Por nicolas.satriano

Rio - O martírio de quem precisa de transporte público no Rio parece não ter fim. Um dia após a barca Vital Brazil ficar à deriva quando iria atracar na Estação Cocotá, três bandidos fizeram arrastão num ônibus que saíra da Ilha do Governador para o Centro. Entre as vítimas do assalto no ‘frescão’, da linha Bancários-Castelo, estavam passageiros que, na quinta-feira, ficaram quase três horas para ser socorridos na embarcação acidentada.

Na delegacia, uma mulher lamentava ter sido vítima do assalto e do acidente da barca na vésperaSeverino Silva / Agência O Dia

Os criminosos estavam com granada e pistola. Eles renderam o motorista e deram uma coronhada na cabeça de um rapaz, que, nervoso, não conseguiu destravar a senha do celular para o ladrão. “Por causa do acidente, a estação não funcionou hoje (ontem). Então, tive que vir trabalhar de ônibus. No penúltimo ponto da Ilha, antes de pegar a Linha Vermelha, eles subiram. Dois sentaram, e o outro ficou em pé. Logo em seguida, anunciaram o assalto”, contou o técnico em Segurança do Trabalho André Nunes, 43 anos, que ficou sem a aliança, o celular e R$ 60. O caso foi registrado na 21ª DP (Bonsucesso).

No ônibus, estavam cerca de 40 pessoas. Os bandidos obrigaram o motorista a alterar a rota da Linha Vermelha para a Avenida Brasil, onde desceram na entrada da favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. “Parece que tinha que acontecer. Só pego a barca porque me sinto mais segura, mas justamente quando vou de ônibus, acontece isso. Parecia um filme de terror, aquela granada e arma ameaçando a gente o tempo inteiro. Espero que a barca volte logo a funcionar porque não quero pegar ônibus de novo segunda-feira”, disse uma mulher, que não se identificou.

Os 732 passageiros que estavam a bordo da embarcação Vital Brazil foram resgatados em duas embarcações enviadas pela Capitania dos Portos%2C nesta quinta-feiraAlexandre Brum / Agência O Dia

Ontem, a concessionária CCR Barcas, a equipe da Agência Reguladora e da Secretaria de Estado de Transportes passaram o dia apurando as causas do acidente. A embarcação, que saíra da Praça 15, bateu no píer flutuante da Estação Cocotá, que não está funcionando.

O secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, disse que não tem dúvida que houve falha mecânica. “Sabemos que o motor de reversão, acionado quando a barca vai atracar, não funcionou. O comandante fez uma manobra correta, mas bateu no píer e na ponte flutuante. A segunda falha que está sendo apurada é sobre o protocolo adotado pela concessionária. Pelas reclamações que recebemos, tudo leva a crer que a CCR não atuou de forma adequada avisando aos passageiros”, explicou ele. Segundo Osório, se confirmadas as falhas, a empresa pode receber de uma multa severa a uma advertência.

Transtorno com ônibus

Para tentar contornar o transtorno dos passageiros, a Secretaria de Estado de Transportes acionou plano de contingência de manhã. Sete ônibus saíram da estação de Cocotá nos horários em que embarcações partem para a Praça 15.

As empresas foram informadas que deveriam colocar 100% da frota nas ruas. Segundo o secretário estadual de Transportes, Carlos Osório, os passageiros receberam vale e não pagaram tarifa.

Homem levou coronhada por ter tido dificuldade de liberar o celularSeverino Silva / Agência O Dia

Pelo menos 350 pessoas foram levadas até o Centro. À noite, o plano foi suspenso, porque os ônibus não teriam como para na Praça 15.

Procon autua a CCR Barcas

O Procon Estadual autuou, ontem, a CCR Barcas, por causa do acidente. A empresa tem um prazo de 15 dias para fazer sua defesa. Se eles não apresentarem argumentos ou se as explicações não forem aceitas pelo departamento jurídico do Procon, a concessionária será multada. O valor ainda não foi definido, porque será calculado com base na previsão de lucro da empresa nos últimos três meses.

De acordo com o Procon, o acidente infringe várias normas que garantem os direitos do consumidor estabelecidos por lei. Um deles é fornecer, sendo uma concessão pública, um serviço adequado que deve satisfazer, entre outras coisas, as condições de continuidade, segurança e eficiência. A condição vale em especial para os serviços considerados essenciais, como o de transporte aquaviário.


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