Por karilayn.areias

Rio - No polo da UFRJ em Xerém, na Baixada Fluminense, as partidas de futebol ditam o ritmo das aulas. Em dia de jogo no estádio do Caxias Futebol Clube, a euforia das torcidas abafa o som que sai das salas improvisadas em contêineres. É ali, no espaço cedido pela prefeitura, que mais de 500 alunos da graduação driblam as dificuldades diárias na maior universidade federal do Brasil para conquistar o diploma em cursos de ponta como Biofísica e Nanotecnologia.

Alunos do Polo avançado da UFRJ de Xerem%2C Yury Regis%2C Jully Regina Clemente%2C Sindy Pinheiro%2C Felipe Coutinho e Heloise Martins%3A instalações provisórias atrapalham aulasCarlo Wrede / Agência O Dia

A precariedade do polo é um retrato da expansão desordenada, entre 2008 e 2013, nas instituições de ensino superior. Em cinco anos, as quatro federais do Rio_UniRio, UFRRJ (Rural), UFRJ e UFF _criaram 220 novos cursos, quase dobraram o número de funcionários _ de 16.403 para 25.039_ , e abriram 50 mil novas matrículas. Esse salto, porém, está ameaçado pelo corte de 30% dos repasses da União, que têm atrasado pagamento de terceirizados, engavetado obras e freado a assistência estudantil que atende menos da metade dos que precisam.

A argentina Sindy Piñero, de 26 anos, veio para o Brasil concluir o curso de Biotecnologia na UFRJ, em Xerém. “Se eu soubesse que teria que estudar nessas condições, não teria vindo. Fiquei impressionada com uma universidade federal nessas condições”, comentou.

A crise levou professores e técnicos a deflagrar uma greve nacional na próxima quinta-feira. O desafio é manter a qualidade do ensino para 1 milhão de estudantes nas federais no Brasil diante da redução de R$ 9,42 bilhões, na receita do Ministério da Educação.

Para o vice-presidente do sindicato dos docentes do ensino superior (Andes-RJ), Luis Acosta, o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais(Reuni), criado em 2008 pelo governo federal, se preocupou somente com quantidade. “A decisão de ampliar o acesso está correta. O problema é que o crescimento não se sustenta financeiramente. A crise está explodindo. É preciso garantir que os alunos tenham condições de estudar”, critica. A UFF aderiu à paralisação; UFRJ e UniRio decidem esta semana.

Alunos sofrem com falta de estrutura e manutenção nas unidadesCarlo Wrede / Agência O Dia

Campus de Xerém da UFRJ ainda é sonho distante

Para os alunos da UFRJ em Xerém, a tão sonhada estrutura de um campus universitário é uma ideia sempre no futuro. O poloseria inicialmente uma instalação provisória dentro do Estádio dos Tamoios, com previsão para sede própria até o primeiro semestre de 2012, mas até agora nada saiu do papel. Em dia de jogo, o banheiro usado pelos estudantes vira vestiário dos jogadores. "Não ter um lugar realmente nosso é o maior problema. Xerém é o exemplo perfeito da falta de planejamento", disse Heloíse Martins, de 21 anos, estudante de Biofísica - curso oferecido para graduação somente na UFRJ, em todo o Brasil.

No alojamento, na Ilha do Fundão, o refeitório está com as obras paradas. Na ala masculina, onde os alunos estão morando devido às obras também na ala feminina, é possível ver fios soltos pelos corredores e até paredes quebradas. O café da manhã e da tarde é servido nos halls dos andares, já que o refeitório está interditado. “A UFRJ destina muito dinheiro à assistência estudantil para ter o que temos aqui”, disse Thiago Lacerda, 28, estudante de física médica.

De acordo com o MEC, das quatro federais do Rio, a UFRJ vem em segundo lugar na ampliação de vagas, de 2008 a 2013, com 2.812. A UFF lidera, com 4.766 vagas. Ao todo, houve ampliação de 10.195 vagas.

*Colaboraram Amanda Prado e Flora Castro

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