Rio - Em tempos de crise e falta de dinheiro, religiosos apelam para tudo. Orações, promessas, simpatias, novenas e até mesmo oferendas em portas de bancos, por que não? Há quase um mês, a funcionária pública Luciana Vasconcelos, 45 anos, teve duas surpresas. Ao precisar sacar dinheiro num caixa eletrônico na Rua Humaitá, num dos bancos onde é cliente, Luciana deu de cara com um despacho em frente à porta giratória. Preferiu voltar para casa sem o dinheiro do táxi. “Voltei de ônibus mesmo. Não acreditei quando vi as oferendas na porta do banco”, afirmou.
O que ela não poderia imaginar é que, poucos dias depois, quando precisou ir à outra agência, desta vez na Rua Siqueira Campos, em Copacabana, esbarraria mais uma vez com um despacho.
Os trabalhos seriam uma forma de agradar a divindades próximo a locais onde circula bastante dinheiro. A intenção é atrair bons fluídos para a vida financeira.
O empresário Alvim Graças na última quinta-feira acordou cedo e, como de praxe, foi sacar dinheiro no banco em que tem conta em Jacarepaguá. Para sua surpresa, encontrou uma abóbora com uns quiabos bem em cima do caixa eletrônico. “Fiquei na dúvida se era macumba ou se algum cliente resolveu deixar um camarão na moranga de presente para o gerente”, brinca.
Oferendas são conhecidas
Há quem jure de pé junto que esse tipo de situação não é raridade. “É bastante comum esta oferenda nas portas dos bancos”, garante o gerente da agência do Santander, que funciona dentro do prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro, na Cidade Nova, Antônio Paulo Alencar.
O gerente conta que na agência da prefeitura isso nunca aconteceu. “Aqui é mais difícil talvez por conta dos seguranças, pois o prédio fica fechado durante a noite e é vigiado”. Mas ele admite que quando trabalhava em outras agências que ficavam na beira de rua, cansou de chegar de manhã e encontrar cestas com frutas, balas, velas e flores. “Eu chamava e pedia logo ao pessoal da limpeza para levar o despacho para longe. Bicho morto nunca vi, graças a Deus.”
Antônio Paulo diz que foi criado sob os preceitos da religião católica, mas que sempre respeitou todas as religiões. “Nunca tive o menor preconceito com qualquer crença. Sou católico por criação, mas também já fui a centros espíritas e conheço um pouco da Bíblia, como todo bom brasileiro”, diz.
Pais de santos divergem
Para o babalorixá Pai Jair de Ogum, esse é o tipo de coisa que não tem ligação com qualquer segmento espiritual. “Não é umbanda, não é candomblé, não é doutrina nenhuma. Isso é, desespero.” Ele diz que não há nenhum líder espiritual sério que oriente seus fiéis a arriarem obrigação em porta de banco. “Nunca me pediram isso. Sabem que sou sério”, comenta.
Mas há quem faça. Pai Sérgio de Ogum, por exemplo, diz que o trabalho serve para melhorar a vida financeira das pessoas. “É uma oferenda para Odum Abará, um santo muito velho, que ajuda quem está sem dinheiro.”
Procurada, a Comlurb explicou que quando há esse tipo de ocorrência, os garis recolhem normalmente, muito embora as oferendas religiosas encontradas no Alto da Boa Vista sejam recolhidas por um gari que é pai de santo.