Rio - Mesmo com as cicatrizes de um ato de intolerância religiosa, a menina candomblecista Kailane Campos, de 11 anos, que foi atingida por uma pedra no último domingo, quando saia de um culto em Vila da Penha, ganhou forças para unir diferentes religiões. A menina e família reuniram-se com o arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta nesta sexta-feira e com o babalaô Ivanir dos Santos e o pastor da Primeira Igreja Batista em Vila da Penha, João de Melo, entre terça e quinta-feira, para discutir ações ecumênicas.
No encontro, o cardeal expressou solidariedade e reafirmou sua abertura ao diálogo com outras religiões. “Quando vemos que a nossa cidade começa a dar sinais de intolerância religiosa, de não mais aceitar o outro. Isso nos causa uma grande preocupação. A postura cristã é de quem acredita que nós somos criados por Deus e cada um tem a sua dignidade”, disse Dom Orani.
Presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o babalaô Ivanir dos Santos anunciou que lançará um dossiê sobre a intolerância religiosa. “Esses casos não são algo de atitude religiosa, mas são atitudes que têm haver com ódio, perseguição e, no fundo, preconceito, e sendo crime tem que ser tratado como crime”, afirmou.
Já o pastor João de Melo disse no encontro com Kailane que sua igreja repudiava qualquer tipo de violência. “Nós, batistas, sempre lutamos contra a intolerância. Domingo, às 10h, vamos participar do evento que sua família está organizando contra a intolerância e, por isso, nem haverá culto na igreja. Domingo, Jesus não estará na igreja, mas sim no evento contra intolerância na Penha”, afirmou.
Kailane, iniciada no Candomblé há quatro meses, seguia com parentes e irmãos de santo para um centro espiritualista na Vila da Penha, quando foi atingida na cabeça por uma pedra, atirada, segundo testemunhas, por um grupo de evangélicos. Ainda segundo os relatos, momentos antes, eles xingaram os adeptos da religião de matriz africana.
O caso foi registrado na 38ªDP (Brás de Pina) como lesão corporal e no artigo 20 da lei 7.716 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião). A polícia ainda tenta identificar os agressores.