Por felipe.martins

Rio - Integrantes da quadrilha do Complexo da Maré, chefiada pelo traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, receberam instrução de como usar armas do então terceiro sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Arlen Santos da Silva, de 43 anos. É o que aponta o Inquérito Policial Militar que apura o vazamento de informações por parte do PM sobre operações na favela. Segundo o documento, o militar ainda levou um dos traficantes do bando de Menor P ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), em Sulacap, onde compraram roupas e acessórios de uso exclusivo do Bope. E foi para lá que Arlen foi transferido após as investigações, enquanto aguarda a conclusão do Conselho de Disciplina, que vai julgar a sua permanência na corporação.

O sargento Arlen falou com traficantes sorbe as fardas vendidas no Cfap%2C onde agora está lotadoDivulgação

As investigações afirmam que Arlen agiu junto à quadrilha de Menor P entre agosto e dezembro de 2012. Chefe da facção Terceiro Comando Puro (TCP), o bandido foi preso em março do ano passado pela Polícia Federal, quando era um dos traficantes mais procurados do Rio. Os homens de confiança de Menor P também seriam os parceiros de Arlen no crime. Ronaldo Fonseca de Araújo Junior, o R 10, é apontado como o elo entre o chefão e o policial. Já Ericson Fernandes da Silva, o Leitão, seria o responsável por pagar a propina ao ex-caveira.

Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça comprovam que os três se falavam com frequência, às vésperas de operações na favela, como mostrou a revista ‘Veja’. Em 30 de novembro de 2012, às 15h04, Leitão fala com Ronaldo sobre a ida dele com Arlen ao Cfap. O PM usa o telefone de Leitão para falar com Ronaldo sobre o modelo de calça e preço. Às 16h19, o bandido conta que comprou roupa, colete, coturnos e afirma: “O Arlen é o cara mais engraçado da Terra.”

PM avisava a quadrilha até que estava grampeado pela polícia

As investigações sobre os desvios de conduta de Arlen começaram em agosto de 2012. Mas o sigilo durou pouco. Três meses depois, o militar descobriu que estava sendo monitorado. Em gravações telefônicas autorizadas pela 11ª Vara Criminal, ele deu o alerta ao traficante Ronaldo Fonseca de Araújo Júnior, o R10. “Pede ao Leitão para não falar nada no nextel. Tá geral no grampo e ele fala m... demais”, afirmou em um dos trechos. Leitão trata-se de Erison Fernandes da Silva, outro aliado do militar.

Segundo o Inquérito Policial Militar, há informações de que Marcelo dos Santos das Dores, o Menor P, foi o responsável pelos assassinatos de R10 e da mulher dele, Magda Graziela Almeida Silva. Porém, o próprio R10 não titubeava em elogiar Arlen em nome do chefão do pó. “Ele se amarra na sua porque você sempre dá o toque certo. Ajuda ele que ele vai te fortalecer”, afirmou o criminoso a Arlen, antes de ser executado, como flagrou gravações telefônicas.

Arlen fazia questão de orientar o bando de como escapar de flagrantes, deixando armamentos para trás. Quando apreendidas pela equipe de Arlen, parte das armas era revendida.

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