Por nicolas.satriano

O celular do alemão Markus Bernhard Muller, de 51 anos, pode ser a principal ferramenta para a polícia esclarecer o que aconteceu minutos antes da explosão que destruiu o apartamento dele — e parcialmente outros 72 imóveis — no Edifício Canoas, em São Conrado. Dois aparelhos, bastante danificados, foram localizados ontem entre os escombros do apartamento 1.001.

Investigadores da 15ª DP (Gávea) vão verificar as mensagens, fotos e ligações registradas momentos antes do acidente para refazer os últimos passos da vítima, já que ele está impossibilitado de prestar depoimento. Ontem, o diretor do Hospital Miguel Couto, Luiz Essinger, confirmou o que O DIA já havia noticiado quarta-feira: Markus contou aos médicos que o apartamento foi invadido e que suspeito provocoua explosão.

Explosão no apartamento onde morava o alemão Markus atingiu mais de 70 unidades em prédio de São Conrado%3A três foram destruídasSeverino Silva / Agência O Dia

Uma das principais suspeitas da polícia neste momento é que o celular tenha informações que possam levar ao indivíduo que esteve no apartamento de Markus na madrugada de segunda-feira. Há informações de que a visita foi autorizada a subir pelo próprio morador. Outra perícia também será feita em facas apreendidas dentro do apartamento de Markus, que podem ser as armas que provocaram as lesões em seu corpo.

O alemão continua internado no Hospital Pedro II, em Santa Cruz. Legistas conseguiram fazer ontem o exame de corpo de delito na vítima, para analisar as facadas que ele levou. Segundo verificação preliminar, dois golpes foram dados nas costas.

Nesta sexta-feira, a polícia vai receber imagens das câmeras da portaria do prédio e dos elevadores. Ao longo do dia, o síndico, o bombeiro que socorreu Markus prestaram depoimento. Dois moradores de andares superiores são aguardados na delegacia. Os agentes também aguardam informações do consulado alemão sobre o histórico da entrada e permanência do alemão no país nos últimos 10 anos. A polícia afirma que nenhum parente dele vive no Rio.

Markus era conhecido na Rocinha como o empresário do futebol. Além de contribuir financeiramente com projetos sociais, ele apresentava jovens jogadores a clubes cariocas e estrangeiros. Antes de morar no Brasil, o agente de futebol foi técnico do time de juniores da Alemanha, o Mönchengladbach. No sábado, moradores do edifício Canoas, farão uma missa pela saúde dele.

“Ele vivia pela comunidade olhando os treinos da garotada. Ele se apresentava como agente da Fifa e fazia contatos com empresas alemãs para ajudar nos projetos sociais”, contou Emerson Ferreira da Silva, que há oito anos coordena o Estrela Esporte, na localidade da Roupa Suja.

O DIA revelou invasão ao imóvel

Luiz Alexandre Essinger, diretor do Hospital Miguel Couto, onde o alemão foi internado inicialmente, relembrou ontem o relato da vítima ao ser internada. Markus disse ter sido atacado em suposto assalto. O DIA antecipou a informação quarta-feira e foi além: a vítima foi esfaqueada por um suspeito, que pode ter tido a entrada no prédio autorizada pelo próprio morador.

No hospital, antes de ser sedado, o alemão relatou aos médicos que um homem invadiu sua residência, assaltou, fez terrorismo usando uma faca. Em seguida, o suspeito alegou que explodiria tudo. De acordo com Essinger, a vítima contou que o agressor o teria obrigado a tomar uma bebida avermelhada. No entanto, apesar das informações, o médico também não descartou a hipótese do paciente ter tido um surto psicótico.

Diante da piora do estado de saúde de Markus, que teve metade do corpo queimado, moradores do Edifício Canoas vão se unir amanhã em uma missa pelo alemão. A celebração será às 11h, na Paróquia São Conrado.

Na terça-feira, ele foi transferido do Hospital Miguel Couto para o centro de queimados do Pedro II, em Santa Cruz. Lá, a vítima segue em coma induzido. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o alemão está em estado gravíssimo e corre risco de vida.

O responsável por apresentar o Rio ao alemão foi o guia turístico Carlos Santana de Souza, que virou seu amigo pessoal. “Ele veio na intenção de conhecer as favelas e descobrir talentos da bola. Markus convivia com muita gente importante do futebol, principalmente do Flamengo”, explicou Carlos.

Família rica na Alemanha

Com poucas amizades no bairro onde mora, a rotina discreta de Markus ainda é pouco conhecida nos arredores do local da explosão. Um amigo da proprietária do apartamento alugado pelo alemão revelou que ele sempre foi muito reservado e não costumava levar visitantes para casa. Mas, segundo este amigo, que preferiu não se identificar, a proprietária estava tendo problemas com o inquilino, que possuia uma dívida de quase R$ 20 mil com ela. “Ele devia aluguel há quatro meses e tinha se comprometido a pagar tudo na terça-feira, dia seguinte à explosão”, informou o amigo que preferiu não se identificar.

Na galeria comercial vizinha ao edíficio Canoas, Markus era visto raramente.“Ele só entrava aqui de passagem”, afirmou o segurança Felipe de Carvalho. Segundo o guia Carlos Santana, Markus é de família rica de Frankfurt, uma das principais cidades alemãs. “Ele tem muito dinheiro e sempre fez questão de ajudar as pessoas”, completou.

Ontem, peritos analisaram marcas de sangue nas escadas do edifício, principalmente no 9º andar.

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