Por nicolas.satriano

Rio - Pacificado há sete anos, o Morro Dona Marta, em Botafogo, esconde, em casas de parentes de criminosos, paióis de armas e munição. A constatação é de policiais da própria UPP que, desde dezembro, monitoram a entrada de materiais na comunidade. Ainda segundo militares, traficantes da comunidade e da vizinha Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, têm tentado levar de volta o medo aos quatro mil moradores. O capitão Márcio Rocha, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora, afirma que interromper o elo entre os dois morros é o maior desafio dos militares, atacados a tiros quinta-feira por quatro criminosos, todos já identificados. Foi o primeiro registro de disparos desde a implantação da UPP, em 2008.

Depois de sete anos sem ouvir um disparo%2C moradores do Dona Marta voltam a sentir medo e ver policiais da tropa de elite da PM%2C como o Batalhão de Choque%2C subirem o morroCarlo Wrede / Agência O Dia

“Traficantes do Dona Marta mantêm relação com a Ladeira dos Tabajaras e desde o final do ano passado guardam armas e munição aqui. Tentam estabelecer território, mas estão acuados. Na parte alta da comunidade, onde há mata e rotas de fuga, estouramos há três semanas uma casa com 11 carregadores de fuzil 7.62, munições, celulares e balanças de precisão. Acreditamos que há mais de um paiol”, garantiu Márcio Rocha, à frente da UPP desde 2011.

Ainda segundo ele, o ataque aos PMs na última quinta-feira foi uma represália à prisão de um traficante conhecido como ‘DN’, que seria um dos líderes do Tabajaras. Ele foi pego no Dona Marta ao tentar visitar parentes. “A equipe atacada é a mesma que prendeu o DN e um jovem conhecido como Talibã, de 18 anos, no domingo. Há duas semanas, ainda apreendemos um menor com participação no tráfico e acusado de agredir um policial”, explicou o comandante, acrescentando que DN teria sido o responsável por disparos feitos recentemente no Tabajaras.

Comunidade de Botafogo é o símbolo da pacificação e visitada por turistas de várias partes do mundoCarlos Monteiro / Arquivo Agência O Dia

Visitado por centenas de turistas, inclusive de outros países, o Dona Marta sofreu ontem com os reflexos do clima de tensão. Um guia turístico, que não quis se identificar, contou que foi obrigado a cancelar oito visitas de turistas à favela de Botafogo. “Quatro iriam conhecer o morro pela manhã e outros quatro à tarde, mas com a segurança posta em xeque, quem vai se arriscar?”, indagou.

Uma comerciante disse que os traficantes querem que a favela volte a ser uma zona de guerra. “Tenho medo até de falar. São garotos novos. Espero que os tiros não virem rotina”, desabafou.

Jovens tentam reimplantar o terror

Segundo policiais da UPP, o perfil dos novos traficantes do Dona Marta é de um grupo bem jovem, onde 10 suspeitos estariam à frente do ataque aos PMs e da retomada da venda de drogas. A maioria deles são da região.

Quatro criminosos já foram identificados pela polícia. Eles são conhecidos pelos apelidos de Falcão, Chimbinha, Danielzinho e Di Banana. Segundo a polícia, este último seria o chefe do bando, que passou a intimidar moradores e policiais. Muitos contaram ontem ao DIA, que quando PMs tentam patrulhar a parte alta da comunidade, bandidos dizem que vão atirar. Isso foi o que aconteceu quinta-feira, antes do ataque aos militares.

“Os policiais atacados reconheceram quatro criminosos armados. Por sorte ninguém ficou ferido. Esses criminosos conhecidos entre moradores”, comentou o capitão Rocha.

Bandido preso influencia

De acordo com policiais da UPP, os traficantes recebem ordens de Ronaldo Lima e Silva, o Ronaldo Tabajara ou R9, preso em Bangu 3. Ele é acusado de tentar estrangular o traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, em 2003. “Ele chefiava as quadrilhas do Tabajaras e do Dona Marta e os traficantes ainda usam o nome dele para ameaçar policiais”, lembrou o comandante Márcio Rocha.

Embora o clima na favela seja de apreensão, não houve conflito ontem. As tropas de elite da PM, como os batalhões de Choque e de Ações com Cães (BAC), fizeram incursão na comunidade após sete anos, e apreenderam drogas e munição na localidade Pedra Santa. O policiamento foi reforçado.

O governador Luiz Fernando Pezão disse ontem que traficantes tentam desestabilizar o processo de pacificação. “O que houve foi uma reação do tráfico. Não temos a utopia de que o tráfico acabe em qualquer lugar.

Passei a tarde reunido com o Beltrame (secretário de Segurança, José Mariano) e tudo o que precisar de ajuste nas UPPs, a gente vai fazer. Vamos botar o Bope e o Choque onde precisar. Há sete anos não tem uma morte lá”, afirmou o governador.

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