Por felipe.martins

Rio -  Três telefones e seis linhas de celulares são os amigos inseparáveis do prefeito de Japeri. Na cidade onde o sinal de telefone desconecta estudantes e isola bairros, Ivaldo Barbosa (PSD), o Timor, torce para que pelo menos uma das linhas tenha sinal e garanta a cobertura em todos os cantos do município. E nem mesmo a telefonia fixa indica sucesso na operação: por vezes a folha de pagamento dos servidores atrasa por causa das sucessivas quedas na transmissão.

A deficiência tecnológica é uma das principais carências dos seis bairros mais pobres do Rio, diagnosticada na série do DIA ‘Japeri 0,5’, e que pelo menos ganhou uma boa notícia esta semana: os 120 alunos da Escola Santo Antônio agora têm conexão com o mundo. Após quase dois anos, um provedor instalou Internet no colégio.

Somada aos constantes apagões na energia, que dificultam o serviço público e deixam comunidades sem o fornecimento legal de iluminação, a Internet ainda prejudica o posto do Detran. “As operadoras não funcionam bem em Japeri, nem na prefeitura. Meu sobrinho foi renovar a carteira de identidade e não conseguiu porque não tinha rede”, afirmou Timor, que admitiu deficiências em alguns serviços.

"Não adianta o professor passar o conteúdo e%2C ao chegar em casa%2C o pai e mãe não cobrarem do filho"%2C diz Ivaldo Barbosa%2C prefeito de JaperiFernando Souza

Outro grave problema é a carência de médicos nos bairros de difícil acesso. O prefeito assegura que oferece salário de R$ 8,3 mil para o plantão de 24 horas e, mesmo assim, não há profissionais. “Temos condições de ter um posto lá. (nos bairros Rio D’Ouro e Santo Antônio). Não consigo convencer o médico a ir para lá. Se pagasse R$ 30 mil não adiantaria”, sustenta. E quem aceita nem sempre aparece. Este mês, o pagamento da área da Saúde está suspenso até a conclusão da investigação sobre os pontos de funcionários. Desconfia que na folha constam nomes de profissionais que não trabalham.

Conhecido como Timor, político analisa principais problemas da cidade

Língua afiada para justificar a carência nos serviços e o pires na mão à espera do socorro financeiro, o prefeito Ivaldo Barbosa garante que Japeri é discriminado na hora da União e do Estado repartirem o bolo dos tributos. “O governador (Pezão) é um grande parceiro, mas sempre levamos a menor quantidade”, estocou Timor. E não livrou a cara nem do programa pacificação: “A UPP levou a desgraça para todo o Rio, não foi só para Japeri”, mandou ao ser cobrado sobre o aumento da criminalidade no município.

TRANSPORTE

Uma empresa de consultoria entrega daqui a 15 dias o estudo de viabilidade de novas linhas e itinerários de ônibus de Japeri. Será a base da licitação a ser feita pela prefeitura para melhorar o deficiente transporte de passageiros. Em alguns dos bairros com piores índices de IDH, os intervalos superam as 3 horas. Com as novas exigências, até os locais com poucos passageiros serão beneficiados. “Não interessa para as empresas carregar meia dúzias de passageiros. Mas lá tem pessoas que pagam seus tributos. Vamos exigir essa contrapartida já que ganham em outros itinerários lotados", afirmou.

SAÚDE

A falta de compromisso dos funcionários públicos foi destacado pelo prefeito como uma das causas do serviço precário na Saúde. Timor garante que fiscaliza periodicamente as unidades e, recentemente, descobriu que um médico atendia 40 crianças em 60 minutos. "Só olhava", denuncia o prefeito, que instaurou inquérito administrativo para cassar a matrícula do profissional. Ele reconheceu que alguns “médicos especialistas trabalham muito pouco”.

Com relação a maternidade, Timor afirmou que negocia a obra, através do CISBAF (Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense), com o governador Luiz Fernando Pezão. Hoje a cidade vive a curiosa situação de não ver nascer um cidadão japeriense. Já o hospital, a ideia é melhorar a policlínica e usar as unidades de emergência dos municípios vizinhos. Também está prevista a construção de uma UPA 24 horas e uma clínica da família.

EDUCAÇÃO

O prefeito de Japeri disse que má qualidade de ensino - um dos piores índices da Região Metropolitana do Rio, não é por falta de merenda. "Temos a melhor da América Latina", afirma. Ele acredita que os pais participam pouco da vida escolar dos filhos. "Não adianta o professor passar o conteúdo e, ao chegar em casa, o pai e mãe não cobrarem do filho. Não falo mal da sociedade, mas falta atenção. Nas reuniões, eles não vão". Timor lembrou que ao assumir a prefeitura, há seis anos, o salário do professor era de R$ 700 e, hoje, recebem R$ 2,2 mil - “um dos maiores vencimentos do Rio”, sustenta.

ABASTECIMENTO
Com sete mananciais de água doce - um deles o Rio Guandu, responsável pelo abastecimento de 80% da Região Metropolitana do Rio - Japeri sofre com a falta d' água. O prefeito se diz vítima do desabastecimento como o restante da população de Japeri. Instalou um poço artesiano em casa, pois na torneira a água, quando chega, tem um aspecto ruim. “Prefiro beber essa água, pois a da Cedae, quando chega vem turva e amarela, não é a mesma água que chega na Zona Sul e na Zona Oeste. Produzimos quase toda água do estado e sofremos essa discriminação", argumenta.

Em nota, a Cedae informou que está construindo um novo sistema para melhorar o abastecimento do município e integrá-lo ao grande pacote de obras previsto para a Baixada Fluminense: já está em construção em Japeri uma estação de tratamento de água que produzirá 150 l/s, orçada em R$ 27,8 milhões e com conclusão prevista para o segundo semestre de 2016.

SANEAMENTO

Com relação ao saneamento, o prefeito diz ter eliminado mais de 300 quilômetros de esgoto a céu aberto nos últimos cinco anos, mas falta ajuda do estado. Ele, inclusive, diz que na época da instalação do complexo penitenciário em Japeri, a Seap se comprometeu a sanear o bairro Santa Amélia e levar uma companhia destacada para lá. Não cumpriu. Levou dois mil homens para a região e lançou o esgoto à céu aberto. “Ganhamos do estado R$ 30 milhões de obras, quando Queimados, cidade vizinha, ganhou R$ 360 milhões e está construindo um museu e um estádio.

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