Rio - O destino dos animais silvestres apreendidos pela Polícia Ambiental do Rio está a 250 quilômetros da cidade. Sem verba para compra de alimentação, por conta do atraso de repasse estadual, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) suspendeu temporariamente o recebimento de animais apreendidos no único centro de triagem do estado, em Seropédica, passando a responsabilidade para uma unidade em Lorena, no Estado de São Paulo. A crise já dura dois meses e a previsão é que a situação só seja normalizada em junho.
Desde quando o Ibama passou a rejeitar a entrada de animais capturados pelos órgãos fiscalizadores, em março, a Polícia Ambiental tem deixado de atender a casos pequenos, dando prioridade apenas às operações e grandes denúncias. “Não deixamos de fiscalizar as feiras e nem de atender as demandas que chegam pelo disque-denúncia. Mas nos casos que envolvem pequenas quantidades não vamos”, explicou o comandante da Polícia Militar Ambiental, o coronel André Vidal.
A rotina do batalhão teve que se adaptar à crise. A preferência por grandes apreensões é para sustentar a viagem de mais de 250 quilômetros para Lorena. “Enchemos duas viaturas, em média, uma vez por semana, e vamos para São Paulo. Não fazemos operações no fim da tarde para o animal não ficar muito tempo no batalhão”, esclareceu o comandante.
No último domingo, agentes apreenderam em uma feira de Duque de Caxias, 35 periquitos do Nordeste, espécie rara na Região Sudeste. O transporte para São Paulo será feito hoje pela manhã.
Os 300 PMs da corporação e os três veterinários são responsáveis pelos primeiros cuidados aos animais. “Capturamos estes bichos em condições muito precárias, com gaiolas pequenas e casos de desidratação. Acondicionamos eles em locais adequados e cuidamos, mas não é a mesma coisa de quando levávamos para o centro”, completou.
A falta de verba para compra de alimentos havia sido noticiada pelo DIA, em março, quando a Secretaria Estadual do Ambiente estava pendente com a assinatura do termo de reciprocidade, medida firmada entre o Ibama e o Fundo Brasileiro de Biodiversidade (Funbio). De acordo com o instituto, o documento, que transfere o aporte de R$ 211 mil para compra de insumos, deveria ter sido assinado em dezembro de 2014, mas só foi feito no fim do mês passado, o que comprometeu a compra.
Em nota, a secretaria justificou a demora na troca de gestão da pasta, pois o novo secretário, André Corrêa, assumiu os trabalhos em janeiro. A Funbio está em processo de seleção das empresas que fornecerão os alimentos para então efetivar a compra, que deve ser oficializada até o mês que vem.
Traslado pode até causar morte
A viagem dos animais apreendidos para São Paulo é motivo de preocupação dos biólogos. Professora do departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ), a bióloga Alexandra Pires alerta que o traslado dos bichos pode levá-los até a morte.
“O estresse causado pela viagem gera consequências fisiológicas. Eles podem se bater nas gaiolas e, por conta da demora, ficam até sem comer, pois se sentem presos.”
Para o biólogo David Zee, a transferência dos bichos para outro estado pode causar desequilíbrio no ecossistema do Rio. “ Cada habitat comporta um limite de animais. Pode haver superpovoamento em São Paulo e desequilíbrio de algumas espécies aqui, principalmente com os pássaros.”
O Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Seropédica, administrado pelo Ibama, está com 1.300 animais em atendimento. Anualmente, a unidade recebe cerca de sete mil animais, dos quais 80% vêm de operações policiais.
Em nota, o Ibama informou que “continua recebendo normalmente animais das espécies ameaçadas de extinção, resgatados pelos bombeiros e entregues pela população”.