Por nicolas.satriano

Rio - Área tomada pelo Comando Vermelho (CV) e de importância estratégica para a criminalidade que dita as ordens no Complexo do Chapadão, na Zona Norte, o Condomínio Village Pavuna, na Praça Belo Monte, foi alvo de ação realizada pelos Batalhões de Operações Especiais (Bope) e Ações com Cães (Bac), na tarde desta quarta-feira. A determinação para o pente fino nos arredores do conjunto de 27 favelas, considerado o novo Quartel General do CV, foi dada pelo Estado-Maior da corporação, em decorrência dos recentes conflitos — como o que vitimou o sargento Fábio Sant’Anna Albuquerque, na última segunda-feira.

Armas e drogas, encontradas em carros, evidenciaram o drama vivido pelos moradores dos 23 blocos do condomínio. A construção dos anos 1970 tem hoje acesso tão difícil quanto o de qualquer outra favela. Pior: camuflados em meio às residências, traficantes trocam suas bases entre os andares com frequência, tornando sua localização um desafio à parte. A visão privilegiada que têm das incursões policiais e os corredores estreitos são outros trunfos para agirem livremente.

Tráfico no Chapadão estende a violência a bairro vizinhos. Moradores têm toque de recolher e convivem com venda de drogas em localidadesBruno de Lima / Agência O Dia

É por lá que boa parte dos veículos roubados no Rio vai parar, antes de encaminhados para desmonte ou para o interior das comunidades. “Nosso principal desafio é a identificar em que apartamentos eles (traficantes) agem e realizar ações pontuais, com inteligência. É impossível entrar com um veículo blindado, por exemplo”, explica o comandante do 41º BPM (Irajá) Marcos Antônio Netto.

No condomínio, a lei do medo impera. Moradores convivem com toques de recolher e comércio de entorpecentes, e não se atrevem a falar sobre o assunto. “Meus filhos estão crescendo diante do tráfico e não consigo sair daqui”, desabafou uma moradora na página Pavuna da Depressão, pouco após a incursão policial.

Em anúncios, moradores fazem de tudo para se livrar de imóveis. residenciais que, há três anos custavam R$ 200 mil, hoje são ofertados por R$ 75 mil. Para a 39ª DP (Pavuna), foi levada uma pequena amostra do que passa por lá. Além de 15 veículos roubados, em meio aos carros dos moradores, foram localizados um fuzil, uma submetralhadora e duas granadas. Dez litros de cheirinho de loló, mais de dois quilos de cocaína, 161 pedras de crack e 304 trouxinhas de maconha, além de materiais para endolação foram recolhidos.

No Dia das Mães, 656 detentos sairão das celas para visitar famílias

Principais líderes do tráfico à solta no Complexo do Chapadão, Ricardo Chaves de Castro Lima e Cláudio José da Silva Fontarigo — o Fú e Claudinho da Mineira, respectivamente — fugiram do sistema penitenciário após terem recebido o benefício de visita à familiares. Autorizados pela Justiça, ambos saíram sem monitoramento e nunca mais voltaram às prisões.

Às vésperas do dia das Mães, 656 internos receberam autorização judicial semelhante para visitas, no próximo domingo. Eles deverão sair às 6h e volta rpor conta própria às 22h. O benefício é concedido aos detentos que cumprem pena em regime semi-aberto. De acordo com a presidente do Conselho Penitenciario do Estado do Rio de Janeiro, Maíra Fernandes, o benefício é concedido após análise do perfil do preso e seu his´torico enquanto detento.

“O risco de não voltarem existe, assim como trabalho no extra-muros e cumprimento de pena em regime semi-aberto, mas a lógica é de ressocialização”, afirma. No Natal, quando a autorização foi dada a 273 presos, três não voltaram às carceragens.

Segundo o comando do 41º BPM, a localização de Fú e Claudinho da Mineira, assim como o do autor de disparo que atingiu o sargento Albuquerque, é “prioridade”.

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