Por daniela.lima

Rio - Figuras fáceis em qualquer currículo escolar, nomes como Dom Pedro I, Princesa Isabel ou marechal Castelo Branco dificilmente aparecem como personagens principais nas aulas de História do professor Luiz Antonio Simas. Para ele, os protagonistas são outros. Nada de oficiais e imperadores, mas sim os sambistas, os bicheiros, as mães de santo, os escravos. "São personagens cruciais para entender a história do Rio, mas não são citados nos livros didáticos e nem nas classes escolares", explica Simas, que é colunista do DIA e leciona no Ensino Médio. Também não se limita a ensinar nas escolas: dá aulas em praças, bares e também nos prostíbulos. 

Luiz Antonio Simas%2C o professor que conta a História dos cidadãos comuns e não dos heróis oficiais %3A “Um samba é um documento%2C um gol é um fato histórico”Divulgação


Por iniciativas como estas, ele é visto como o homem que está popularizando o ensino de História na cidade. Alguns professores há anos promovem roteiros históricos pelas ruas do Rio, mas Simas faz algo diferente. Pesquisa as trajetórias de gente comum e as leva de volta ao cotidiano da população. No projeto “Ágoras Cariocas”, em parceria com o coletivo Norte Comum, ensinou em praças do Estácio, Méier, Quintino, Tijuca. Já fez isso em bares e, em agosto passado, deu aula na Vila Mimosa. "Chegamos com respeito. As prostitutas prestaram atenção", recorda.

Integrante do coletivo que produz o projeto "Ágoras", Carlos Meijueiro elogia o professor. “Ele conta em praça pública as histórias que estão fora dos livros e não cabem nas salas de aula", comenta.

Os alunos de Simas não deixam de conhecer os eventos que marcaram época, mas ele evita se limitar a isso. "Gosto mais de uma história miúda, cotidiana", define. "O cara que vai trabalhar e pega o trem em Japeri às quatro da manhã também está fazendo história”.

Fala por experiência própria. Nasceu há 47 anos no Rio, em família pobre, oriunda de Pernambuco, ligada ao samba e às religiões afro. A avó era mãe de santo, com terreiro em Nova Iguaçu. Tem bons motivos, portanto, para valorizar as tais miudezas. “Um samba é um documento, um gol é um fato histórico”, diz. 

Entre os livros e os copos de cerveja

O tempo todo, Luiz Antonio Simas mistura em sua vida a paixão pelo estudo e a atração pelo movimento das ruas, a boemia. Até mesmo nos momentos mais improváveis. Quando resolveu diminuir sua biblioteca para ceder um quarto ao filho recém-nascido, pensou no que fazer com os cerca de 500 livros. A solução foi bem ao seu estilo: vendeu as obras ao sebo e café Al Farabi, da Rua do Rosário, em troca do pagamento em cerveja. "O crédito demorou até acabar", brinca.

O professor começou a sair do convencional ao levar o cavaquinho para a sala de aula e usar sambas para ensinar sobre a Era Vargas. A gota d'água que o fez abandonar a academia foi a rejeição a seu projeto de doutorado, sobre Noel Rosa e Leônidas da Silva. "Chutei o balde”, diz.

"Acho que é um dos maiores historiadores em ação", elogia a professora Adriana Facina, do Museu Nacional (UFRJ). "Ele misturou com sucesso uma formação acadêmica sólida com a oralidade do papo de botequim".

Você pode gostar