Por adriano.araujo

Rio - Na madrugada de sexta-feira, por volta das 4h30, cerca de cinco horas após duas pessoas serem assassinadas numa cervejaria a aproximadamente três quilômetros, ninguém atendeu o telefone na 24ª DP (Piedade), e o balcão estava vazio. Nenhum policial podia ser visto na delegacia.

A realidade na Piedade era a mesma de outras delegacias aonde equipes do DIA foram durante a semana, a mesma em que a Corregedoria da Polícia Civil começou a investigar, por ordem do chefe de Polícia, Fernando Veloso, se agentes fecham delegacias de noite.

Na Pavuna, veículos foram colocados na porta da delegacia, dificultando a entrada na unidadeOsvaldo Praddo / Agência O Dia

O DIA percorreu 14 delas e registrou flagrantes que podem ajudar a esclarecer dúvidas sobre o atendimento. Mesmo em unidades centrais, como a 4ª DP (Central), que funciona no prédio da Secretaria da Segurança Pública, o panorama era de grades cerradas e carros impedindo o acesso.

E, segundo um policial militar que trabalha na região, a realidade flagrada pelo DIA é rotina. O agente, que pediu para não ser identificado, conta que ele e sua equipe já tiveram “vários problemas para registrar ocorrência na 4ª DP”.

Experiente, ele explica que, muitas vezes, os policiais militares vão direto para a 5ª DP (Gomes Freire), que funciona a noite toda. Mas não deixa de criticar a falta de atendimento na 4ª DP. “O cidadão que se depara com esse cenário não pode crer que será atendido”, reclama o policial.

Dias antes do flagrante na 4ª DP, a 30ª DP (Marechal Hermes) apresentava meia-luz, sem a presença aparente de policiais na recepção e com três carros parados na entrada. Os cenários eram distintos na 34ª DP (Bangu) e na 33ª DP (Realengo). Na primeira, havia iluminação, mas nenhum policial podia ser visto. A outra estava na penumbra, mas havia pelo menos um agente de plantão.

Na 4ª DP%2C além das grades fechadas%2C o acesso para quem quer registrar queixas é bloqueado por carros Osvaldo Praddo / Agência O Dia

A ronda do DIA passou também pela 39ª DP (Pavuna). Havia luz, mas os bancos para as pessoas esperarem atendimento estavam encostados à porta de vidro, impedindo a abertura, e os dois telefones não completavam as ligações.

Fernando Veloso admitiu na semana passada, à Rádio Globo, que a Corregedoria já encontrou portas fechadas em pelo menos uma delegacia de dez fiscalizadas no Centro e na Zona Sul. “E isso não pode e não vai acontecer”, disse o policial.

Procurada, a Polícia Civil alegou, em nota, que há registros de ocorrências nos dias das rondas do DIA e informou que quem não for bem atendido ou não conseguir fazer registro deve ligar para 2334-8823 ou 2334-8835 ou informar o caso no chat https://cacpcerj.pcivil.rj.gov.br.

Sindicato pede proteção da Polícia Militar

?O diretor do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), Fernando Bandeira, pediu ao secretário José Mariano Beltrame que interceda para que policiais militares ajudem a garantir a segurança das delegacias.

Bandeira disse que enviou ofício a Beltrame pedindo que a PM faça rondas no entorno das delegacias. “Dentro de uma delegacia em área de risco há, muitas vezes, presos perigosos, armas que podem ser objetos de desejo de bandidos”.

Segundo Bandeira, o déficit de pessoal na Polícia Civil é de 15 mil agentes. “Já houve ataques. É muito fácil para quem está em um gabinete menosprezar o risco que o policial passa nas delegacias de madrugada”, critica.

Delegacia sob o clima de medo

?Na madrugada do dia 27 de dezembro de 2014, agentes da 34ª DP (Bangu) fecharam a Rua Sabogi, onde fica a delegacia, com dois carros, para que nenhum veículo passasse em frente ao prédio da Polícia Civil. As luzes foram diminuídas lá dentro, e nenhum policial se arriscava a ficar no balcão.

O cenário refletia o medo que tomou todo o bairro depois de uma operação da PM na Vila Aliança na manhã anterior e uma tarde de ameaças de arrastões, boatos de bondes armados e incêndios que foram provocados em represália à ação da PM. No calçadão do bairro, um mototaxista resumiu: “A Vila Aliança é do tráfico”. E as ruas de Bangu, naquela madrugada, eram de ninguém.

Com medo de ação de traficantes%2C agentes fecharam a rua da DPOsvaldo Praddo / Arquivo / Agência O Dia


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