Por nicolas.satriano

Rio - Médicos catando o lixo em centros cirúrgicos, enfermeiras varrendo ambulatórios, professores trabalhando no almoxarifado. Para driblar o caos provocado pela crise financeira que sufoca os governos estadual e federal, profissionais e usuários de instituições de saúde e de educação lideram uma espécie de mutirão da vergonha.

Só no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, pacientes e médicos passaram o fim de semana catando sacos de resíduos hospitalares que se acumulavam pelos corredores e até na UTI Neonatal. O caos na manhã de ontem era tamanho que a direção da unidade estava recusando novos pacientes.

Enfermaria do Carlos Chagas%3A superlotação castiga pacientes em estado grave. CREMERJ identificou 62 leitos improvisados nos corredoresDivulgação

No Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, vistoria do Conselho Regional de Medicina, realizada há duas semanas, identificou superlotação, com 62 pessoas em estado grave em leitos improvisados pelos corredores, conforme imagens obtidas com exclusividade pelo DIA.

“Os funcionários da faxina pararam. Estavam sem receber e sem previsão. E o que fazer diante disso? Pelo menos passar uma vassoura, juntar o lixo. Do contrário, fica ruim para todo mundo: funcionário, médico, paciente e visitantes”, disse um médico plantonista do Rocha Faria que pediu para não ser identificado.

Comlurb

No final da tarde desta segunda-feira, após uma enxurrada de reclamações de pacientes e visitas de jornalistas, funcionários da Comlurb começaram a recolher o lixo hospitalar do Rocha Faria.

“Eu nem sei o que aconteceu. Fiquei até espantado com a sujeira”, disse o gari Roberto Ponzi, no fim da tarde.

Entre os pacientes, a sensação era de alívio passageiro. Moradora de Guaratiba, a dona de casa Joseane Soares, de 36 anos, que teve o pé direito imobilizado após uma queda no trabalho, disse que já era possível respirar dentro do hospital no final da tarde.

"Estava tudo maquiado para a imprensa. O serviço aqui é sempre caótico. Nada funciona”, reclamou a paciente.

A direção do Rocha Faria afirmou que o problema foi um fato isolado e que foi resolvido até o fim do dia.

Nem guerra é tão caótico

Corredores transformados em extensão das enfermarias. Falta de médicos, de medicamentos, equipamentos de emergência e ambulâncias sem manutenção. O caos nos hospitais estaduais é generalizado, conforme constatou inspeção do Cremerj no Carlos Chagas e no Rocha Faria.

“É um completo absurdo. Chega a ser criminoso. Nem em época de guerra se vê uma situação tão caótica como essa”, criticou o coordenador da Comissão de Fiscalização Gil Simões. O caso foi encaminhado ao Ministério Público Estadual.

A Secretaria Estadual de Saúde informou que o quadro médico no Rocha Faria está completo e que o pagamento à empresa terceirizada, cujo vencimento foi na sexta-feira, será regularizado até domingo. Segundo a direção do hospital de Campo Grande, o atendimento foi normalizado à tarde. A empresa VP Limpeza não foi localizada.

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