Por adriano.araujo

Rio - ‘Aqui está a juventude que não tem vergonha de se dizer de direita”, exclamou o vereador Eduardo Moura, do PSC, em um dos discursos de abertura do primeiro Fórum Carioca de Debates Jovens, na quinta-feira, na Câmara dos Vereadores. A resposta da plateia, majoritariamente homens de até 30 anos, variou de aplausos entusiasmados, de quem se identificou, e caretas de reprovação de quem não se sentiu representado por parlamentares da família Bolsonaro no evento.

União entre os simpatizantes de DEM, PSDB, PSC e PSD, só na hora de criticar o governo federal, defender a redução da maioridade penal e denunciar uma suposta doutrinação ideológica nas escolas e universidades.

Os alvos foram variados: o PT; a presidenta Dilma Rousseff; o teórico da Educação Paulo Freire; o filósofo Karl Marx; e defensores dos direitos humanos. Os ícones também diferiram para cada grupo de jovens: os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) e o economista Rodrigo Constantino foram referências para endossar argumentos.

Cerca de cem jovens filiados ao PSDB%2C DEM%2C PSD e PSC participaram de debate na Câmara de Vereadores para discutir%2C entre outros temas%2C a redução da maioridade penalUanderson Fernandes / Agência O Dia

Na abertura, o convidado para falar sobre maioridade penal foi o professor de Economia Política da UFRJ Bernardo Santoro. Ele foi responsável pelo programa econômico do ex-presidenciável Pastor Everaldo (PSC), que prometeu “privatizar tudo, até a Petrobras” na campanha eleitoral em 2014.

Apresentado como “especialista”, Santoro fugiu dos dados estatísticos para criticar “as coisas que a esquerda vende sobre o tema”. Contou, por exemplo, a história de quando sua casa foi invadia por um menor com uma faca. “Avisei a polícia que, se ninguém aparecesse, eu iria matar o garoto. Logo chegaram, mas, depois, jogaram ele na rua de novo”, relatou, antes de ser ovacionado.

“Alguns aqui já me conhecem como o Batman das manifestações”, iniciou Eron Melo, o herói dos quadrinhos que se autointitula símbolo dos protestos desde junho de 2013. Rejeitado por movimentos sociais à época, ele guinou à direita nas eleições do ano passado.

Em 2015, passou a participar de grupos que defendem a intervenção militar e organizaram manifestações pró-impeachment de Dilma. “Nós somos a maioria. Não tem problema se não reduzir a violência, nós queremos a satisfação da justiça”, gritou Eron ao microfone, sem fantasia, mas com uma camisa com o símbolo do Batman, para não sair totalmente do personagem.

Única voz dissonante, Matheus Sisnande, do PTC, disse que a Educação e um sistema penitenciário mais humano vão resolver os problemas”. “Sou fã dos Bolsonaro, mas nesse tema da maioridade penal, eu penso assim.”

PSDB e PSD rejeitam o rótulo

?Quando o vereador Eduardo Moura se referiu às juventudes partidárias do evento como “de direita”, a do PSDB torceu o nariz imediatamente. Tanto que alguns preferiram acompanhar o debate a distância, sem prestar muita atenção aos temas tratados no Salão Nobre da Câmara.

“Primeiro, é necessário deixar claro que nós não somos de direita. Nós somos de centro-esquerda. Somos sociais- democratas. Todos os vermelhos são de extrema-esquerda”, definiu Alberto Szafran, 22, presidente da juventude tucana no Estado do Rio.

Acompanhado por outros integrantes da legenda, do lado de fora do Salão Nobre, eles foram unânimes em dizer que ícones da direita como o deputado federal Jair Bolsonaro não os representam, mas “precisam ser respeitados”.

Presidente da juventude do PSD do Rio, Rafael Ponzi, 31, tem opinião semelhante. “Direita... É uma coisa meio complicada. Não concordo com extremismos. Isso precisa ser trabalhado no PSD”, disse.

Da esquerda para direita%3A Édipo Ázaro (PSC)%2CEliseu Kessler (vereador do PSD)%2C Rafael Ponzi (PSD)%2C Antônio Mariano (DEM) e Alexandre Rinaldi (PSDB)Uanderson Fernandes / Agência O Dia

?Crescimento maior foi de tucanos

Presente em massa ao fórum de jovens, a juventude tucana era a mais numerosa do evento. Segundo simpatizantes do PSDB, o crescimento de adeptos da sigla foi impulsionado pelo forte momento antipetista.

Nos outros partidos organizadores do debate (PSC, PSD e DEM), o total de jovens de cada grupo não ultrapassa 50 pessoas. Se os filiados mais velhos não temem ser identificados com a direita e pregam abertamente, em algumas ocasiões, o ódio ao governo petista, os mais novos refutam qualquer tipo de violência com motivos ideológicos. “A juventude se interessa por política com espírito de mais diálogo. Política é isso. Quem parte para o radicalismo, seja de um lado ou de outro, não gosta do assunto como deveria fazer”, argumentou Antônio Mariano, da juventude do DEM.

PSC: a favor da família e de Feliciano

Cabe a Édipo Ázaro, 27, a tarefa de organizar a juventude cristã no Rio de Janeiro. Há pouco tempo no PSC, ele pediu permissão para criar um grupo de jovens que, em suas palavras, defende o “conservadorismo, os valores cristãos e a família tradicional, formada por homem e mulher”.

Atualmente, são cerca de 20 pessoas atuantes. “Não tenho nada contra homossexuais. Está na Constituição, e nós somos conservadores, que família é homem e mulher. Mudar isso não pode ser feito de uma hora para outra”, afirmou Édipo, momentos antes de Bernardo Santoro, professor da UFRJ, entrar na conversa.

Ambos se disseram cristãos e argumentaram que a união entre duas pessoas do mesmo sexo não deve ser chamada de casamento. E defenderam o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) que, entre outras posições polêmicas, defende a ‘cura gay’.

“Ele é hostilizado e acha que a conduta homossexual não é boa para o ser humano. Tem que polarizar o debate, se não só é atacado”, disse Santoro.

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