Por felipe.martins

Rio - Os policiais militares Ricardo Vagner Gomes e Allande Lima Monteiro foram indiciados pela Delegacia de Homicídios pelos crimes de homicídio e fraude. Os PMs são suspeitos de matar o adolescente Alan Souza Lima, de 15 anos - e atingir Chauam Jambre Cezário, 17 -, em operação na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, no dia 20 de fevereiro. A DH pediu à Justiça a prisão preventiva dos agentes. 

Os jovens chegaram a filmar parte da operação da PM na comunidade, até o momento em que foram atingidos. Chauan levou um tiro no peito, mas conseguiu sobreviver. No dia, a PM alegou que os jovens estavam no meio do confronto e acabaram sendo baleados. No entanto, o vídeo gravado por eles e os próprios relatos das testemunhas desmentem a versão dos policiais.

As imagens gravadas no celular de Alan mostram os seus dois amigos em uma bicicleta e o momento em que eles ouvem tiros e começam a correr. A gravação chegou a registrar ainda eles caídos no chão, depois de serem baleados, e os gemidos das vítimas.

Ricardo perderá o porte de arma%2C a carteira funcional e vai responder por forjar apreensão de pistolaCarlo Wrede / Agência O Dia

"Nasci de novo. O maior presente que eu ganhei é a vida. Sobrevivi a um tiro próximo do coração. Marquei de chamar os amigos para comemorar num sítio meu aniversário", disse Chauan.

PMs podem ser expulsos, diz Beltrame

O secretário Estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que os policiais envolvidos diretamente na operação policial na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, que terminou com Alan Souza Lima, de 15 anos, morto e Chauan Jambre Cezário, 19 anos, baleado no peito, podem ser expulsos.

Segundo Beltrame, diante das imagens gravadas pelo jovem antes de morrer e relatos de testemunhas, a única opção seria a expulsão dos envolvidos. "Possívelmente serão expulsos. As fotos são fotos bastantes ilustrativas e eu acho que não restaria outra alternativa senão a rua", sentenciou.

Inquérito militar culpa PM por morte de adolescente

O Inquérito Policial Militar, encerrado há duas semanas, concluiu que o sargento Ricardo Vagner Gomes, do 9º BPM (Rocha Miranda), foi o principal culpado pelo assassinato de Allan de Souza Lima, de 15 anos, no final da noite do dia 20 de fevereiro deste ano, na Favela Palmeirinha, em Honório Gurgel. Na ocasião, toda a ação foi filmada com o celular do próprio Allan, que, agonizando, manteve o aparelho ligado.

Ricardo, além de perder o porte de arma e a carteira funcional, também responderá por ter, conforme o IPM, forjado a apreensão de uma pistola 380 e um revólver 38, “entre cinco e dez metros” de onde os dois jovens foram alvejados; por ter mentido ao prestar contas do número de balas que disparou naquela noite (11 projéteis de fuzil 556, ao invés de cinco, declarados pelo sargento na Ficha de Consumo de Munições); e por não ter dito a verdade ao prestar esclarecimentos durante o inquérito, alegando que teria reagido a supostos disparos feitos por traficantes.

Prevaricação

Segundo o boletim interno, de número 112, outros quatro PMs — três do mesmo batalhão e um do 2º BPM (Botafogo) —, dos nove envolvidos no caso, também serão submetidos ao mesmo conselho, por terem prevaricado, omitido e distorcido informações sobre o fato, descumprido ordem superior e feito incursão na comunidade, mesmo sem permissão, e acobertado as atitudes de Ricardo. São eles: o tenente Paulo Rodolpho Batista de Oliveira; o cabo Carlos Eduardo Domingues Alves, e os soldados Luis Gustavo Rodrigues Antunes e Allan de Lima Monteiro. As investigações ao longo do inquérito foram baseadas em imagens de viaturas, do celular da vítima fatal, e depoimento de testemunhas.

Jovem mostra curativo de ferimento provocado por bala em dia de operação da PM na PalmeirinhaSeverino Silva / Agência O Dia

“Com sua ação açodada, imprudente e não autorizada (referindo-se ao sargento), inobservando determinação clara e precisa para somente basear a viatura ao invés de incursioná-la, deu azo (chance) para que uma fração da equipe, em suposto confronto, viesse a lesionar fatalmente Alan e ferir Chauam. Sendo certo que ambos não portavam armas e nem drogas e muito menos houve disparos contra a viatura”, diz trecho do relatório, que classifica do episódio como Ação desastrosa.

Câmeras nas viaturas filmaram ação

O procedimento instaurado para apurar responsabilidades no caso constatou que a ação que culminou com a morte contou com um veículo blindado, e duas viaturas com câmeras. Os dispositivos flagraram o momento em que o sargento Ricardo, único a confessar que efetuou disparos, após levar as vítimas para o hospital, apareceu com uma pistola nas mãos e recebeu um revólver do cabo Carlos Eduardo Domingues Alves, que sustentou ter ouvido supostos tiros contra viaturas.

Os integrantes do IPM afirmam que as imagens mostram Ricardo, ao juntar as duas armas “para proveito próprio”, entregou-as ao soldado Allan de Lima Monteiro, dizendo: “Segura aqui Monteiro. Vê se tá na câmara. Tira. Esfria essas armas aí” (sic.). Conforme especialista, no jargão policial, o tambor do revólver e ao pente da pistola, não deveriam conter balas, para impedir possíveis confrontos balísticos posteriormente. Outros PMs disseram não terem presenciado o encontro de armas no local do crime.

Ricardo tem, em suas fichas Disciplinar e Judiciária, anotações referentes a processos, averiguações, e punição disciplinar, “por ter descumprindo normas pertinentes à preservação de locais e por prestação de declarações dúbias em juízo e em sede de IPM.”


Você pode gostar