Por felipe.martins

Rio - Antes e depois do exaustivo expediente na UPP do Lins, na Zona Norte, um policial encara verdadeira maratona: são quase nove horas horas na estrada, de ônibus ou de carro, para chegar e sair do expediente. Morador de Cordeiro, na Região Serrana, o soldado sai de casa à 1h para percorrer os mais de 190 km que o separam do seu local de trabalho. A partir desta semana, ele e outros 500 policiais de UPPs vão começar a fazer o caminho inverso — serão transferidos para unidades próximas de onde residem.

“Passo um dia na estrada e o outro no trabalho. Não descanso direito porque deito é já tenho que sair de novo”, disse um soldado, que pediu para não ser identificado. Ele diz que chega ao trabalho cansado, e ainda tem que desempenhar função que exige atenção e dedicação. “Mal tenho tempo para ficar com a família. Essa transferência vai cair do céu”, comemora.

Além do cansaço, ainda entram na conta dele os gastos com transporte: por mês, são R$ 800 em pedágios e gasolina. Se for de ônibus, dá R$ 96 de passagem por dia. Ele faz a viagem há quatro anos, desde que passou no concurso para a PM. Será transferido para o batalhão de Friburgo, a 30 minutos de sua casa.

O desgaste físico e emocional dos policiais por conta do percurso fez com que o comandante-geral, coronel Pinheiro Neto, batesse o martelo semana passada sobre as mudanças, publicadas a partir de hoje no Boletim da PM. “É nosso objetivo o retorno dos policiais para unidades o mais próximo possível das suas residências, pois acreditamos que assim poderá trabalhar mais motivado”, afirmou Pinheiro Neto, ressaltando que será a primeira de uma série de mudanças.

Parte dos 9.543 policiais que atuam nas 38 UPPs do estado, vêm de fora da cidade do Rio. Como o concurso para a corporação é estadual, eles podem ser lotados em qualquer unidade.

Policiais transferidos reforçarão os batalhões de 11 cidades

A transferência dos 501 policiais das UPPs também vai funcionar como um reforço para batalhões de 11 cidades da Baixada e Interior. Eles vão compor os quadros das unidades de Friburgo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Queimados, Macaé, Itaboraí, São João de Meriti, Belford Roxo, Teresópolis, São Gonçalo e Niterói.

No total, 1.300 policiais que trabalham nas UPPs moram em outras cidades, segundo levantamento feito pela corporação. A ideia é que todos sejam transferidos para unidades mais próximas de suas casas, de acordo com um critério de antiguidade: policiais lotados há mais de três anos nas UPPs do Rio, serão mudados mais rápido.

A PM garante que não haverá perdas de efetivo no policiamento das comunidades ocupadas. Os militares que moram nessas cidades serão substituídos por outros policiais recém-formados, chamados do último concurso.

Ainda de acordo com a Polícia Militar, as mudanças também não prejudicam as futuras ocupações, como a do Complexo da Maré, por exemplo, que já está em andamento. Duzentos PMs substituíram militares do Exército no mês passado, o que marcou o início do processo para a implantação de quatro UPPs no conjunto de favelas. Ocupada há pouco mais de um ano pela Força de Pacificação, a chegada da UPP na região foi adiada três vezes por falta de efetivo formado.

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