Por karilayn.areias

Rio - Não há uma cor que falte aos olhos de quem assiste à Quadrilha do Sampaio desfilar. O movimento do corpo de quem dança faz de cada adereço do espetáculo algo a se contemplar, e a única coisa paralisada na festa é o olhar impressionado das crianças, que ficam na frente da roda formada pela plateia no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, a Feira de São Cristóvão. Reduto da cultura nordestina, o local é palco do maior São João do Rio. São três meses intensos de festas, de junho a agosto.

Mais antigo grupo junino do Rio%2C a Quadrilha do Sampaio preserva as tradições da roça e dá show de dança em suas apresentações na feiraBruno de Lima / Agência O Dia

O ritmo que balança os vestidos rodados das dançarinas é o mesmo que faz o coração da aposentada Ângela Batista, de 60 anos, bater mais forte. “Fico toda arrepiada, olha só o meu braço. Traz saudade de casa”, disse a pernambucana, nascida em Recife, mas que veio morar no Rio com 18 anos.

Mas nem só de nordestinos o São João da Feira é feito. O carioca Rodrigo Magalhães, 34, dançava animado, acompanhando os passos da Quadrilha do Sampaio. “Sou muito fã da cultura nordestina. Sem falar da comida, né? Venho aqui sempre que posso”, comentou.

O mais tradicional e antigo grupo junino do Rio, a Quadrilha do Sampaio completa 59 anos este mês. Surgiu no bairro do Sampaio, na Zona Norte da cidade, e preserva a tradição das quadrilhas de roça em todas as suas apresentações.

Márcio Perrotta, 49, atual presidente e puxador da quadrilha, contou que cresceu sendo amamentado nos intervalos dos ensaios. “Isso aqui é a história da minha vida”, comentou. “O nosso movimento chega nos corações das pessoas, e isso não dá para explicar”, completou o dançarino.

A mãe de Márcio, Carmem Perrotta, fundadora da Quadrilha do Sampaio, conheceu o marido no grupo. Ela morreu em 2011, mas deixou um legado que entusiasma o filho em cada apresentação. “Quando estou no palco, penso no que minha mãe viveu. É que eu preciso disso aqui para existir”, contou.

O amor pela cultura popular uniu cada um dos integrantes da Quadrilha do Sampaio. A dançarina Danielle Castro, 36, contou que nem o calor da roupa desanima o embalo. “Primeiro que a roupa é linda. E segundo que todo mundo que está aqui faz isso porque gosta de cultura popular. Não importa se a roupa esquenta, se machuca. O que importa é brincar e se divertir”, disse.

Três meses de festa e 250 atrações

Uma maquete que retrata o interior do Nordeste, com casas de taipa e quadrilhas, é a novidade para o São João de 2015. A miniatura chama a atenção de quem visita a sala do Museu Luiz Gonzaga, no pavilhão. “Estou impressionado com os detalhes. É igualzinho ao meu lugar”, disse o cearense Francisco Gleison, 25, que vive no Rio há cinco anos.

Os artistas responsáveis pela obra são baianos de Vitória da Conquista, e a exposição é realizada pela primeira vez no Rio. “Nossa proposta é o resgate da cultura nordestina, uma forma de representar o que pesquisamos”, disse Victória Vieira, uma das idealizadoras do projeto “Memorial do Forró”.

As tradicionais festas de São João na Feira de São Cristóvão começaram dia 5 e vão até 30 de agosto. A expectativa dos organizadores é que mais de um milhão de pessoas passem pelo Centro Cultural nos três meses, que funciona nos finais de semana 24 horas e reunirá mais de 250 atrações nos dias de festa.

*Reportagem de Amanda Prado

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