Rio - Levar informações à população para mostrar que a redução da maioridade penal, ao contrário do que promete o projeto de lei aprovado pela Comissão Especial da Câmara, não terá efeitos sobre a violência. Liderando manifestações por todo o país, mas com a base principal no Rio, os jovens do coletivo ‘Amanhecer contra a Redução’ preparam uma nova estratégia para divulgar suas ideias a partir desta semana: fazer rolezinhos em espaços públicos e shoppings.
“A gente já é punido pelas dificuldades de acesso à escola e cultura”, conta Jéfferson Barbosa, um dos líderes do coletivo que reúne 200 jovens na sua organização. “Se for aprovada, a redução vai atingir pobres e pretos, pois jovem com um cigarro de maconha na favela é traficante. Já se for de classe média, vira usuário.”
Formado no Brizolão Maria José Machado (Ciep 434), em Caxias, onde mora no bairro Pantanal, o menino com espinhas na cara recém completou 18 anos. Ele defende que o Congresso dê mais tempo à sociedade para debater os efeitos da redução, e acredita na mudança do humor da população, que segundo pesquisas apoia a redução.
“No Uruguai, em um ano o movimento deles, chamado ‘No a La Baja’ (Não à Redução), reverteu pesquisas e impediu a aprovação em consulta popular”, diz. “O brasileiro apoia a redução por não ter acesso a informações. Queremos fazer isso: mostrar que pela lei atual os jovens já são punidos desde os 12 anos, inclusive com privação de liberdade.”
Ele acena com as estatísticas para defender o ponto de vista do coletivo. Segundo Jéfferson, o número de crimes cometidos por jovens entre 16 e 18 anos não chega a 1% do total ocorrido no Brasil. E que, destes, apenas 0,5% são considerados graves, como assassinatos. “Usam um número pequeno para generalizar. E vocês da mídia têm culpa nisso, pois destacam estes crimes.”
Ele acredita que a batalha contra a redução não está perdida — “do contrário não estaríamos nas ruas” —, mas já admite que a redução passará no plenário da Câmara, em votação marcada para o próximo dia 30. No Senado reside sua maior esperança — e do coletivo. “Lá, a pressão é maior, porque o número de parlamentares é reduzido (86 senadores contra 513 no Congresso). Fica mais fácil para mostrar nossos argumentos”, diz.
Para o dia da votação, eles prometem ir à Brasília em caravana para defender a manutenção da atual lei. Até lá, seguem com ações pontuais, como a que aconteceu ontem, no Largo do Machado. “A gente não é bobo, não. Precisamos ocupar os espaços públicos que dialoguem com a sociedade. Precisamos mostrar que nós, jovens, não somos perigosos.”
Reação à onda conservadora
Com jovens de várias partes da cidade, Estado e até do país, o ‘Amanhecer Contra a Redução’ começou como uma reação à agenda conservadora do Congresso, segundo Jéfferson. Hoje, diz ele, há coletivos atuantes em Salvador, Recife, Belém e Fortaleza.
“São muitos jovens, aqui no Rio mesmo, que nunca participaram antes de movimentos estudantis e que, agora, estão se indignando com esta tentativa de mudança”, diz ele. “Temos várias pautas em comum, mas o não à redução é aquela que nos uniu de verdade.”
Debate
O Vidigal será sede do segundo encontro promovido pelo DIA, nesta quinta-feira, para discutir as alternativas à redução da maioridade penal. O debate acontecerá na praça principal da favela e terá as presenças de Jorge Barbosa, raull Santiago, Raf Giglio e da juíza Cristiana Cordeiro. A entrada é livre e o evento começa às 19h30.