Rio - Enquanto o piso salarial dos comerciários do estado é de pouco mais de R$ 988, o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro (SEC-RJ), Otton da Costa Mata Roma, recebia R$ 40 mil por mês, quase 40 vezes mais. Em entrevista exclusiva ao DIA, ele corrigiu a informação veiculada ontem — de que ele e outros três dirigentes afastados recebiam em média R$ 46 mil — e admitiu empregar o filho Aran Carvalho de Freitas Mata Roma na entidade com salário superior a R$ 6 mil. Porém, negou que os outros 16 parentes seus —inclusive a mulher — tenham sido contratados em sua gestão e que tenha desviado R$ 99 milhões do sindicato, conforme apontou o segundo relatório da auditoria, ao qual O DIA teve acesso ontem, promovida pelo interventor judicial José Carlos Nunes dos Santos, designado pelo Ministério Público do Trabalho.
“A auditoria aponta apenas indícios e suposições. Não tem nada concreto”, sustenta Otton, que alegou ainda não ter tido direito a defesa. “Não tive acesso nem a documentos básicos. Minha carteira de trabalho e diploma de faculdade ainda estão no sindicato. Não me deixaram indicar um técnico para acompanhar a auditoria”, acusa.
Com 280 mil membros no município do Rio, sendo 3,9 mil filiados, o sindicato arrecada cerca de R$ 40 milhões por ano. Otton, no entanto, diz ter adquirido bens como um avião, um veleiro, uma casa no Recreio dos Bandeirantes e uma picape com os salários que recebia como juiz classista no Tribunal Regional do Trabalho do Rio. antes de ser eleito presidente do sindicato, em 2009.
Sem salário desde outubro de 2014, quando foi afastado da entidade, as dívidas acumularam e os resultados, diz ele, foram 20 quilos a menos e depressão. “Vivo com a ajuda da minha mãe e da sogra. Se tivesse desviado algum dinheiro estaria passando dificuldades? Estou devendo ao banco e não paguei uma prestação sequer da casa que comprei financiada em 30 anos”, contou, às lágrimas, no escritório de seu advogado André Ferreira, na Barra da Tijuca.
Sobre o suposto uso de R$ 21 mil do sindicato para custear a ida do vice-presidente Raimundo Ferreira para acompanhar a festa do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, defendeu: “Alguns diretores são devotos da santa e como pessoas físicas, têm todo direito de viajar para onde quiserem”. Evangélico há 12 anos, Otton estuda para ser pastor. “Prezo em pregar a palavra de Deus”, diz ele.