Por paloma.savedra
Após o terremoto no Nepal%2C Felipe se abrigou em um estacionamento com outros estrangeiros. O carioca buscou ajuda da embaixada brasileira%2C mas reclamou do atendimentoReprodução Facebook

Rio - Foram seis horas de desespero até a bancária Cristiane Freire, 49 anos, receber notícias de seu filho, Felipe Freire Moulin, 27, que estava no Nepal, quando ocorreu o terremoto no último sábado, deixando mais de 3 mil pessoas mortas. No entanto, apesar de estar em contato com o jovem, a angústia da família do brasileiro não termina. Em um áudio enviado aos pais, o arquiteto reclama do atendimento da embaixada brasileira em Katmandu, capital do país asiático: segundo ele, nenhum tipo de ajuda foi oferecida — nem mesmo água. Também houve recusa para acampar na área externa do prédio. Agora, ele continua esperando uma ajuda para voltar ao Brasil.

"Me senti desrespeitado. Andei muito até o local para conseguir falar com eles", declarou Felipe, depois de relatar as recusas no atendimento da embaixada no país. "Eles falaram que não podem me ajudar em nada, além de me oferecer uma ligação rápida para quem eu quisesse. Eu perguntei se eles poderiam me ajudar a achar uma passagem de avião para eu sair daqui do Nepal e eles disseram que não, que o sistema está fora do ar", contou Felipe, que conseguiu fazer o primeiro contato com a família seis horas após o tremor, usando o telefone de um finlandês. 

O brasileiro viajou para o Nepal para participar de um retiro espiritual. Logo após o terremoto, ele e outros colegas correram para um estacionamento aberto, onde estão acampados desde então. Felipe, que não está ferido, disse que o local é como um campo de refugiados: "Há pessoas de várias nacionalidades. Quem tem saco de dormir, dorme nele. Quem não tem, dorme no chão. Tem um banheiro, que já está muito sujo, e uns seguranças que mantêm minimamente a ordem", contou. 

No áudio, Felipe diz ainda que outras embaixadas estavam oferecendo suplementos aos seus cidadãos e que até isso foi negado: "Eles falaram que o único suplemento que têm é de material de limpeza. Eles também disseram que não podem dar indicação nenhuma de lugar onde comprar água, que o mercado onde eles compram coisa é o mesmo que a gente compraria. Que estava difícil para todo mundo".

"Perguntamos sobre acampar no quintal da embaixada. Eles falaram que não, que não sabem se o prédio é seguro, e que a qualquer momento pode ter um terremoto. Eu falei que o terremoto atinge lá dentro quanto lá fora, que diferença faz, pelo menos estaríamos mais seguros", lembrou Felipe, que diz estar sem dinheiro: "As casas de câmbio estão fechadas. O meu dinheiro está acabando, tenho que achar um lugar para achar dinheiro. A embaixada também não me indicou nenhum lugar, eles poderiam estar me ajudando também nisso".

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'Aquilo é um pedaço do Brasil no Nepal', diz mãe do jovem

Inconformada com o atendimento da embaixada no Nepal, a mãe do jovem disse que está em contato com o Itamaraty no Brasil e, segundo ela, aqui, o serviço tem sido ótimo. Porém, se diz decepcionada com o que ocorre no Nepal. "Aquilo é um pedaço do Brasil. Os brasileiros de lá deveriam estar unidos em um local, como outras embaixadas estão fazendo", criticou.

"Está difícil. Não estamos recebendo o apoio da embaixada como o Itamaraty disse que teíamos. Fizemos um esforço para coseguir falar com ele e indicar o endereço. Ele andou 4 km até o prédio. Eles podem não ter água, mas poderiam oferecer abrigo aos brasileiros, uni-los para que voltem logo", declarou Cristiane.

A brasileira contou que a primeira pessoa a saber do tremor foi a irmã de Felipe, Carla Moulin, 29, que está na Austrália. A jovem chegou a ligar para o retiro e recebeu anotícia de que o irmão não estava mais lá, assim como outros participantes. Agora, Felipe acessa a internet em alguns restaurantes, onde também chega a usar os banheiros. 

Itamaraty identifica 96 brasileiros no Nepal

Até o momento, o Itamaraty recebeu informações de famílias de 96 brasileiros que estão no país asiático. Também não há registro de brasileiros entre os mortos.

Por meio de nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou ainda que a Embaixada do Brasil em Katmandu organizou um centro de atendimento no Aeroporto de Katmandu, reaberto neste domingo. Disse ainda que os brasileiros localizados pela Embaixada e pela Divisão de Assistência Consular do Itamaraty não sofreram ferimentos e "estão recebendo toda a assistência consular cabível". 

Ainda segundo o ministério, equipe da Embaixada do Brasil em Nova Délhi foi deslocado para reforçar a equipe do Embaixada em Katmandu, com o objetivo de ampliar o atendimento aos brasileiros no Nepal. 

A assessoria do Ministério das Relações Exteriores não se pronunciou sobre o caso do carioca Felipe. Disse que todos os brasileiros que procuraram a embaixada foram atendidos e estão recebendo assistência consular.

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