Por nicolas.satriano

Rio - Depoimentos de médicos do Hospital Miguel Couto na 15ª DP (Gávea) são peças-chave na investigação sobre a explosão no apartamento 1.001, do Edifício Canoas, em São Conrado, segunda-feira. Eles foram os responsáveis pelo primeiro atendimento do alemão Markus Maria Muller, de 51 anos, que chegou à unidade com metade do corpo queimado.

Como O DIA publicou nesta quarta-feira com exclusividade, com marcas de facadas no peito, pescoço e nádegas, ele disse que um homem invadiu sua residência, assaltou, fez terrorismo usando uma faca e, em seguida, afirmou que explodiria tudo. A polícia tenta identificar o agressor de Muller, que está em coma induzido no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz.

As últimas inspeções no apartamento 1.001 foram feitas ontem. Peritos acreditam que o problema ocorreu com o aquecedor da cozinhaPaulo Araújo / Agência O Dia

A pedido do delegado José Alberto Pires Lage, um perito legista, do Instituto Médico-Legal (IML) esteve no Miguel Couto, mas como Markus estava enfaixado por causa das queimaduras o exame não pôde ser feito. Pelas informações hospitalares, os investigadores acreditam que os ferimentos foram provocados por faca. Os relatos levam a polícia a trabalhar com três hipóteses: assalto, tentativa de suicídio ou distúrbio emocional. Nesta quarta-feira, dois porteiros prestaram depoimento. “Ele chegou em casa de carro às 21h30, sozinho. E não subiu mais ninguém depois disso”, afirmou João Batista. Segundo Antônio Santos da Silva, o alemão não alterou o comportamento na véspera da explosão. “Não deu para desconfiar de nada”, declarou.

No entanto, um outro funcionário do condomínio ouvido nesta quarta-feira pelo DIA confirmou que Markus recebeu uma visita por volta da meia-noite. Estão sendo analisadas pela polícia imagens de 24 câmeras do edifício. Nesta quinta-feira, o RJTV, da Rede Globo, divulgou vídeo feito pelo operário Luciano Ferrari, das obras da Linha 4 do Metrô, que mostra fogo dentro do apartamento. Nele é possível ver um clarão e logo depois um foco de incêndio aparece na varanda do décimo andar.

Agentes da Defesa Civil liberaram edifício para obrasPaulo Araújo / Agência O Dia

A pedido da emissora, o perito Nelson Massini, coordenador do Laboratório de Ciências Forenses, da Uerj, analisou as imagens. “A chama está se movimentando e a única coisa que pegou fogo naquele ambiente foi ele com as vestes que usava. Podemos dizer que foi ele mesmo que saiu e circulou, veio para a varanda, voltou e sentou naquela cadeira depois da explosão”, disse o perito.

Porteiro Antônio Santos disse que viu o alemão chegar sozinhoAngélica Fernandes / Agência O Dia

Há dez anos no Rio, Alemão vive rotina discreta

O jeito reservado do alemão Markus Bernhard Maria Muller dificulta a investigação sobre o que aconteceu no apartamento 1.001 na madrugada da explosão. Ele vive no Rio há pelo menos dez anos, mas morava sozinho no apartamento de São Conrado desde maio do ano passado. Segundo moradores do condomínio, o imóvel foi alugado para ele até o fim da Copa do Mundo, mas Markus resolveu continuar morando no local após o evento.

Vizinhos descrevem o alemão como uma pessoa introvertida, que viajava muito e quase não era visto nas dependências do edifício. Era raro receber visitas no imóvel e só saía de carro.

Apesar de constar no site da Fifa como agente (empresário que negocia jogadores com clubes do exterior), no endereço que consta como sendo seu local de trabalho, no Recreio dos Bandeirantes, ninguém conhece o alemão. O escritório também não funciona no prédio comercial, com 14 lojas.

Muller teria um filho de 12 anos, fruto de um relacionamento com uma moradora da Rocinha. O garoto seria um dos motivos de ele ter conseguido — em maio de 2012 e setembro de 2014 — o direito de permanecer no país pela prole, segundo despacho dado pela coordenação de imigração da Polícia Federal.

Um dos poucos registros em seu nome, está no banco de dados da 22ª DP (Penha). Em 2010, ele relatou que seu carro, um Peugeot 207, foi roubado na Rua Coimbra, no mesmo bairro. Muller disse que foi fechado por outro veículo e abordado por um homem. O carro foi achado no dia seguinte, batido.

Moradores só podem voltar em três meses

Nesta quinta-feira a Defesa Civil desinterditou o prédio Canoas após a demolição da parede de um banheiro do apartamento 901. Agora, a responsabilidade técnica pelas obras de reestruturação é do engenheiro Antero Jorge Parahyba, contratado pelo condomínio.

O plano para restabelecer os principais serviços será elaborado até terça-feira, data da assembleia com os moradores. “Vamos traçar um plano para a recomposição de pisos e lajes que desabaram, a estruturação de janelas e o conserto dos elevadores e partes afetadas. Todo esse trabalho deve levar três meses. Antes disso, será muito difícil os moradores voltarem a habitar seus imóveis”, afirmou o engenheiro

O subsecretário de Defesa Civil, Márcio Motta, informou que a Guarda Municipal ficará no prédio para garantir a segurança dos moradores.

Volume de gás cinco vezes maior

Após a explosão, a CEG constatou que o consumo de gás no apartamento de Markus chegou a 30 metros cúbicos — o volume é cinco vezes maior do que o usado normalmente pelo alemão durante o mês.

Acredita-se que o vazamento tenha ocorrido na véspera. Seis dias antes, ao conferir a utilização do gás, a concessionária identificou que o alemão só havia usado seis metros cúbicos de gás no período de 30 dias.

O alemão se mudou para o Edifício Canoas em maio do ano passadoOsvaldo Praddo / Agência O Dia

As informações detalhadas pela empresa foram encaminhadas à Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Rio (Agenersa).

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) sustentam a hipótese de que o gás tenha saído do aquecedor da cozinha. Ontem, os agentes voltaram ao condomínio Canoa. Eles estão convencidos de que a mangueira do aparelho estava intacta. Isso leva à conclusão de que foi retirada por alguém, provocando o vazamento. Os reparos no prédio vão demorar três meses, segundo o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.

Reportagem de Adriana Cruz, Angélica Fernandes, Eduardo Ferreira, Gustavo Ribeiro, João Antônio Barros, Marcello Víctor e Vania Cunha


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