Rio - Cem praças e parques do Rio amanheceram nesta quarta-feira cobertas de faixas, cartazes, fitas e símbolos da campanha 'Redução Não é Solução', contra a aprovação do projeto que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos no país. Jovens de movimentos sociais e estudantes secundaristas enfeitaram os locais à noite e durante a madrugada. A pipa, símbolo da campanha no Rio, além das cores laranja e roxo, está exposta de várias formas e tamanhos nos logradouros públicos do Estado. No domingo, no entorno do Estádio do Maracanã, onde acontecerá a final do Campeonato Carioca entre Vasco e Botafogo, está previsto um Pipaço para dar visibilidade a causa.
GALERIA: Manifestação contra a redução da maioridade penal
"Queremos propor o debate sobre o tema para a população em todo o país. Muita gente é a favor da redução da maioridade penal, mas não sabe os argumentos, o que pensa quem é contrário. Queremos despertar o interesse, iniciar o debate. Países que reduziram a idade não baixaram os índices de criminalidade", argumentou o estudante secundarista Matheus Gondar, de 18 anos.
A campanha de âmbito nacional, em 23 estados e com mais de 1.200 pessoas inscritas, é inspirada no movimento uruguaio "No a la baja", que em 2014 conseguiu evitar a redução da maioridade penal no país vizinho. Com cola, papel, tinta, jornal, tecido e criatividade, jovens de várias idades se reuniram em praças para promover o Amanhecer Contra a Redução da Maioridade Penal, chamando a atenção através das mensagens expostas nas praças e tentar incentivar o debate sobre o Projeto de Emenda Constitucional número 171, de 1993, aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, ainda sem data para ser votado.
"Acredito que os menores de idade têm que ser educados e não encarcerados. É educação e não prisão. O que será deles se forem jogados em uma cela com líderes de facções criminosas? O sistema carcerário no Brasil é precário. Numa cela onde cabem 15 pessoas, sobrevivem 500", justificou Matheus Gondar. Ele e outros cerca de 40 jovens vararam a madrugada promovendo o protesto nas praças São Salvador e José de Alencar, no Flamengo, e no Largo do Machado, no Catete.
Ainda de acordo com o Matheus, uma denúncia de que os jovens estariam promovendo arruaça e depredando o patrimônio público levou policiais do 2ºBPM (Botafogo) a abordá-los na Rua do Catete, quando se dirigiam para o Largo do Machado, após enfeitar as praças São Salvador e José de Alencar. O mal entendido foi desfeito e ninguém foi detido.
A movimentação dos jovens teve início no fim da noite de terça-feira. Por volta das 23h, o Largo dos Leões, no Humaitá, também na Zona Sul, foi ornamentado. No local uma grande faixa na cor laranja pedia 'Não a redução da Maioridade Penal'. Na Praça XV, no Centro, adesivos com o dizer '+ Escolas - Cadeias' e pipas com a frase 'Voa Liberdade', dois símbolos da campanha, estão expostas no monumento principal, em frente ao Paço Imperial, onde a Princesa Isabel assinou, a Lei Áurea libertando os escravos, no dia 13 de maio de 1888.
Movimento nasceu nas redes sociais
A também estudante secundarista Magdalena Vianna, 17, disse que resolveu se integrar ao movimento para tentar impedir uma medida que ela acredita que possa aumentar a violência e exacerbar o preconceito no Brasil.
"É uma medida preconceituosa. Quem vai para a prisão, como sempre, são os negros e pobres. Não resolve o problema. As prisões no Brasil são locais degradantes. As pessoas saem de lá mais violentas do que quando entraram. Queremos a juventude na escola e não na cadeia", defende Magdalena.
Segundo os jovens que participaram da ornamentação, o movimento 'Redução Não é Solução' nasceu nas redes sociais e não tem líderes. O grupo de participantes do 'Amanhecer' promete se reunir após a ação para avaliar os resultados, a repercussão e debater os próximos passos e ações a serem tomadas pára dar visibilidade ao movimento. No total, segundo eles, 300 praças em todo o Brasil devem amanhecer ornamentadas.