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastecem cerca de 15 milhões de pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram consideradas regulares. 

Rios fluminenses pedem socorroDivulgação


“A falta da água na Região Sudeste é agravada pela indisponibilidade decorrente da poluição e não só pela falta de chuvas”, alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Segundo a ambientalista, os rios classificados como ruins e péssimos não podem ser utilizados para abastecimento humano e produção de alimentos, diminuindo bastante a oferta de água.

Para a pesquisadora, é essencial recuperar os rios em áreas urbanas e investir em saneamento, gestão dos resíduos sólidos e na recuperação das áreas de preservação. “A situação no Rio infelizmente não é boa. A falta de coleta de lixo, o uso intensivo de agrotóxicos e o desmatamento deixou o estado numa dependência muito grande de São Paulo e Minas”, diz. 

Calor afetou a capital

Se por um lado a estiagem afetou o abastecimento em São Paulo, por outro diminuiu o escoamento de poluentes para os rios e córregos do estado, que são levados pelas águas da chuva. “Com a seca, os pontos monitorados deixaram de receber lixo, óleo, poeiras, fezes de animais e foligem de veículos”, explica a pesquisadora Malu Ribeiro.

Em São Paulo, dos 53 pontos de coleta, o percentual de amostras com qualidade regular subiu de 30,2% para 50,9%. Assim como no Estado do Rio, nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo. Nos rios da capital fluminense o processo foi outro. Além do despejo de esgoto e lixo nas margens dos rios, o calor favoreceu a formação de algas que consumiram o oxigênio da água, provocando mau cheiro e perda da qualidade.

A coleta para o levantamento, que tem como base a legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é realizada por meio de um kit que analisa 16 parâmetros, entre eles os níveis de oxigênio, o PH e o aspecto visual. A água é classificada em pontos que vão de 14 (péssimo) a 40 (ótimo).

A iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica é aberta à população em geral, que pode participar dos grupos de monitoramento ou ajudar a criar novas equipes para acompanhar a situação de rios próximos a escolas, igrejas e outros centros comunitários.

Os grupos fazem a medição uma vez por mês e enviam os resultados pela internet. Interessados em participar devem escrever para info@sosma.org.br. A listagem completa de rios, córregos e lagoas avaliados está disponível na Internet, no link http://bit.ly/Agua2015.

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